Prestes a completar 32 anos nesta quinta-feira, 7, o venâncio-airense Gean Paulo Naue recebeu o presente de aniversário adiantado na tarde dessa segunda, 4. O escritor participou de um bate-papo animado no palco principal da 35ª Feira do Livro e 1ª Festa Literária Internacional com estudantes dos anos iniciais.
Naue é autor de Menores que o céu, obra que reúne contos nos quais as crianças assumem o protagonismo. As narrativas, que têm como cenário ambientes rurais, envolvem temas sensíveis e relevantes, incluindo racismo, bullying, pedofilia, machismo, descoberta da vida adulta e o desenvolvimento da sexualidade.
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A estreia na literatura rendeu ao publicitário o prêmio nacional Mozart Pereira Soares 2024. Foi o único gaúcho contemplado pela Associação dos Amigos da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul.
Para Naue, a conversa com as crianças foi uma oportunidade de mostrar que a escrita não é inacessível. “Perguntei a elas se conheciam um escritor. Elas falaram que não e respondi: ‘aqui está um’. É uma maneira de mostrar que o escritor é uma pessoa comum, que não é uma coisa impossível de ser, que ele pode nascer em uma cidade pequena.”
Ele se definiu como um leitor tardio, que começou a desenvolver o hábito já no final do Ensino Médio e desde então não parou mais. Já a escrita o acompanhava desde a quinta série. “Perdi toda uma literatura infantil e que hoje estou buscando para recuperar esse tempo perdido. Por isso, no meu caso, por incrível que pareça, primeiro nasceu o escritor, ainda que inexperiente. Mas estava sempre escrevendo”, afirmou.
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Ao longo do tempo, buscou aperfeiçoar a escrita com oficinas e escolheu os contos para se expressar. Para Menores que o céu, escreveu 11 histórias diferentes. “O que me completa é o conto. Um dia, quem sabe, vou ser romancista. Já tentei, mas a narrativa sempre me enjoava, nunca ia até um o fim. Diferente do conto, que começava e terminava.”
O autor destacou que todas as histórias da sua obra se passam na infância, na qual os seus personagens passam por situações problemáticas e desafiadoras. Diferentemente de Naue, que afirma ter vivido uma infância tranquila.
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Segundo ele, nas narrativas, as crianças precisam tomar decisões tão pesadas que seriam difíceis até para um adulto. “Consegui perceber que na infância muita coisa é construída. O que vai ser levado lá pra frente na nossa vida adulta. E aí comecei a explorar esses temas complexos”, explicou o autor.
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A escolha por histórias que se passam nesta época da vida diz muito sobre o autor, que afirma estar em constante busca pela sua infância. Buscou olhar para a sua criança interior a fim de criar personagens autênticos, ingênuos e inocentes, com dificuldade de entender o que está acontecendo ao seu redor. “Foi um momento muito bom da minha vida. Então eu sempre quero resgatá-la. E acabo fazendo isso nos contos. Eu volto a ser criança.”
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Naue ainda evidenciou a importância da feira para as crianças, permitindo que elas possam tocar nos livros, ver as capas e escolher uma a obra que desejam. “É importante mostrar que existe esse universo da leitura e deixá-las tranquilas. Não censurar as crianças. Se ela quiser um livro de colorir, deixe-a. O próximo passo vai ser um com uma historinha. O importante é permitir esse acesso”, defendeu.
Estudantes em contato com a literatura
A chuva intensa registrada na segunda-feira não atrapalhou o movimento na Praça Getúlio Vargas. Com a visita de grupos escolares, os livreiros tiveram uma tarde bem intensa e celebraram mais um dia de boas vendas. Além de passear pelos estandes, os jovens visitantes aproveitaram as atrações culturais e o encontro com o escritor Gean Paulo Naue.
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Segundo a agente de programas sociais do Sesc, Lisiane Camargo, as presenças das escolas foram agendadas para o longo da semana. “Por mais que seja um dia chuvoso, temos um bom público devido ao envolvimento da comunidade escolar”, salientou. Para ela, o envolvimento das instituições de ensino, com o apoio da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul (que visitou as escolas em eventos prévios à feira), foi fundamental.
Quem aproveitou a tarde de segunda foram Egon Fernando Schwengber Poeta Silva, Anna Carolina da Silva e Felipe da Silva, alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Duque de Caxias. O trio foi ao Espaço Sesc Erico Verissimo para descansar enquanto Anna estreava o livro de colorir que havia adquirido. “É bem interessante. É simples, mas bacana”, afirmou a estudante do sexto ano, que também gosta de romances.
Para o trio, havia uma grande variedade de livros e uma boa programação para desfrutar. Todos acabaram encontrando algum titulo de interesse e esperam visitar a feira durante a semana para comprá-los. “É uma oportunidade para as pessoas olharem os livros e se interessarem pela leitura”, afirmou Egon, de 13 anos, do sétimo ano.

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A diretora da escola Duque de Caxias, Carla Simone Soder Kroth, ressaltou que a feira do livro evidencia que o lugar da criança não é apenas dentro da sala de aula, mas em um ambiente que valoriza e fomenta a cultura e a leitura. “Ela mostra para o estudante que a literatura pode ampliar os horizontes”, afirmou.
Programação
Nesta terça-feira, 5, a agenda de atividades da feira dará destaque aos encontros com escritores locais e internacionais. O autor Kanhanga, da Angola, realizará uma performance literária intitulada Seja Incrível, às 9 horas, no palco principal. A apresentação se repete às 14 horas.
Já no Espaço Sesc Erico Verissimo, o escritor e ambientalista José Alberto Wenzel, colunista da Gazeta do Sul, participará de um encontro às 9 horas. Já às 15 horas, estará presente Dogival Duarte. E mais tarde, às 19 horas, será a vez de Romar Beling, gestor de Conteúdo Multimídia da Gazeta Grupo de Comunicações. Além disso, a equipe do programa Chá da Uma estará presente ao vivo nesta feira, a partir das 13 horas.
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