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ROSE ROMERO

Ele não come frutos do mar

– Comprei um kit para fazer paella.

– Paella é aquela coisa com frutos do mar?

– Nem sempre. Mas a que vou fazer, é. Tem camarão, lula, polvo e mexilhão.

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– Eu não como frutos do mar.

– Desde quando?

– Nunca comi. Não gosto.

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– Como tu sabe que não gosta se nunca provou?

– Não preciso provar para saber que não gosto.

– Que estranho. Estamos juntos há seis anos e só agora fico sabendo disso.

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– Não sei de onde tu tiraste que eu como…

– Como eu saberia se tu nunca falou?

– (Silêncio).

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– O que mais eu não sei? O que mais tu não me contas?

– Para com isso…

– Tu já mentiste para mim? Tu já me traíste, Ernesto?

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– Bah. Que bobagem.

– Não acho bobagem. Se desconhecia tua aversão a frutos do mar, começo a pensar que desconheço coisa muito pior.

– (Silêncio).

– Por que tu não fala nada?

– Mas o que tu queres que eu diga?

– A verdade, Ernesto, só a verdade.

– Mas a verdade sobre o quê?

– Sobre tudo, ora. Não deveria haver segredos entre nós.

– (Silêncio).

– Deixar de dizer também é mentir, Ernesto. Calar também é consentir.

– (Silêncio).

– Aliás, fazer sem querer também é um tipo de mentira. Quanta coisa nesses seis anos tu fez sem querer, só para não criar caso?

– (Silêncio).

– Responde, Ernesto. Eu estou falando contigo.

– Mas responder o quê? Essa conversa não vai levar a lugar algum…

– Então é assim? Descubro que não conheço o homem que mora comigo e deixo por isso mesmo?

– Tu está ficando louca.

– Ah, a reação masculina clássica: ela é louca.

– Mas também… era apenas uma conversa sobre comida.

– Era. Agora não é mais.

– Mas eu não disse nada…

– Aí que está o problema, Ernesto. Tu nunca diz nada.

– (Silêncio).

– Estou chateada. Bem chateada.

– Acho que tu está exagerando.

– Freud tinha razão. A felicidade é sempre parcial. A infelicidade ordinária é o nosso destino.

– Freud? Fala sério. O que está acontecendo?

– Melhor ficar quieto, Ernesto.

– Não era para eu falar?

– Era, mas agora não precisa mais.

– (Silêncio).

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