O palco principal da 35ª Feira do Livro e 1ª Festa Literária Internacional recebeu na noite de ontem a escritora cubana Teresa Cárdenas para um bate-papo mediado pelo jornalista Romar Beling, gestor de conteúdo multimídia da Gazeta Grupo de Comunicações. A autora compartilhou a sua história e refletiu sobre temas como a escravidão e o racismo, além de fazer uma fala honesta sobre a crise em Cuba.
Teresa ressaltou o seu encontro devastador com o preconceito e a discriminação racial, que sofria desde a infância. Ouviu palavras fortes e doloridas, que tentavam classificá-la como alguém que ela não era. Com o tempo, passou a resistir e conseguiu se reconhecer como uma criança negra e bonita.
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Após a literatura “limpar a sua alma” e se tornar escritora, passou a oferecer palavras de resistência para muitas crianças negras. “Hoje tenho um espaço de representatividade em uma literatura. No tempo em que eu era criança, não tinha isso. Então, minha tarefa é trazer todos esses rostos negros, todas essas famílias negras, como protagonistas em livros para crianças e jovens”, defendeu.
A escritora observou que o racismo se manifesta em Cuba da mesma maneira que no Brasil e em outros países da América Latina. Destacou ainda o legado africano no continente, muitas vezes apagado ou ignorado.
Teresa evidenciou a dificuldade de abordar o tema no país natal, uma vez que o governo cubano não considera necessário falar sobre a discriminação racial. “Porque somos um país socialista, porque somos um país revolucionário, porque somos um país onde lutamos pela igualdade e não é muito útil singularizar o povo negro de Cuba. E com isso, invisibiliza-se o povo negro de Cuba”, disse.
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Conforme a escritora, o povo cubano vive uma situação econômica e social difícil, agravada ainda mais pela repressão. “Não é um segredo para ninguém que não temos liberdade de expressão. Eu mesma fui citada pela polícia política e ameaçada por eles. Lamentavelmente, muita gente fugiu do país.”
Ainda assim, a decisão de sair da terra natal com a família não foi fácil. Mudou-se para o Brasil com apenas uma mala, deixando para trás muitos pertences e seus livros. “Cuba é um país de gente maravilhosa, mas o povo sofre. É uma cadeia a céu aberto”, frisou. Entretanto, sempre tem a esperança de um dia voltar a morar lá.
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Teresa ainda falou sobre as heranças malditas deixadas pela escravidão. Destacou o fato de que Cárdenas, seu sobrenome, assim como de muitas famílias negras, foi dado aos antepassados pelo senhor de escravos. E há em Cuba muitas pessoas com o mesmo sobrenome, mas que não são familiares. “É uma parte quebrada da nossa identidade que nunca vai ficar completa.”
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