Muitos personagens criados pelo escritor Machado de Assis tornaram-se enigmas para os leitores brasileiros. Há bem mais de um século debate-se Bentinho e Capitu, de Dom Casmurro, ou Brás Cubas, além de inúmeros de seus demais livros, ou mesmo dos contos. Mas tão enigma é o próprio autor, a ponto de poucas vezes alguém efetivamente ter se ocupado dele em esforço biográfico aprofundado.
Por esse contexto, é ainda mais instigante que o jornalista C.S. Soares, especializado em literatura clássica nacional, tenha se colocado tal tarefa.

Os primeiros resultados dessa empreitada chegam agora às livrarias, na forma da biografia Machado: o filho do inverno, volume 1, pela editora Ação, em 640 páginas (a R$ 129,90). Só pelo alcance dessa primeira incursão, já se pode ver que o autor insistiu no levantamento das mais variadas informações da vida de Machado, e ocupa-se em especial do fato de o célebre escritor ser negro, em uma sociedade ainda excludente em relação aos negros.

Como o autor da biografia frisa, o intento foi justamente restituir o criador de obras-primas da literatura mundial à sua cor, à sua história. O primeiro volume acompanha os primeiros 40 anos de Machado, da infância no Morro do Livramento à publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas.
Em sua estreia como biógrafo, C.S. Soares preenche uma lacuna que perdura por décadas, a que busca situar um dos maiores autores de todos os tempos na literatura mundial em seu verdadeiro lugar de superação, de virtuosismo, de inserção na sociedade de seu tempo, e não descaracterizado por conveniências do sistema.

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