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PALESTRA

Luiz Antonio Simas traz um olhar sobre a brasilidade a Santa Cruz

Historiador, professor e escritor, Luiz Antonio Simas estará na Unisc na próxima terça-feira | Foto: Victor Hugo Vasconcelos /Divulgação

Um dos maiores estudiosos sobre cultura popular e sobre a diversidade que caracteriza a sociedade brasileira estará em Santa Cruz do Sul na próxima terça-feira, 27. Por iniciativa do Circuito Sesc de Literatura, virá à cidade o historiador, professor e escritor carioca Luiz Antonio Simas, autor de mais de 30 livros de crônicas, ensaios e pesquisas em áreas tão variadas como samba, carnaval, espiritualidade e religiões de matriz afro e personagens relevantes da cena artística e cultural. A palestra dele, seguida de bate-papo, ocorrerá a partir das 19 horas, no anfiteatro do Bloco 18 do campus da Unisc, com mediação do professor de História Mateus Skolaude. A entrada é franca.

Aos 57 anos, Simas é filho e neto de pernambucanos e alagoanos. É mestre em História Social pela UFRJ, professor de história, educador popular, escritor, poeta e compositor. Sua estreia na publicação de livro ocorreu em 2009, com O vidente míope, pela editora Folha Seca. Com suas obras seguintes, foi três vezes finalista do Prêmio Jabuti, o mais importante em realidade nacional, por Coisas nossas (José Olympio, 2017), O corpo encantado das ruas (Civilização Brasileira, 2019) e Sonetos de birosca e poemas de terreiro (José Olympio, 2022), tendo sido este seu primeiro livro de poesia.

Se não ganhou por esses três títulos, arrematou o Jabuti na categoria Livro do Ano, de 2016, pelo Dicionário da história social do samba (Civilização Brasileira, 2015), escrito em parceria com Nei Lopes. Desenvolve ainda ampla carreira como compositor, com canções gravadas por nomes como Maria Rita, Marcelo D2, Criolo, Rita Benneditto e Fabiana Cozza. Além disso, atua como compositor de sambas-enredo para importantes escolas do Carnaval carioca.

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Integrado à realidade cultural e artística de sua terra natal, o Rio de Janeiro, capital, mantém projetos populares de aulas públicas em ruas, praças, botequins, coretos, quadras de escolas de samba e terreiros. Já no contexto das atividades em torno da condição do Rio de Capital Mundial do Livro, em iniciativa da Unesco, o nome de Luiz Antonio Simas foi apontado como um dos mais importantes cronistas a registrar e a representar a literatura na cidade.

Nesse sentido, seu livro O corpo encantado das ruas, no qual estabelece intertexto natural com a obra A alma encantadora das ruas, de João do Rio, constitui oportunidade valiosa e diferenciada de aproximação com o jeito de ser e de viver no Rio de Janeiro dos dias atuais.

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Serviço

  • O QUÊ: palestra e bate-papo com o escritor e professor carioca Luiz Antonio Simas, com mediação do professor Mateus Skolaude, da Unisc, pelo Circuito Sesc de Literatura, com entrada franca
  • QUANDO: na próxima terça-feira, dia 27, a partir das 19 horas
  • ONDE: no anfiteatro da Unisc, no Bloco 18 do campus
  • REALIZAÇÃO: Sesc/RS, com apoio de várias instâncias da Unisc, como os cursos de História, Letras, Pedagogia e Geografia, e os programas de Pós-Graduação em Letras, Desenvolvimento Regional, Educação – Mestrado e Doutorado.

“Nada mais distante da ‘imaginação percussiva’ que a vida que andamos levando, enjaulados em hospícios de concreto, desencantados do mundo, condecorados com tarjas pretas. Parecemos eufóricos desmedidos ou silenciosos deslocados. Educados na lógica normativa, somos incapazes de atentar para culturas que subvertem ritmos, rompem constâncias, acham soluções imprevisíveis e criam maneiras de preencher o vazio. Estamos morrendo prenhes de ódios e razões.

Acinzentou no Brasil. Como verdejar dinâmicas novas, saindo do conforto dos sofás em que morremos tristes e conscientes de nossa falida superioridade? Precisamos morar na encruzilhada da alteridade como mecanismo de compreensão e vivência compartilhada de mundo, com a ousadia dos surdos de terceira em baterias de escolas de samba.”

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“A pluralidade é fundamental”

O professor, historiador e escritor carioca Luiz Antonio Simas vai centrar sua palestra em Santa Cruz do Sul, na próxima terça-feira, em aspecto que está diretamente associado à riqueza das contribuições culturais dos diversos povos que formaram a nação.

Simas: o Brasil tem muita dificuldade em reconhecer a contribuição africana, indígena | Foto: Victor Hugo Vasconcelos/Divulgação

“Vou falar a respeito das brasilidades, ou seja, das culturas populares do Brasil, essas culturas que, a rigor, caracterizam certo modo de construção de sociabilidades no País, de norte a sul”, informa, em entrevista concedida à Gazeta do Sul.

“A partir disso, vou abordar como esses elementos da cultura popular, do campo simbólico das brasilidades, têm um papel de interação social, de integração social, de construção comunitária, de fortalecimento de laços identitários, na criação de redes de proteção muito importantes e, inclusive, como caminhos de transformação da vida de comunidades”, acrescenta.

