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Giulia Tolotti: liderança nata

Num escritório envidraçado erguido entre caminhões, máquinas e britas cheias de lama, a santa-cruzense, CEO da GT Participações e vice-presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon-RS), Giulia Tolotti, bebe sua xícara de chá, sorri e dispara a convicção que herdou de casa: “Fui criada numa cultura de que tudo dá para fazer.. A frase é uma provocação ao espaço que ela vem abrindo na construção civil – setor em que, de acordo com dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), apenas um em cada dez profissionais é mulher.

A crença no “tudo dá” nasceu antes dos canteiros. Veio da avó comerciante, do pai loteador e do horizonte amplo das terras do Vale do Rio Pardo. Quando o pai decidiu separar os negócios que até aquele momento conduzia com os tios de Giulia, surgiu a holding que abrigaria um patrimônio de terras e a oportunidade de urbanizar a cidade. Então, Giulia assumiu a gestão da GT Participações. Seu primeiro loteamento foi no município de Portão, na região metropolitana de Porto Alegre. “Foi encrenca”, brinca. Mas deu certo. Tão certo que seguiu adiante.

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Pensando além dos muros

“Em cada empreendimento que lançamos conseguimos dar mais um passinho, sabe?”, orgulha-se Giulia. O passo ganhou escala no bairro planejado Parque Jardine, em Santa Cruz do Sul, onde a empresa ergueu a primeira praça de Linha Santa Cruz, com quadra poliesportiva, quadra de beach tennis e pista de caminhada abertas à comunidade. No segundo residencial entregue, o La Sierra, Giulia implantou o primeiro loteamento de acesso controlado do município: ruas públicas de dia e portões fechados das 22 horas às 6 horas. “Fizemos isso oferecendo ao morador a segurança semelhante a um condomínio fechado, mas sem precisar trancar o fluxo viário da cidade, nem tirar aquele espaço de qualidade da comunidade”, explica.

Enquanto descreve os projetos, Giulia tem a voz abafada pelo som das chuvas que atingiram a região no decorrer deste mês. Quando concedeu a entrevista ao Caderno Elas, em 17 de junho, Santa Cruz registrou o dia mais chuvoso da história, com um acumulado de cerca de 200 milímetros.

Sobre o papel da construção civil frente às recentes tragédias climáticas, Giulia acredita que “é preciso ter um pouco de cuidado para não transferir uma responsabilidade que é do Estado para um único setor”. Ainda assim, enumera ações que o Sinduscon-RS assumiu quando o poder público não deu conta. Parte desse esforço virou cimento: em janeiro, o sindicato iniciou a obra de casas permanentes para famílias desalojadas na capital gaúcha, em torno de R$ 5,2 milhões em investimentos por meio da campanha SOS Chuvas – Enchentes RS, liderada pela entidade.

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No papel de vice-presidente do Sinduscon-RS desde 2024, com mandato até 2026, Giulia estreitou laços do setor entre o interior e Porto Alegre. “No ano passado tínhamos 17 empresas associadas. Neste, vamos bater 40. Mais do que dobramos.”

Com a base robusta, vieram grupos técnicos. “Criamos um grupo de estudo que propôs melhorias no Plano Diretor da cidade, outro para revisar o Código de Obras e um terceiro esboçando a nova Lei de Loteamentos.” Ao relacionar responsabilidade pública e privada, ela reforça que qualquer avanço urbano exige regras claras e investimento em inovação.

Em reuniões com o setor público, onde hoje defende a desburocratização, Giulia diz não acreditar que o gênero seja um limitador, mas reconhece que o caminho exige cuidados extras. “Já levei um advogado para me acompanhar em determinadas conversas. Sei que vou ser interpretada de forma diferente se tiver essa chancela”, admite. Mesmo assim, não se vê como vítima. “Algumas questões são muito sutis e o fato de eu ser mulher e jovem acaba impactando, mas isso se desfaz quando a pessoa vê que tenho um trabalho sério.”

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Fora dos holofotes

O traço de responsabilidade e liderança despertou cedo, ainda na adolescência. Bem antes de ser CEO, Giulia foi presidente da Liga Jovem de Combate ao Câncer de Santa Cruz. “Optei em participar da Liga por causa da história da minha mãe. Se foi difícil para nós, que tínhamos recursos, imagina o horror que era para quem não tinha”, recorda. A mãe de Giulia morreu quando a filha ainda era criança. Anos depois, ela também perdeu a avó. Entre bombons artesanais vendidos em chás beneficentes e teatrinhos de prevenção ao câncer nos colégios, à época, a adolescente descobriu que liderar também é verbo conjugado com empatia. Lição que não se perdeu com a maturidade.

“Penso que contribuir com algo, independente da proporção, permite que tenhamos um olhar para diferentes realidades. Isso acaba moldando um pouquinho o nosso entendimento sobre o mundo, as coisas e os desafios”, analisa. Refletindo sobre a mulher que se tornou, Giulia recorda com orgulho das conquistas profissionais, das transformações familiares e do parceiro, com quem divide a vida há 18 anos.

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“Eu acho que os insights de alguém que está conosco há tanto tempo ajudam a moldar a nossa personalidade, nos trazer de volta para o eixo, sem se descolar da nossa essência”, revela. E sobre o futuro, enfatiza: “Um empreendedor não pode viver só de propósito,” mirando na ampliação das fronteiras de sua atuação empresarial. “Meu projeto é tornar a GT cada vez mais representativa, gerando riqueza, bons produtos, emprego e soluções diferentes, com esse olhar da porta para dentro, mas também da porta para fora”, finaliza.

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