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LITERATURA

Escrita como forma de voltar para casa

Aidir durante visita ao Quirquistão, na Ásia Central, remanescente da antiga URSS – Foto: Acervo pessoal de Aidir Parizzi

Em 320 páginas, o novo livro de Aidir Parizzi convida o leitor a um passeio por dezenas de recantos do planeta, dos amplamente conhecidos a outros pouco visitados e, portanto, nem sempre referidos. A partir do subtítulo, “Perplexidade e encantamento por uma terra sem fronteiras”, tem-se o convite do autor a se render à riqueza de conhecimento advinda da imersão em diferentes culturas e realidades.

O livro se divide em cinco partes, que se ocupam, pela ordem, da Ásia (China, Rússia, Hong Kong, Taiwan, Malásia, Filipinas, Coreia do Sul, Índia, Uzbequistão, Quirquistão, Tajiquistão, Azerbaidjão), do Mundo Árabe (Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Bahrein, Marrocos), da Europa, das Américas (Colômbia, Venezuela, Panamá, República Dominicana, Guatemala, Belize, México, Estados Unidos), e, por fim, do Brasil, este flagrado por um cidadão brasileiro que mira sua terra de relativa distância.

Dois depoimentos contextualizam o conteúdo: o do professor Elenor José Schneider, colunista da Gazeta do Sul, e o da cronista e escritora Martha Medeiros. Confira à direita entrevista realizada com Aidir por e-mail.

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Confira a entrevista

  • Em que medida Pátria estrangeira difere de teus livros anteriores? Amplias o recorte de regiões contempladas. Mudas também a forma de olhar para elas?
    O olhar sobre os lugares, suas pessoas e suas histórias é uma evolução permanente. Pátria estrangeira completa uma trilogia de elementos: a água em Mar incógnito, o céu em Embarque imediato e, neste último, a terra (pátria), no qual, além de descrever o que aprendi e vivi em outras regiões do mundo, incluí uma análise mais detalhada da geopolítica e de alguns eventos contemporâneos.
    Uma característica em comum com as obras anteriores é a de buscar aspectos menos evidentes nos mapas da realidade que nos apresentam, enfatizando sempre que a descoberta e o encantamento só são possíveis diante da incerteza e da dúvida. Finalmente, Pátria estrangeira é também um gradual retorno para casa, descrevendo a pátria natal (por vezes estrangeira para mim) com afeto, espírito crítico e sem perder a esperança.
  • És de longa data viajante pelo mundo. Eras também leitor de livros de viagens? O que a escrita agregou em temos de percepção de mundo ou de potencialização da experiência de viajar?
    De certa forma, toda obra literária é um livro de viagem, seja ela exterior ou pelas curvas da natureza humana. Relatos de viagens estão certamente entre os meus favoritos, especialmente aqueles que, fugindo da mera descrição, focam na reflexão, na transformação pessoal e no aspecto humano de cada geografia.
  • Quem eram ou quem são os teus autores (e obras) preferidos quando se trata de relatos de viagens?
    Começo pelo escritor britânico Roland Huntford e seu O último lugar da Terra, no qual narra de forma magistral a corrida entre o norueguês Roald Amundsen e o inglês Robert Scott na conquista do Polo Sul, em 1911. Nos livros do brasileiro Amyr Klink, entramos na alma do autor, em uma viagem interior paralela às jornadas marítimas. Cito ainda Marco Polo, de Laurence Begreen, a honestidade e a coragem da escritora tcheca Edith Templeton em suas incursões solo pela Itália nos anos 1950 e os livros do jornalista italiano Tiziano Terzani, que mergulham a fundo no espírito asiático e nos dramas de um viajante solitário.
    Dedicas um capítulo amplo à Ásia. O que essa região do planeta representa na atualidade?
    Os países asiáticos, em especial a China, a Coreia do Sul, o sudeste do continente e, ao seu modo, a Índia, estão apontando na direção do futuro. Não se trata apenas de tecnologia e modernidade, mas também no exemplo de unidade nacional em torno de objetivos nobres e universais. A cultura milenar e o sentimento de coletividade desses países não estão sendo sacrificados, e sim adaptados aos novos aspectos da realidade, como sustentabilidade e inteligência artificial. Enxergo na Ásia mais equilíbrio e serenidade nas relações humanas, algo que precisamos reaprender urgentemente no ocidente.
  • Topas traduzir para nós, com estatísticas ,ou números, o que representa hoje para ti a condição de viajante, em termos de países visitados, ou milhagem aproximada, por assim dizer?
    Graças ao hábito (talvez maníaco) de acumular dados e detalhes de viagens, coleciono estatísticas das jornadas por, até aqui, 116 países. Prefiro a via terrestre quando possível, mas como a vasta maioria das viagens envolvem minha vida profissional, a logística e a rapidez têm prioridade. São mais de 2.200 voos, 158 companhias aéreas, 323 aeroportos e mais de 5 milhões de quilômetros voados, que representam no total cerca de sete meses dentro de aeronaves.
    O mais importante, porém, não pode ser medido ou descrito em números: a qualidade dos encontros pessoais, das histórias e da frequente conclusão de que temos muito mais em comum do que aspectos que possam nos afastar. Ao chegar em uma cidade desconhecida na África, desembarcar em uma capital da Ásia Central ou caminhar por um pequeno lugarejo medieval italiano, procuro agarrar a oportunidade de sair de lá com uma bagagem de emoções, experiências e, invariavelmente, autoconhecimento. É isso que faz qualquer viagem valer a pena.
  • Em todo esse périplo, salienta-se tua condição de brasileiro. Como tua terra natal (Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil) se define ou se refina, para ti, nessa alteridade com o planeta inteiro?
    Eu vivi quase dois terços da minha vida fora do Brasil, morei em oito países e visitei mais de uma centena, obtendo outras duas nacionalidades na jornada (Itália e EUA). No meu âmago, contudo, eu nunca saí de Santa Cruz. A terra natal viaja e vive sempre comigo. O lugar onde formamos nossa personalidade e onde nos sentimos naturalmente em casa jamais nos deixa. Até hoje, eu transformo qualquer prédio alto do outro lado do mundo em múltiplos da altura da Catedral São João Batista (que, aliás, aparece na capa do novo livro).
    As distâncias a pé seguem tendo como referência o tempo que eu levava para caminhar de minha casa até o Colégio São Luís, e sigo fechando os olhos em momentos de tensão para me transportar até o aconchego da casa paterna. É importante não perder as raízes, o orgulho e a esperança no Brasil, o que não impede que sigamos em movimento e adotemos outras pátrias pelo caminho. A propósito, foi isso que inspirou o título deste último livro.

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