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SANTA CRUZ

ENTREVISTA: “O Executivo é muito mais desgastante”, diz Kelly Moraes

Foto: Lula Helfer

Nos últimos 20 anos, Kelly teve mandatos de deputada federal e estadual, de vereadora e de prefeita de Santa Cruz do Sul

Kelly Moraes trilhou um caminho incomum na política. Enquanto a maior parte das lideranças dá os primeiros passos em âmbito municipal para depois se lançar em voos estaduais ou nacionais, a sua primeira conquista nas urnas foi um mandato na Câmara Federal, em 2002, embalada pelo apoio de seu então marido, Sérgio Moraes, e pela experiência como primeira-dama em Santa Cruz. Depois seguiu o trajeto inverso, elegendo-se deputada estadual em 2006 e prefeita em 2008, sempre pelo PTB.

Na Prefeitura, Kelly se valeu de um dos momentos mais prósperos da economia brasileira e apostou na captação de recursos federais para viabilizar uma série de investimentos em infraestrutura. Por outro lado, enfrentou uma greve do funcionalismo em 2011 e um intenso desgaste gerado pela decisão de abrir possibilidade à iniciativa privada para assumir a gestão dos serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto. A essa polêmica, inclusive, ela atribui parte da responsabilidade pela derrota em 2012, quando não conseguiu obter a reeleição.

Em 2016 conquistou um mandato de vereadora, que foi abreviado após sua eleição para deputada estadual em 2018. Embora tenha sido cotada para disputar novamente o Palacinho este ano, abriu mão de concorrer em nome de Mathias Bertram (PTB).

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GAZETA ENTREVISTA
Kelly Moraes (PTB)

Ex-prefeita

A senhora iniciou a atuação política como primeira-dama. De que forma surgiu a ideia de concorrer a prefeita?
Eu fiz o processo inverso de todo político. Primeiro fui deputada federal, depois deputada estadual e depois prefeita. Comecei com o Sérgio, quando ele era vereador, ajudando as comunidades dos bairros, depois atuei como secretária nos dois mandatos dele de prefeito, e aí dei um salto quando me elegi deputada na primeira vez que concorri. Isso me deu as credenciais para concorrer a prefeita. Eu tinha o aval e o apoio do Sérgio, mas me sentia segura para disputar.

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O próprio Sérgio, quando terminou o segundo mandato, disse que nunca voltaria à Prefeitura porque é muito difícil. A ideia de ser prefeita a assustava?
Não é que assuste, mas claro que eu sabia da responsabilidade que é. Até porque eu sabia que tinha grande possibilidade de vencer a eleição, pelo trabalho que vínhamos fazendo. Hoje, com a experiência que tenho, posso dizer que, realmente, o Executivo é muito mais desgastante. Mas, ao mesmo tempo, ele permite realizar mais.

Em 2008, a expectativa era de que a senhora concorresse contra o então prefeito José Alberto Wenzel, mas tudo mudou com a renúncia dele meses antes da votação. Como a senhora recebeu aquilo?
Foi uma surpresa para todos a renúncia. Mas eu estava preparada porque havia decidido ser candidata e queria ser prefeita, então não me assustei. Acabou sendo uma eleição com três mulheres concorrendo (Kelly, Helena Hermany e Eliana Giehl).

Por falar nisso, a senhora tem o feito histórico de ser até hoje a única mulher eleita prefeita. Ser mulher dificultou em alguma coisa a sua missão na Prefeitura?
O mundo político é dominado por homens, embora já tenha melhorado um pouco. Não vou dizer que sofri preconceito, mas enfrentei alguns desafios. Recordo que, na primeira vez que fui ao setor de Obras, que é um ambiente bem masculino, foi um pouco surpreendente, senti alguns olhares. Mas nunca fui desrespeitada. Acontece que, como fui a primeira eleita, o funcionalismo não estava acostumado a trabalhar com uma mulher à frente, então no início havia os que diziam: ‘Ah, ela é mulher, será que vai ter condições de tocar? Essa mulher vai ter que mandar na gente?’. Senti a mesma coisa em Brasília. Quando eu estava lá, entre 513 deputados, nós éramos 47 mulheres.

