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Apesar dos buracos

FOTOS: dez anos da RSC-153, uma rodovia que é um cartão-postal

Foto: Rafaelly Machado

Apesar dos buracos e remendos, mantém aspecto de cartão-postal

A inauguração dos 111,6 quilômetros da RSC-153 completa dez anos nesta terça-feira, 15. A obra é considerada um divisor de águas para quem precisa escoar a produção agrícola da região, tanto em direção aos municípios do Norte gaúcho quanto para o Sul, especialmente ao Porto de Rio Grande. É também um convite à contemplação de belas paisagens, ainda que em meio a problemas estruturais, por conta da falta de manutenção.

Em determinados trechos, a estrada chega a receber quase 2 mil veículos por dia e, por isso, sofre com a degradação de asfalto e sinalização. O governo garante que mantém a qualidade, mas em uma viagem pela pista a realidade é diferente.

Cortando morros, montanhas e circulando os vales, a RSC-153 é um atrativo pelas paisagens e já incentiva investimentos no turismo. É motivo de orgulho, renda e mobilidade; e quem vive às margens da rodovia comemora o superempreendimento, que começou a ser discutido de forma sutil em meados dos anos de 1990 e tomou corpo uma década depois. Parte da obra foi financiada pelo governo do Estado.

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A beleza da região emoldura o caminho

A viagem pela RSC-153 pode ser considerada um passeio por vales e montanhas. Já no trecho inicial da rodovia, ainda em Vera Cruz, os primeiros sinais de que a paisagem surpreende a cada curva começam a despontar na copa das araucárias nativas, que margeiam a estrada nos dois sentidos.

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Em Vale do Sol, a paisagem se expande e mostra que o nome do município não é à toa. O verde das lavouras de tabaco, prontas para a colheita, tinge o chão com a riqueza da região. O céu azul com poucas nuvens termina de desenhar o panorama de Vale do Sol. Já em Sinimbu, a altitude começa a ser percebida. O som da Rádio Gazeta no aparelho do carro vai ficando baixinho e as montanhas verdes e majestosas exibem a beleza natural.

Herveiras, o próximo município, mantém características parecidas com as de Sinimbu. Gramado Xavier, um pouco mais acima, é o ápice do cartão-postal. As curvas desenhadas da RSC-153 são o cenário ideal para a fotografia. Até Barros Cassal, no fim do trecho da “faixa nova” – como alguns chamam a rodovia –, as belezas serranas do Vale do Rio Pardo também se encerram.

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Foto: Rafaelly Machado

E é de olho nessas belezas que uma das primeiras empresas a se instalar na rodovia, o Casarão Serrano, em Pinhal São Antônio, no interior de Sinimbu, investe agora em turismo. O gerente administrativo do complexo, Woldemar Roesch, explica que a empresa começou há dez anos, por causa da rodovia. “No início era apenas o posto de gasolina e a lancheria. Nós já ampliamos a estrutura, criando um restaurante colonial. Temos um salão de eventos com 900 metros quadrados e estamos ampliando”, antecipou.

Uma das possibilidades apontadas na época de criação da 153 foi mesmo o incremento ao turismo local. A empresa administrada por Roesch tem planos audaciosos nessa área. “Nós queremos ser referência em turismo regional ao explorar esse potencial aqui, sendo uma opção próxima para programas e eventos em meio à natureza”, prometeu. A Casarão Serrano prepara-se para concluir uma pousada com cabanas em meio à mata, trilhas ecológicas e atrações diversificadas junto à paisagem regional. A previsão é de que a pousada seja inaugurada até o fim de janeiro de 2021, ou seja, em pouco mais de um mês.

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Foto: Rafaelly Machado

A estrada é também fonte de renda

No fim da RSC-153, na localidade de Sítio Alegre, interior de Barros Cassal, a Pousada do Carlão é administrada pela empresária Maria Cléa Borges. O Carlão é o marido dela, mas só empresta o nome ao estabelecimento, que recentemente completou oito anos. Dona Maria Cléa chefia o lugar assessorada por um time de mulheres e se diz vitoriosa atrás do balcão. “Aqui sou eu e as minhas meninas. E nossos clientes, que lotam o salão em tempo de colheita da soja”, conta.

O período de maior movimento, segundo ela, está nos meses de março e abril. “Começa às 11 horas da manhã e a gente só para às 14 horas, de segunda a sábado. Domingo é dia de estar em casa, descansando”, decreta. O marido, Carlão, comanda a produção do tabaco, que passou a ser a atividade secundária da família.

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Maria Cléa Borges toca a Pousada do Carlão: o nome é do marido, mas quem manda ali é ela | Foto: Rafaelly Machado

“Investimos aqui na rodovia porque entendemos que era uma necessidade. Tem muito movimento nesta estrada e a gente aproveita para fazer bons negócios”, revela Maria, responsável por uma batata frita sequinha e por um pudim de leite condensado saboroso, todo cheio de furinhos. A comida caseira do time de Maria Cléa é uma das atrações na RSC-153.

