Mesmo com vagas abertas durante todo o ano, a dificuldade para encontrar mão de obra tem feito parte da realidade de empresas santa-cruzenses, revelando um cenário de escassez de trabalhadores em diferentes funções. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), são 47.881 trabalhadores ativos no município, dos quais 19 mil atuam na área de serviços, mais de 15 mil na indústria e mais de 10 mil na construção civil.
Ao circular por supermercados, principalmente de grandes redes, é fácil encontrar cartazes anunciando vagas em aberto, independentemente do sexo e idade. Na agência local do FGTAS/Sine, os cinco setores com o maior número de vagas disponíveis são de produção, auxiliar logístico (carga e descarga de mercadorias), operador e repositor de supermercado, estoque e para a área da construção (servente/pedreiro).
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Segundo a coordenadora da agência, Marisa Schuck, os postos de produção ficam mais tempo em aberto devido ao número elevado de trabalhadores necessários para esses serviços. “Mas também, às vezes há desinteresse e às vezes o perfil não é compatível com a ficha do empregador”, explica.
Segundo a assessoria de comunicação do Supermercado Miller, as vagas mais difíceis de preencher são as que necessitam de mão de obra qualificada, pois requerem experiência e tempo na função. É o caso, por exemplo, de profissionais que trabalhem como açougueiro, padeiro e confeiteiro.
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Na busca pelos colaboradores, diversos fatores interferem no preenchimento dos postos de trabalho. “O volume de comparecimento depende de vários fatores, como o percentual de candidatos que atendem ao perfil, variando conforme vaga ofertada, horário de trabalho e a unidade onde as vagas serão preenchidas.”
Sobre o perfil, a assistente de Gente e Gestão do Fort Atacadista, Dara Theisen Fernandes, afirma que a maioria das ocupações na unidade de Santa Cruz são preenchidas por mulheres. “Observamos uma característica específica. Aqui, a maioria dos candidatos são mulheres. Nosso quadro funcional conta com 95 mulheres do total de 158 colaboradores.” No local, atualmente, são sete vagas disponíveis para operador de loja, para qualquer perfil.
Há vagas, mas nem sempre existem pessoas qualificadas
O profissional qualificado é a maior necessidade da indústria atualmente. O presidente da Associação Comercial e Industrial (ACI) de Santa Cruz, Ario Sabbi, salienta que a falta de mão de obra não é uma realidade exclusiva do município.
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“Existe indústria aqui em Santa Cruz com 250 vagas em aberto e não consegue fechar. O problema é sério, e isso não é só Santa Cruz, é a nível de Estado e região Sul.” Sabbi, que atua na construção civil, diz que a procura por colaboradores é constante.
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“Antigamente, o empregado buscava o emprego. Hoje em dia, o empregador está buscando o trabalhador. Eu já percorri bairros atrás de gente. Tivemos um período em que buscávamos o pessoal em casa e levávamos de volta depois do trabalho. E nem assim quiseram ficar. Hoje temos vagas abertas.”
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O empresário atribui o déficit de trabalhadores a programas sociais e também à informalidade. “As benesses sociais estão impedindo que as pessoas queiram assinar carteira de trabalho. Muitos alegam que se forem trabalhar hoje na indústria, na construção ou no comércio, vão receber um valor na carteira assinada. Se fizerem dois, três bicos na semana, já ganham metade do que ganhariam com carteira assinada.”
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O ganho maior a curto prazo na informalidade, segundo ele, é o maior atrativo. “A pessoa vai para a informalidade já recebendo o dobro do que receberia no mercado formal, e com mais algum programa social do governo, estará ganhando muito mais”, acrescenta.
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Diante disso, observa Sabbi, muitos optam por não contar com a segurança da carteira profissional e estar dentro de uma empresa que possa propiciar longo tempo de trabalho, que consiga auxiliar em questões de saúde ou até mesmo de qualificação.
Mercado de trabalho passa por momento atípico
Letícia Schramm Arend, professora e consultora da área de gestão de pessoas, observa que o mercado de trabalho está passando por um momento antagônico. “De um lado temos as empresas com as suas dificuldades para contratar funcionários, e de outro lado temos os profissionais que não encontram a oportunidade que buscam.”
Segundo ela, existe uma lacuna que está sendo influenciada por vários fatores, como, por exemplo, salários e benefícios. “Quando o salário é mais elevado, as exigências para essa vaga se tornam maiores em termos de competências técnicas (hard skills) e competências comportamentais (soft skills). Pode ser difícil achar um profissional bem preparado, que tenha as competências ideais.”
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Além disso, ela enfatiza que há dificuldade em reter colaboradores, principalmente pela remuneração. “Os profissionais não ficam muito tempo nas empresas, principalmente quando falamos de remuneração em torno de dois salários mínimos. Se receberem uma proposta que considerem melhor, já trocam.” Por isso, Letícia enfatiza a importância do investimento em treinamentos e desenvolvimento das equipes para tentar diminuir a rotatividade e motivar a força de trabalho.
Outro fator, segundo a professora, é com relação aos profissionais que não encontram uma “boa” oportunidade, porque ainda não sabem o que querem. Muitas vezes, eles são influenciados por uma vida fictícia que aparece nas redes sociais e assim buscam várias experiências, ficando pouco tempo na empresa.
Formação de mão de obra
A falta de mão de obra também tem se consolidado como um desafio no comércio varejista. Lojas de roupas, calçados, eletrodomésticos e segmentos similares têm enfrentado dificuldades para atrair e reter colaboradores.
Segundo o presidente do Sindilojas, Mauro Spode, a entidade trabalha em iniciativas que buscam preparar melhor os trabalhadores e dar ao setor um caminho concreto para superar esse desafio.
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“Atuamos junto aos associados para viabilizar projetos e programas de qualificação profissional, em parceria com o Sesc e o Senac, que são braços da entidade via Fecomércio. Além disso, o sindicato mantém em Santa Cruz o polo da Faculdade do Comércio (FAC/RS), que oferece cursos voltados especificamente para o varejo, com base na pedagogia do comércio.”
Mais preparados
Professora na Unisc, Letícia Schramm Arend celebra que tem observado o aumento do número de jovens profissionais em busca de meios para ampliar competências técnicas, através de cursos, com vistas ao crescimento profissional.
“Hoje os profissionais buscam lugares onde possam crescer e equilibrar vida profissional com a pessoal. As empresas que oferecerem isso, através de ambientes de trabalho saudáveis e lideranças preparadas, com certeza conseguirão atrair bons candidatos e fidelizá-los.”
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Para ela, o trabalho presencial, com apenas uma folga semanal, é um dos maiores inibidores de colaboradores duradouros. “Aqui na região, observa-se que alguns setores como o comércio, supermercados, farmácias, sempre estão com vagas disponíveis, pois é difícil encontrar pessoas que queiram trabalhar presencialmente com uma folga semanal.”
Um atrativo em determinadas áreas tem sido o home office em alguns dias da semana. “Isso atrai candidatos e é algo que fideliza colaboradores. Além de um bom ambiente de trabalho e liderança assertiva, é necessário oferecer um salário compatível com a função, plano de carreira e benefícios como plano de saúde”, observa Letícia.
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