A comunidade pesqueira de Barra da Lagoa, bairro de Florianópolis, capital de Santa Catarina, transformou-se no cenário de um belo e instigante longa-metragem nacional. Trata-se de Livros Restantes, obra escrita e dirigida pela cineasta Marcia Paraiso que tem como protagonista a atriz Denise Fraga.

A convite da Primeiro Plano, a Gazeta do Sul assistiu com exclusividade à obra cinematográfica que conta a história de Ana Catarina (vivida por Denise), uma professora que decide mudar-se para Portugal após viver toda a sua vida na comunidade pesqueira de Florianópolis. Antes de começar a vida nova no velho continente, ela decide se desvencilhar dos cinco livros que restam em sua estante.

Ana embarca em uma aventura para reencontrar aqueles que a presentearam com as obras literárias, que contêm não só dedicatórias, mas também lembranças memórias do passado. Na sua jornada nostálgica, acaba descobrindo que as pessoas não são as mesmas de décadas atrás.

“O filme é para todo mundo que quer se reinaugurar. Dá vontade de pensar sobre a própria vida, encontrar amigos e juntar pedaços de você que foram deixados pelo caminho.”
Denise fraga
Atriz

Com um roteiro bem amarrado e uma condução narrativa agradável, Livros Restantes é um “comfort movie” para todos os públicos que fará o público se divertir e refletir enquanto acompanha a aventura de Ana. E Márcia sabe aproveitar com primor as belas paisagens e construções da Barra da Lagoa, servindo de incentivo para conhecer a comunidade e visitar os lugares que aparecem na obra.
A escolha pelo bairro da capital catarinense não foi ao acaso: a diretora carioca vive em Florianópolis há 22 anos. Nesse período, conheceu a cultura manezinha e encontrou lá uma relação comunitária muito forte.

Para além das qualidades técnicas, o filme também se destaca pela maneira com que explora e aprofunda as relações humanas. Tal fator deve-se não apenas ao excelente roteiro, com diálogos e situações memoráveis e emocionantes, mas ao excelente elenco. Denise Fraga parece ter nascido para viver Ana, a qual interpreta com uma naturalidade e familiaridade únicas. O espectador cria uma relação íntima com a personagem, sorrindo quando ela está feliz e frustrando-se quando os planos não ocorrem como ela esperava.

“Quando estamos entre nós, mulheres, não temos medo de demonstrar nossas inseguranças e fragilidades. Também não temos que mostrar o tempo todo nossa segurança ou competência, o que às vezes acontece quando estamos com um parceiro de trabalho que é homem. Então é muito bom.“
Márcia Paraiso
Diretora

Em entrevista exclusiva para a Gazeta do Sul, a atriz falou sobre o desafio de dar vida à personagem das páginas do roteiro. “Uma das minhas felicidades que tenho, quando recebo um convite para um filme, é fazer um diretor feliz, porque sei o que significa um longa na vida de um cineasta”, explicou.
E Denise mergulhou no papel de Ana sem dificuldade. Durante o processo, tornou-se amiga de Márcia, a qual disse que tem um talento para escutar as pessoas, além de interesse pelos lugares onde viveu. “Nós tivemos uma confluência de questões, algo da maturidade, que você pensa como é quer viver o resto da sua vida. Acho que, quando chegamos a uma certa idade, começamos a pensar um pouco nisso e o que queremos fazer com o tempo que resta”, afirmou.

Livros Restantes destaca-se ainda por ter sido filmado por uma equipe composta majoritariamente por mulheres, que assumiram funções importantes da produção, incluindo a direção de fotografia e arte, além do som e montagem. Márcia, que começou no audiovisual na década de 1990, recorda-se que, no início da carreira, existiam funções predeterminadas para as mulheres assumirem, incluindo figurino e arte. Porém, de acordo com a cineasta, políticas públicas mais identitárias contribuíram para que ela e outras mulheres ocupassem outros cargos, inclusive a direção. “Sempre tive esse desejo de ter uma equipe de mulheres. E isso é um ato político’, ressaltou.