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UNIVERSIDADE NA ITÁLIA

La Bella Italia: um recomeço entre sonhos, burocracia e fé

Saber e conhecer: Beatrice Dummer na Libreria Internazionale Luxemburg | Foto: Niccolò Fusaro

Na primeira vez que vim para a Itália, aconteceu uma reviravolta na minha vida. No dia 28 de novembro deste ano fará um ano que cheguei aqui de “mala e cuia”, como dizemos nós, gaúchos. Mas, antes de vir decidida a permanecer no país, o primeiro contato com estas terras foi em uma viagem de trabalho e turismo com duração de quase três meses. Fui convidada a cantar no Montreux Jazz Festival, na Suíça, um dos festivais mais importantes do mundo, e depois disso passei um tempo pela Itália. Nesse meio tempo, vivi um romance… e encontrei amor. Poderia ser uma história de livro – ou até de Hollywood – afinal, o cinema adora vender a ideia de que a protagonista viaja à Itália e tem a vida transformada pelo amor, fazendo parecer que tudo é muito fácil e acessível. Mas aqui, não se trata de ficção. É história real.

E quando falamos em mudar de país – especialmente a Itália, e sem ter um passaporte europeu – nos deparamos com um grande obstáculo: a burocracia. Uma das experiências mais difíceis pelas quais já passei. Exigências psicológicas, prazos, documentos, tempo, estratégia… e muita fé. Enquanto você tenta se adaptar culturalmente, precisa também provar constantemente que é “boa o suficiente” para permanecer. Ao mesmo tempo, foi uma das coisas que mais me fizeram crescer como pessoa. Dizem que, quando você queima as pontes e não há mais caminho de volta, só resta dar certo.

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Existem alguns caminhos possíveis para quem deseja viver na Itália: cidadania, trabalho ou estudo. Cada um exige um tipo diferente de investimento – financeiro ou de tempo. Durante meus meses em Turim, em 2024, determinada a ficar, minha estratégia mudou completamente. No início, o plano era apenas turístico: conhecer as principais cidades do norte e centro do país – Milão, Roma, Veneza, Florença, Verona. Mas, aos poucos, comecei a distribuir currículos e consegui um trabalho como professora de música em uma escola. O problema é que o contrato não era suficiente para garantir o visto.

Foi então que a vida me surpreendeu novamente. Quase dez anos após me formar no Ensino Médio, lá estava eu… voltando a estudar os conceitos básicos de matemática, lógica e história, cinco horas por dia, enquanto a Itália lá fora me convidava a visitar seus museus, beber cappuccino com brioche e passear pelas praças majestosas. Afinal, eu estava na Itália e queria aproveitar! Mas, naquele momento, sentia que o mais importante era me dedicar. Sabia que, quando voltasse, eu teria tempo para conhecer todos aqueles lugares com os quais tanto sonhava. Decidi tentar a sorte: aplicar para a universidade na Itália. Coincidência ou destino, faltava pouco tempo para o encerramento das inscrições – e o calendário parecia perfeito. Voltaria ao Brasil e, pouco tempo depois, poderia retornar já como estudante.

Minha fé era inabalável, mesmo errando cálculos de matemática e sem me lembrar de nada sobre trigonometria, geometria espacial ou funções de segundo e terceiro grau. Na Itália, existe um exame nacional semelhante ao Enem, mas dividido por áreas: Engenharia, Medicina, Ciências Humanas, Direito, entre outras. Como ainda não falava italiano, decidi aplicar para um curso em inglês – sim, muitas universidades italianas oferecem programas totalmente em inglês. Minhas escolhas foram Administração e Direito Internacional.

