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OBRA

Literatura: arte como via para a formação

Foto: Alencar da Rosa

Marli Silveira, homenageada da Feira do Livro, lança obra na qual reflete sobre papel da arte como forma para alcançar o sublime

O novo livro da santa-cruzense Marli Silveira, escritora homenageada da 35ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, que esteve em realização ao longo desta semana (até a quinta-feira, quando foi cancelada em virtude do clima), propõe uma reflexão sobre a importância da fruição de todas as formas de arte para o ser humano. A obra Psicagogia da experiência estética: o sublime existencial, lançada pelo selo República do Livro/Discurso Editorial, a princípio teria sessão de autógrafos neste sábado, no ambiente da feira, mas deve ter novo lançamento marcado para em breve, provavelmente ainda para maio.

O professor Claudio Almir Dalbosco, da Universidade de Passo Fundo, em apresentação, enfatiza que “o sublime consiste no esforço quase sobre-humano de procurar dizer o indizível, de buscar apreender o inapreensível”. E complementa: “o sublime permite apoderar-se da fragilidade estranhamente aberta para o possível”.

Marli reflete sobre o papel da arte e, nela, da literatura (da poesia), como via para a plena realização da condição humana, ou para a plena expressão da humanidade. É a experiência estética compreendida como experiência formativa. Dalbosco frisa: “A poesia significa – e precisamente aí reside seu alto valor formativo – a maneira humana mais adequada de contornar a insolubilidade da própria existência humana”.

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Já o professor e escritor Luiz Antonio de Assis Brasil diz que “Marli Silveira escreveu este livro para demonstrar, com sólidos argumentos, de calado filosófico e da ordem da cultura, como, de fato, a experiência estética (fonte de prazer, entre outras coisas) é uma instância de conhecimento e, portanto, de formação”.

Entre as bases que Marli aponta estão Platão, Aristóteles e Heidegger, este um filósofo a cuja obra ela se dedica há vários anos. E cita a experiência estética da literatura, “compreendida como experiência capaz de lançar o indivíduo humano sobre o seu próprio modo se desdobrando, inscrevendo-se pela sua aderência ontológica ao tensionamento do si-mesmo aberto pela disponibilidade própria daquele que se deixa ‘tocar’ pela experiência estética.”

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Psicagogia: condução da alma

O professor Claudio Almir Dalbosco, em seu texto introdutório ao livo, contextualiza o termo psicagogia, referido por Marli no título. Reconstruído de sua etimologia grega, psicagogia significa “condução da alma”, sendo remetida à figura mitológica de Hermes. Desse sentido originário, esclarece Dalbosco, destacam-se dois aspectos que serão decisivos para o subsequente sentido formativo da estética: se é compreendida como “condução da alma”, a psicagogia refere-se à arte de governar e, sendo assim, contém já em sua origem um tema pedagógico de fundo eminentemente político.

O segundo aspecto diz respeito a sua dimensão propriamente hermenêutica, cobrindo o sentido de mediação entre discursos estranhos e diferentes entre si que a própria figura mitológica de Hermes simboliza. “Interpretar o sentido de discursos estranhos e buscar colocá-los em jogo entre si é o papel da força mediadora da linguagem hermenêutica”, observa. “Já podemos ver, antecipadamente, a riqueza existente no sentido etimológico da psicagogia, que consiste na arte de governar mediando discursos estranhos entre si. Isso exige longa formação ético-política, da qual a experiência estética é um exercício preparatório indispensável.”

Para que a filosofia ou o discurso filosófico possa repercutir no movimento da alma, precisa necessariamente encantar, exercer persuasão, inscrevendo-se no processo de transformação que é próprio da psicagogia retórica. Inclusive, Platão chega a se referir aos filósofos como ‘loucos’ (parakínon) na medida em que se assemelham aos poetas que são figuras inspiradas, portanto, que se movem pelo interior da mania benéfica (Platão, 2018).

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Não devemos desconsiderar que o movimento da alma se refere tanto a um processo físico quanto anímico e cognitivo, reverberados na arte médica, na composição da tragédia e na retórica (ação benéfica ou maléfica proporcional ao grau de verdade, ou ao movimento conduzido de forma adequada ou não). O que nos leva a reconhecer que o movimento pode ser conduzido para o bem e para o mal, de onde repercute um importante indicativo de que a estrutura da alma humana é constituída de elementos também da ordem das pulsões violentas.

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