Reencontrar pessoas que em algum tempo ou espaço a vida colocou no mesmo palco quase sempre é motivo de alegria e gratidão. Há profissões, por exemplo, que propiciam inúmeros contatos, às vezes transitórios, às vezes longos e definitivos. Um médico atende um paciente por vez, um professor pode se deparar com dezenas ou centenas de alunos a cada semana várias vezes por ano ou até por anos seguidos. Neste caso, as relações em geral ficam seladas para sempre.
Atuei como professor em torno de 50 anos. Tive milhares de alunos, felizmente com poucos desencontros ou conflitos. A maioria sempre compreendeu que as minhas exigências não eram caprichos pessoais, mas se destinavam à história que cada um viria a construir. Se fazia escrever bastante, não era para ter ocupação aos domingos ou noites adentro. E eu lia o que me entregavam. Não me submetia à inútil prática do “Visto” ao final do trabalho que sequer recebera minha atenção.
Um dos momentos mais gratificantes é reencontrar quem já foi meu aluno. São milhares espalhados numa longa régua do tempo. Alguns vêm dos primeiros anos de magistério, outros do meio do caminho, outros ainda do ocaso da carreira. Até guardo muitos nomes, e até fisionomias, porém a passagem do tempo, os distanciamentos de toda ordem não autorizam um repentino reconhecimento. E isso me deixa desconfortável. O aluno vem com sorriso aberto, braços estendidos, logo desfilando doces lembranças, e eu não lembro quem é ou não recordo seu nome.
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Se a nossa relação era tão boa, a ponto de permanecer viva em sua memória, eu não poderia fracassar nessa reconstituição. Eles eram milhares, eu apenas um. É mais fácil milhares guardarem um do que um guardar milhares. Daí vem o meu pedido: diga logo quem você é para assim reavivarmos o tempo em que éramos felizes juntos. Meu nome é Joana, fui tua aluna no curso de Administração em 1992, nossa sala ficava no bloco tal da Universidade, perto da secretaria. Aí eu sempre pergunto o nome de alguns colegas e logo consigo reativar o tempo e o espaço de nossa convivência.
Acontece igualmente de alguns se retraírem, talvez supondo um impossível diálogo, assumindo um distanciamento que impede a recordação de importantes capítulos de nossa vida em comum. De muitos, conheço a história, o status presente. De outros tantos, nunca mais soube nada e, quando falam, me alegro com seu currículo exitoso. Por outro lado, me solidarizo por eventuais insucessos de alguns, desejando que concretizem seus projetos de um novo recomeço.
Surpresas boas nos fazem bem. Tempo atrás, caminhando por um bairro de nossa cidade, vi um homem sentado na calçada na frente de um bar. Quando me aproximei, foi logo dizendo: Boa tarde, professor Elenor, como vai? Parecia que nunca o tinha visto antes, no entanto ele foi logo me situando: meu nome é tal e fui teu aluno no Colégio Santa Cruz. Fazia mais de quarenta anos e nunca mais o encontrara. E não lembrou apenas o meu nome, mas citou todos os seus demais professores daquele tempo. Cena para guardar pelo resto da vida. E sem preço.
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Como é véspera do Dia do Professor, cumprimento todos esses profissionais, desejando que encontrem sentido e realização na sua trajetória. Que sejam felizes pelo reconhecimento, mas também por receberem salários justos pelo seu trabalho.
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