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A prova é feita online, mas claro, com um sistema de verificação. Você se conecta pelo computador, posiciona o celular para filmar o quarto e instala um software que monitora todo o processo, garantindo que não haja consulta externa. É possível refazer o exame uma vez por mês, durante o período válido, e até realizá-lo do Brasil. O teste para os cursos escolhidos incluía questões de matemática, lógica, interpretação de texto, atualidades e cultura geral. Achei particularmente interessante a forma como a educação italiana valoriza o raciocínio lógico e o pensamento crítico, algo que começa cedo – aqui, os estudantes aprendem até latim e grego no ensino médio. O verdadeiro desafio, porém, foi o tempo: as perguntas exigem rapidez e precisão.

Enviei toda a documentação traduzida e apostilada, retornei ao Brasil e, pouco tempo depois, recebi o resultado. Não passei. Mesmo assim, minha vontade de ficar não diminuiu. A melhor alternativa foi ingressar em um curso intensivo de língua italiana, e em apenas quatro meses atingi fluência. Foi nesse processo que tudo mudou: o que antes era apenas uma questão burocrática começou a se transformar em um sonho real. A Universidade de Turim (Università degli Studi di Torino) é uma das mais antigas e tradicionais da Europa. Fundada em 1404, carrega mais de seis séculos de história e é reconhecida mundialmente pela excelência acadêmica. Turim, além disso, é o coração da televisão italiana – sede da emissora RAI e uma cidade vibrante, cultural e artística.

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Unindo minha paixão pela escrita, pela arte e pela comunicação, a resposta parecia óbvia: Scienze della Comunicazione. Desta vez, já com a certificação oficial de fluência em italiano (exame CILS), pude aplicar com confiança. E o resultado, finalmente, foi positivo: passei! Recém ingressei no curso, mas já me sinto profundamente realizada. O sistema universitário italiano é bem diferente do brasileiro. Aqui, não há estrutura de avaliação por semestres nem presença obrigatória. Os professores disponibilizam o material online e indicam bibliografia para quem opta por estudar por conta própria. Mas isso não significa que seja mais fácil. Muito pelo contrário! O estudo é extremamente denso e exige muito do estudante.

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As provas acontecem em sessões, o que permite escolher quando você se sente preparado para realizá-las. É possível, por exemplo, estudar uma matéria no primeiro semestre e fazer a prova apenas no terceiro. E, o mais curioso: se o resultado não agradar, você pode recusá-lo e refazer o exame em uma sessão futura até atingir a nota desejada. Outro detalhe interessante é que a maioria das provas é oral, realizadas em auditórios, diante de outros estudantes. Uma experiência que exige não só domínio do conteúdo, mas também autoconfiança e clareza ao se expressar.

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Atualmente, minha única disciplina é Literatura Italiana Contemporânea, e me sinto honrada em mergulhar em uma das literaturas mais belas do mundo. Estudar em uma língua que não é minha língua materna exige cinco vezes mais esforço, mas também sei que estou levando meu italiano para um outro nível e abrindo um novo mundo dentro da minha própria mente. No próximo semestre, terei seis matérias – então, por enquanto, estou aproveitando para entrar no ritmo e me adaptar ao método.

Quando pensamos em estudar no exterior, o primeiro país que vem à mente costuma ser os Estados Unidos. Mas os custos são altíssimos – uma universidade pública pode custar mais do que 30 mil dólares por ano, o que leva muitos jovens a buscar bolsas através do esporte ou de atividades extracurriculares.
O que pouca gente sabe é que estudar na Itália é surpreendentemente acessível. O valor anual do meu curso é de 600 euros. Além disso, há diversas oportunidades de bolsas de estudo, que podem cobrir parte das despesas de moradia, alimentação e materiais.

Escrevo este texto para quem sonha em estudar fora, mas acha que é impossível. A Itália é um país que acolhe estudantes do mundo todo e, sim, é possível viver essa experiência com planejamento e coragem.
Se você tem dúvidas sobre o processo de aplicação, cursos de língua ou universidades italianas, pode me escrever. Compartilhar conhecimento também é uma forma de construir pontes, e talvez a sua travessia comece por aqui.

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