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O que é mais difícil em ser prefeita?
O que mais senti foi a burocracia. Eu consegui mais de R$ 100 milhões do governo federal para investimentos em pavimentação, habitação, saúde. Mas tirar do papel foi difícil. Tivemos que criar uma secretaria para gerenciar esses recursos. Eu sentia uma angústia porque queria entregar mais obras, mas a burocracia não colaborava, tanto que boa parte ficou para o governo seguinte entregar. Foram muitas idas e vindas a Brasília, aí os projetos voltavam porque tinha que acrescentar isso, acrescentar aquilo.

Pois é, a senhora foi favorecida por ter sido um momento em que havia muitos recursos federais disponíveis para os municípios, não?
Exatamente. Mas foram poucos os municípios que tiveram o mesmo êxito que nós na captação desses recursos. O nosso projeto habitacional foi um dos maiores do Estado. Foi bastante trabalhoso. No primeiro ano, tivemos alguma dificuldade, até porque também enfrentamos outros problemas, como a febre amarela e a H1N1. A partir do segundo ano, as coisas começaram a andar.

O que mais orgulha a senhora na sua gestão?
Olha, consegui deixar uma UPA, sete postos de saúde e mais de 900 lotes habitacionais, além de várias outras coisas. Então, saí tranquilo porque consegui cumprir as metas que tínhamos estabelecido.

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A senhora enfrentou uma greve de servidores em 2011. Foi um dos momentos mais difíceis da gestão?
Não diria que foi difícil, porque sempre entendi aquela greve como injusta. Nós sempre tivemos diálogo com o funcionalismo e nunca deixei de dar a reposição da inflação e um aumento real. Foi um momento ruim, me senti triste, porque o governo não estava em dívida com o funcionalismo. Naquele ano, eu dei 11% de aumento e mesmo assim teve uma greve.

A discussão sobre o saneamento marcou muito a reta final da sua gestão. Que leitura a senhora faz daquele episódio hoje?
O saneamento estava um caos quando nós assumimos. Tomamos a decisão de fazer a licitação e aí começaram a dizer que nós estávamos vendendo a água, e isso pegou. Foi um desgaste muito grande, teve muitas idas e vindas. A Corsan chegou a vencer a licitação, mas depois o governo seguinte revogou a licitação e fez um contrato direto, que não está sendo cumprido. Hoje, quando eu ando nas ruas, algumas pessoas dizem que eu estava certa.

O que a senhora faria diferente se retornasse à Prefeitura?

Fazer diferente, acho que nada. Quem trabalhou comigo sabe que sou tranquila, tanto que entramos e saímos com a mesma coligação, e nunca prometi nada que não pudesse cumprir. Às vezes, as pessoas até saíam tristes porque eu era sincera e dizia que não tinha como atendê-las. A única coisa que faria diferente é tentar fazer mais e melhor.

E o que consideras que deu errado em 2012, quando não conseguiu se reeleger?
A questão da Corsan pesou muito. Acho que pecamos um pouco em não explicar para a população o que estava acontecendo. Faltou comunicação nesse sentido.

E a senhora considera tentar voltar um dia ou isso é passado?

Até foi cogitado que eu concorresse, mas desde o início eu disse que iria cumprir meu mandato de deputada e tínhamos que deixar um pouco os Moraes de fora. Mas claro que na política tudo é muito dinâmico. Não posso dizer que não vou concorrer no futuro.

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Quem a senhora acha que foi o melhor prefeito que Santa Cruz do Sul já teve?
Olha, eu tenho certeza de que fiz um bom governo. O Sérgio teve dois mandatos, então conseguiu fazer mais. Nos últimos 30 anos, o PTB conseguiu grandes avanços. Acho que, para um único mandato, fui muito bem.

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