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Estelionato

Golpe da casa própria faz mais vítimas na região

Foto: Arquivo Pessoal

Em um caso, vítimas tiveram que aterrar a obra, depois que construtora a abandonou

Foram anos difíceis na vida da cabeleireira Janaina Fusieger Rosa, de 43 anos. Em abril de 2015, um mês depois dela e o marido Gilmar Lacerda da Silva, de 46 anos, terem conseguido juntar economias para comprar um carro zero-quilômetro, tiveram o Fiat Gran Siena roubado por criminosos. Ainda por quatro meses, o técnico de informática ficou trabalhando com um veículo emprestado, até que a empresa o desligou sem aviso prévio.

“Foi um momento muito ruim das nossas vidas. Ficamos endividados e peguei dinheiro com parentes que me ajudaram. Para quitar tudo isso, tivemos que vender nossa casa, além de móveis e eletrodomésticos. Levamos muito tempo para conseguir nos equilibrar. Depois, meu marido começou a trabalhar como motorista de aplicativo e voltaram as demandas de informática. Mesmo assim, morávamos de aluguel e não tínhamos dinheiro para dar entrada em uma casa, que era uma ideia fixa que eu tinha”, disse Janaina.

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O pai da santa-cruzense faleceu no ano passado, vítima da Covid-19, gerando outro baque na família. A herança que Janaina recebeu era a última esperança de tentar adquirir uma casa própria. Porém, o dinheiro acabou nas mãos erradas. “Me dói muito saber que o que meu pai falecido me deixou foi usado para pagar golpistas, que sumiram com o dinheiro da herança e de empréstimos que minha mãe fez pra me ajudar. Eles me tiraram tudo.”

Janaina e seu marido caíram no golpe da casa própria. O crime de estelionato consiste em vender imóveis, cobrar adiantado e não entregar a obra. A grande maioria das empresas do ramo é séria em Santa Cruz; contudo, a Polícia Civil e o Ministério Público vêm investigando, ao longo dos últimos meses, duas construtoras suspeitas de aplicar golpes.

Casos do tipo foram revelados com exclusividade em uma reportagem da Gazeta do Sul, publicada em 16 de janeiro deste ano. Na ocasião, se referiam a uma empresa do Bairro Arroio Grande, gerida por um casal. Já nos casos de agora, remetem a uma outra construtora, localizada no Centro, também administrada por um homem e uma mulher.

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“Era para ser a reconstrução da minha vida”

Janaina, então moradora do Bairro Castelo Branco, em Santa Cruz, assinou um contrato com o casal em 2 de julho de 2021. Pagou R$ 48 mil à vista. Recebeu apenas um alicerce, e ainda malfeito. “Até surgiram outras oportunidades de construirmos, mas essa, que apareceu no Facebrique, me atraiu muito. Falava para o meu marido que era só pagar e já pegar a chave na mão, sem muito estresse. Tinha comprado financiado um terreno no Residencial Terra Vista, em Vera Cruz, para construir a casa. Deram o prazo até novembro pra ficar pronto. Um engenheiro que contratei depois condenou o que foi feito, disse que nenhuma casa poderia ser construída sobre esse alicerce.”

As desconfianças começaram logo após o pagamento do valor. Segundo Janaina, funcionários da suposta empresa foram até o local onde seria construída a residência de alvenaria, em Vera Cruz. “No início, nos levaram em lojas para escolher o piso que seria colocado, a porta, armários. Mas logo depois do pagamento, quando iniciaram a obra, fizeram viga malfeita onde não cabia um tijolo, alicerce totalmente errado e, depois de uns dias, simplesmente não apareceram mais.”

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As tentativas de contato com o casal dono da empresa foram muitas. “Deram inúmeras desculpas, mas principalmente que administraram mal o dinheiro e que não tinham como concluir a obra. Registrei boletim de ocorrência por estelionato, mas até agora não me chamaram para prestar depoimento.” O caso foi registrado na 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP) de Santa Cruz do Sul.