Seu Orídes Damásio é natural de Nova Bréscia, no Vale do Taquari. Dono de uma borracharia na RSC-153, conta que a movimentação de veículos prejudica a pista – o que, para ele, torna-se excelente. O conserto de um pneu de carro sai por R$ 15,00. De caminhão, varia de acordo com o tamanho e o estrago – de R$ 40,00 a R$ 50,00. “Sempre tem muito serviço. Eu vi esta estrada ser feita. Antes isso aqui era um pedregulho. Depois, parece outro mundo. Eu vi a ex-governadora Yeda Crusius chegar aqui, em um carro todo preto. Ela veio inaugurar e não se elegeu… que coisa, não é?”

Segundo Orídes, a única coisa que não aconteceu ainda – daquilo que foi, segundo ele, prometido com a 153 – foi a atração de empregos. Ele contabiliza cerca de 300 pessoas, moradores de Barros Cassal, que migraram para outras regiões, porque as indústrias não vieram atrás do progresso da estrada. “Nem tudo sai como esperado. Mas as pessoas precisam de emprego”, complementou.

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Orídes Damásio em sua borracharia às margens da 153: “Sempre tem muito serviço” | Foto: Rafaelly Machado

Viagem 100 quilômetros mais curta, mas em meio a buracos

O caminhoneiro Dilamar da Silva é de Passo Fundo e, pelo menos três vezes por semana, cruza a 153 de Norte a Sul transportando óleo vegetal. Sai com seu veículo vazio e carrega, em Rio Grande, 37 toneladas de óleo – que fazem com que o conjunto do caminhão e carga chegue a pesar 53 toneladas. “A viagem de ida leva umas oito horas, já a volta dura em torno de 12 horas. Não dá para andar rápido com o caminhão cheio.”

Pelas contas de Silva, a viagem pela região encurta em mais de 60 quilômetros o trajeto que era utilizado há uma década. “A alternativa é a BR-386 e todo o movimento de Porto Alegre. Esta rodovia aqui ajuda muito no transporte de cargas, ligando as regiões Norte e Sul. Pena que tem muitos buracos nesse caminho”, ponderou.

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Foto: Rafaelly Machado

Os trechos com mais problemas – verificados pela Gazeta do Sul na última semana – localizam-se de Pinhal Santo Antônio, em Sinimbu, até o acesso a Vale do Sol. No geral, a estrada encontra-se recapada, com sinais de “tapa-buraco” a cada curva.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) informou que os serviços de manutenção da via são feitos diretamente pela equipe da 3ª Superintendência Regional do Daer, de Santa Cruz do Sul, até que o contrato com uma empresa terceirizada seja reativado. Sobre o valor investido, a autarquia destacou que as formas de investimento são variáveis, e não possuem um valor fixo.

Sem ter uma empresa responsável pela manutenção, a sinalização da estrada cartão-postal padece. No quilômetro 274, ainda em Sinimbu, a placa de sinalização está de ponta-cabeça. Em vários pontos da rodovia, as orientações de velocidade e ultrapassagem, por muitas vezes, são inexistentes. Quanto às melhorias na sinalização, o Daer esclarece que elas serão executadas assim que o contrato destinado a esse fim estiver ativo.

Sobre a rodovia, a autarquia destaca que a RSC-153 é de grande importância não apenas para a região, mas para todo o Estado, por ser um corredor de exportação que liga a região Norte até o Porto do Rio Grande, encurtando o caminho em cerca de 100 quilômetros.

Dilamar da Silva: “Pena pelos buracos” | Foto: Rafaelly Machado

Os muitos nomes da rodovia

Originalmente, a RSC-153 se chamaria RSC-471, pois era a sequência do trecho que vai de Santa Cruz do Sul a Sinimbu. Como houve mudança no traçado e a nova estrada ficou coincidente com um antigo projeto, para a criação de outra rodovia (a BR-153), o nome mudou junto.

O trecho entre Barros Cassal e Vera Cruz começa no quilômetro 244,7 e vai até o 326,3, totalizando 81,6 quilômetros. Poré m a prolongação dela, até a BR-471, já em Rio Pardo, eleva para 111,6 quilômetros o traçado original. Atualmente, essa última faixa chama-se ERS-412.

A ESTRADA DOS GRANDES NÚMEROS

Na época em que foi construída, a RSC-153 foi considerada uma obra de grande volume, dividida em vários lotes. As primeiras máquinas chegaram à pista em dezembro de 1998. A inauguração, 12 anos mais tarde, ocorreu em 15 de dezembro de 2010.

O investimento aproximado foi de R$ 470 milhões, com o trabalho de 1.180 operários, movimentando até 450 máquinas juntas no momento de pico das obras. Nos 18 meses finais da construção, o ritmo do trabalho era intenso ao ponto de seguir durante a madrugada e nos fins de semana.

As tratativas e a construção da RSC-153 envolveram quatro governadores do Estado. Tiveram início com Olívio Dutra (PT), passaram por Antônio Britto (MDB) e seguiram na mesma sigla, com Germano Rigotto – período em que a falta de verbas gerou lentidão nos serviços. A estrada foi finalizada no governo da tucana Yeda Crusius.

De acordo com o Daer, o atual trecho de maior movimento é a área que passa por Vera Cruz, com fluxo diário médio de 1.763 veículos. Na média, passam pela RSC-153 cerca de 1,4 mil veículos por dia.

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