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Na entrevista abaixo, Simas ainda enfatiza que o País precisa, com urgência, reconhecer mais e melhor a enorme contribuição dos negros e dos indígenas na formação nacional.

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Entrevista

Luiz Antonio Simas
Historiador, professor e escritor

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  • Gazeta do Sul: Como é a relação do senhor com o Rio Grande do Sul, inclusive em termos de pesquisas ou de parcerias?
    Luiz Antonio Simas: A cultura popular do Rio Grande do Sul é importantíssima e já foi abordada em livros meus. Mais especificamente, no Almanaque Brasilidades: um inventário do Brasil popular, em que falo de alguns mitos que envolvem a construção da identidade do Rio Grande do Sul. Em Bestiário brasileiro: monstros, visagens e assombrações também trabalho com alguns mitos brasileiros vinculados à cultura do Rio Grande do Sul.
    Evidentemente, há um interesse profundo nisso.
    Trabalhei ainda com Nei Lopes alguns verbetes vinculados ao tipo de samba que se faz aí. Isso também impacta nossa fala, impacta nossa perspectiva. E isso me parece fundamental, porque o Brasil é um país de dimensões continentais. Num país de tal porte, a própria construção da ideia de identidade nacional está vinculada à percepção dessas diferenças. A gente não vai encontrar um caminho para a construção identitária que considere que o Brasil pode ser pensado de forma homogênea. Não é. Tem particularidades, diferenças, e isso caracteriza a riqueza da nossa cultura. Essa pluralidade é fundamental.
  • O que deixa o senhor esperançoso e o que frustra em termos de realidade social brasileira contemporânea?
    Não sei se sou exatamente uma pessoa esperançosa em relação à realidade brasileira ou mundial, mas sei que sou uma pessoa absolutamente convencida da necessidade de engajamento em questões sociais, políticas. Porque essas pautas são urgentes. Se algo talvez me dê esperança é que nós hoje temos problemas sendo debatidos, discutidos no Brasil, que eram varridos para debaixo do tapete durante a maior parte da nossa história. Temas que questionam mesmo o mito da democracia racial brasileira, que colocam em questão a importância dos saberes não brancos, africanos, indígenas, para a formação da nossa cultura; uma preocupação mais efetiva com o meio ambiente, um debate sobre a intolerância e o racismo religioso. Tudo isso tem sido, digamos, mais discutido do que foi há 15, 20, 30 anos.
    E o protagonismo também em muitas dessas pautas dos negros, dos pretos, dos indígenas, isso acho que é muito relevante. De certa maneira, é algo que me deixa, digamos, um pouco mais esperançoso.
    Agora, estamos evidentemente falando de um País que durante a maior parte do tempo foi projetado para excluir. O Brasil é um projeto colonial de exclusão que, nesse sentido, é até bem-sucedido. Então, a luta contra a exclusão social, a concentração de renda, a valorização das brasilidades, os saberes que o povo do Brasil elaborou, tudo isso tem sido debatido, tudo isso considero positivo. É necessário lutar, falar, discutir, para que a gente chegue a um caminho melhor para que se possa construir um futuro mais generoso, mais compatível com a riqueza da cultura do povo brasileiro. Isso é absolutamente fundamental.
  • O Brasil é hoje um ambiente receptivo à reflexão em torno dos temas associados à condição do negro e da cultura africana? Temos sociedade mais aberta ao debate?
    É impossível pensar a cultura brasileira sem levar em consideração a impactante contribuição das populações africanas nesse processo de elaboração do que a gente entende como a cultura do Brasil. E quando a gente fala de África, está falando de uma pluralidade que envolve povos diversos, com perspectivas diversas, com relações com o mundo construídas de maneiras plurais.
    Isso é absolutamente fundamental. A gente precisa perceber isso. Até porque o horror da escravidão não pode ter uma leitura exclusivamente econômica. A pessoa que vem para cá escravizada é uma pessoa dotada de saber, de tecnologia, de relações com a espiritualidade, visões de mundo, percepções a respeito da vida, do cotidiano. E isso foi crucial para a formação do que a gente entende como cultura brasileira. E aí eu penso a cultura de maneira mais ampla. Estou me referindo à construção de sentidos de vida que envolvem aquilo que a gente come, que a gente escuta como música, as maneiras como nos vestimos, como bebemos, celebramos os nascimentos ou lamentamos a morte, rezamos, tudo isso faz parte do campo da cultura.
    E o Brasil é um país que tem uma enorme dificuldade de reconhecer que a grande contribuição para a formação do que entendemos como cultura popular brasileira não é branca: é africana, é indígena. Claro que tem o impacto da presença de europeus, de portugueses pobres, imigrantes de diversas nacionalidades; é esse caldeirão que forma a cultura brasileira.
    Agora, a presença dos africanos e das africanas é crucial, e aí quero chamar a atenção para um fato que é absolutamente fundamental: o racismo não opera somente na dimensão da cor da pele, o racismo também se manifesta no campo simbólico. Quando você desqualifica saberes, desqualifica religiões e percepções de mundo, filosofias que não são brancas, você está operando, mesmo que talvez não perceba isso, na dimensão do racismo.
    Essa é uma questão que tem sido mais discutida no Brasil, e isso é bom. O protagonismo de questões vinculadas ao negro brasileiro, dos próprios negros e negras brasileiros, é cada vez mais efetivo. Isso precisa ser dito, tem de ser trabalhado com muita atenção, porque é crucial.

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