A 35ª Feira do Livro e 1ª Festa Literária Internacional de Santa Cruz do Sul atingiram muito além das expectativas de público e vendas. O evento projetou, por dez dias consecutivos, o nome do município no cenário da literatura nacional e internacional; impulsionou e difundiu o poder da leitura; incentivou a formação de novos leitores; deu voz e protagonismo a muitos escritores e suas obras; proporcionou momentos de lazer e cultura ao público participante; e, sobretudo, permitiu que muitos começassem a descortinar o mundo a partir do folhear dos livros. Realizada na Praça Getúlio Vargas desde o dia 1º, encerrou-se nesse domingo, 10, com a participação de 35 mil pessoas e comercialização de 23.738 obras.

O balanço, divulgado pela agente de programas sociais do Serviço Social do Comércio (Sesc), Lisiane Camargo, é positivo e marca a retomada do evento, que foi cancelado no ano passado em decorrência das chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul. Com mais de 80 atrações na programação e a presença de 19 livreiros, Lisiane ressaltou que a Feira do Livro de Santa Cruz do Sul está entre as quatro ou cinco maiores do Estado.

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“Tivemos movimento durante toda a semana, principalmente das escolas municipais, mesmo nos períodos de chuva, porque também contamos com uma ótima estrutura. O envolvimento dos organizadores e da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul fez toda a diferença”, disse.

Além disso, Lisiane citou a importância da 1ª Festa Literária Internacional. “É um evento que veio para agregar ainda mais na nossa programação, porque promove o intercâmbio entre os autores, o encontro com novos convidados e novas formas de fazer literatura”, acrescentou.

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Dos livros lançados durante a feira, o mais vendido foi Corpos ardidos, de Marli Silveira, da editora Bestiário. Nos próximos dias, em data ainda a ser divulgada, a comissão organizadora deve se reunir para fazer uma avaliação geral da feira e definir, dentre outros pontos, o período de realização do evento em 2026.

Incentivo à leitura como herança

O público evidenciou que a leitura é um hábito herdado e que permeia gerações. Crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos se misturavam entre as bancas nesse domingo, no último dia do evento, para conferir os livros à mostra e garantir algum exemplar. O agente de programas sociais do Sesc em Venâncio Aires, Ricardo Lautert, 33, foi até a feira com a mãe, a gerente comercial Veridiana Paulo, 52, e o sobrinho Arthur Lautert Vargas, de um ano e dois meses.

“Aproveitamos para passear e para fazer essa aproximação dele [Arthur] com os livros. Em casa, a gente estimula bastante porque ele já está nessa fase de descobertas”, contou Ricardo, salientando os atrativos dos livros infantis e a diversidade da feira. “Vai muito além dos livros porque tem atrações para toda a família”, resumiu.

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Quem também enfatizou esse aspecto foi o técnico em manutenção Hilton Roso, 53, que aproveitou para comemorar o Dia dos Pais com um passeio pela Feira do Livro, atendendo aos pedidos da filha Ágata, de 8 anos. Ele e a esposa, a dona de casa Indaiá Pimentel, 39, disseram que não medem esforços para aproximar a menina de ambientes que promovam o aprendizado e a leitura.

“Ela cresceu nesse ambiente e desde bebê a gente já incentivava. Agora, estamos nos mudando para uma casa nova e queremos dedicar um espaço para uma biblioteca onde ela possa guardar os livros”, disse ela. “Como pai, saber que ela gosta de ler e estudar é meu maior presente”, contou Hilton. Ágata, que é estudante do terceiro ano da escola municipal Luiz Schroeder, do Bairro Universitário, levou para casa seu quarto exemplar do Diário de um banana.

O geólogo Enoir Greiner, de 69 anos, que costuma dar preferência para biografias e livros sobre história global, participa da feira sempre que possível. Apesar de fazer suas leituras na internet, não abre mão do livro impresso. “Não tenho preferência por um autor específico, mas senti falta de livros mais voltados pra minha geração”, disse, destacando a importância do evento.

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Resultados positivos e elogios

A Feira do Livro deste ano contou com 19 bancas de livreiros e a maioria deles participa do evento há mais de uma década. É o caso da Nova Roma, de Porto Alegre, que marca presença há quase 20 anos, conforme os representantes Cássio Santos e Catrini Nunes.

“A feira daqui se diferencia porque tem bastante divulgação por parte da organização, e as pessoas se envolvem para dar certo”, disse Cássio. Embora a chuva tenha atrapalhado o fluxo de visitantes em alguns momentos, ele calculou um acréscimo de 20% no volume de livros vendidos, quando comparado à edição de 2023, disse Catrini.

Dentre os títulos e autores mais vendidos, Catrini citou Crime e castigo, de Dostoiévski, e A metamorfose, de Franz Kaf-ka. Além disso, destacou a autora Colleen Hoover, também uma das mais vendidas na banca Nascente, de Cachoeira do Sul. Segundo a representante Berta Gehrke, outros autores como Raphael Montes e Ali Hazelwood, foram campeões de venda, assim como a Editora Darkside.

As irmãs Susana e Rosana Blank, da banca Colorê, de Vera Cruz, também tiveram boas impressões. Há mais de dez anos no evento, elas precisaram fazer reposição de alguns livros por causa da demanda. Entre eles, o da autora Lynn Painter e o título Não começou com você, de Mark Wolynn, que trata sobre traumas familiares. “Vendemos uns 10% a mais do que na última feira”, afirmou Susana, considerando a feira como uma das melhores da região.

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Questões humanas

Uma das principais atrações no encerramento da 35ª Feira do Livro e 1ª Festa Literária Internacional nesse domingo foi um bate-papo com a escritora venezuelana María Elena Morán, no palco principal. Radicada há seis anos em São Paulo, ela, que é romancista e tem se destacado na literatura latino-americana, falou sobre sua carreira e obra em conversa mediada pelo jornalista Romar Beling, gestor de conteúdo multimídia da Gazeta Grupo de Comunicações.

María Elena Morán contou ter morado no Rio Grande do Sul quando cursou mestrado e doutorado em Escrita Criativa na PUC. Disse que nesse período havia estado em Santa Cruz durante uma atividade da universidade e, ainda hoje, vem seguidamente ao Estado, já que a família de seu companheiro é de Passo Fundo. Formada em Comunicação Social pela Universidad del Zulia, da Venezuela, e em Roteiro Cinematográfico pela EICTV, de Cuba, também atua como roteirista.

No encontro, citou suas obras – os romances Os continentes de dentro, já publicado na Espanha e lançado no Brasil em 2021, pela Zouk, e Volver a cuándo, lançado em 2022 e que deve chegar às livrarias brasileiras até o fim deste mês pela Biblioteca Azul. Esse último, aliás, foi editado em espanhol e italiano e recebeu o Prêmio de Nova Café Gijón, de Madri. Ela já trabalha em seu terceiro romance, ainda sem data prevista de lançamento.

Maria Helena destacou como a literatura brasileira impactou sua formação como leitora, falou sobre sua relação com a Venezuela, os motivos de morar no Brasil e sua preocupação em torno dos grandes conflitos mundiais. “Me preocupa profundamente. Parece que se vive numa apreensão permanente e que ninguém, nunca, está a salvo”, observou ela. Diante disso, destacou que sua função, enquanto escritora, é de ser ponte, de estender um convite para que as pessoas reflitam através de seus textos. Como linha de inspiração, María Elena afirmou se dedicar às questões humanas e situações que apresentam algum tipo de dilema moral.

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