Conforme Janaina, o casal proprietário da empresa teria saído do município, em virtude das cobranças de vítimas, e se instalado em Concórdia, Santa Catarina, onde estaria aplicando o mesmo golpe. “Eu já sei que não vou receber esse dinheiro de volta, mas não quero que mais pessoas caiam nesse golpe. Foi muito difícil conseguir esse dinheiro, perdi muita coisa nos últimos anos e essa casa era para ser a reconstrução da minha vida e da minha família. Voltei para o zero de novo. É muito triste ter perdido tudo”, lamentou Janaina.

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Construtora abandona obra e vítimas têm que aterrar

A partir da divulgação dos casos de golpes da casa própria na primeira reportagem veiculada pela Gazeta do Sul, a respeito de um empresa do Bairro Arroio Grande, Janaina Fusieger Rosa começou a descobrir outras vítimas da construtora do Centro. Ela criou um grupo no WhatsApp, que conta atualmente com 13 vítimas da mesma empresa, onde são publicadas informações e troca de ideias sobre como agir diante da situação.

“Temos vítimas que pagaram à empresa R$ 110 mil, R$ 95,7 mil, R$ 86 mil, R$ 64,5 mil, R$ 50 mil, dentre outros casos”, relatou a administradora do grupo. Entre estes casos está o de Larissa Carvalho Souza, estudante de 20 anos. Ela e o marido André Menezes da Silva, caminhoneiro de 33 anos, contataram a empresa para construir uma casa junto ao terreno da madrasta da jovem, no Bairro Higino Leitão, em Rio Pardo. O contrato foi fechado em 5 de março do ano passado, com o prazo de 120 dias para entrega.

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“Meu marido viu no Facebrique, achou boa a oportunidade, barata. Eu desconfiei. Acabamos por fechar com eles. Seria uma casa de madeira. Paguei R$ 28 mil à vista. Vieram uns dias, não fizeram quase nada, só uma espécie de alicerce, muito malfeito, e foram embora. Tentei conversar com eles algumas vezes e disseram que não iam dar sequência, que a empresa estava passando por momentos delicados, entrando em falência.”

Larissa afirmou que tentou fazer um acordo, para receber o dinheiro de volta. “Chegaram a falar que iam pagar R$ 8 mil e o restante parcelado. Queríamos o valor à vista, como tínhamos pago. Dessa forma, não aceitamos, porque sabíamos, depois de conversar com outras vítimas, que eles faziam essa proposta, as pessoas aceitavam e eles não pagavam. Preferimos registrar o caso na polícia”, comentou a estudante de 20 anos.

O próprio marido e um ajudante acabaram aterrando os alicerces. “Quando saiu a matéria sobre os golpes dessa outra empresa, minha mãe me mostrou e disse que era igual ao nosso caso, mas eu não queria acreditar. É muito difícil, dá muita raiva. A gente já não tem muito e eles ainda tiram da gente”, disse Larissa, hoje desempregada e morando de aluguel no Bairro Parque São Jorge, em Rio Pardo.

Cientes dos casos, 1ª DP e MP investigam

A Gazeta do Sul entrou em contato com a Polícia Civil e o Ministério Público, que confirmaram ter ciência dos casos e da ação da empresa em questão. “Temos uma investigação em fase inicial, a partir de denúncias que recebemos”, comentou o promotor de Defesa Comunitária, Érico Barin. Ele também apura os casos da construtora do Bairro Arroio Grande, que aplicou o mesmo golpe em vítimas de Santa Cruz e região – na esfera policial, esta investigação está em andamento com a 2ª DP.

Também contatada, a delegada Ana Luisa Aita Pippi, responsável pela 1ª DP, confirmou que existe um inquérito em aberto para apurar as condutas da empresa localizada no Centro. “Temos investigação em andamento sobre estes golpes, referente a esta empresa”, relatou. O nome da construtora, por enquanto, é mantido em sigilo pelas autoridades.

Vítimas que quiserem denunciar casos do tipo devem acessar o site do Ministério Público, no campo “denúncia”, ou mediante atendimento pessoal na Promotoria de Justiça de Santa Cruz do Sul, na Rua Venâncio Aires, 959, Centro. As pessoas que quiserem relatar os golpes à Polícia Civil devem ligar para (51) 3719 9900 ou ir até a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento, que atende na Rua Ernesto Alves, 915, Centro de Santa Cruz do Sul.

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