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VALESCA DE ASSIS

Mara, minha prima loira

Foto: Banco de Imagens

MISTURANDO OS ASSUNTOS de produção literária com a vida real, quero falar-vos de uma prima, a Mara. Tínhamos quase a mesma idade e convivíamos bastante na infância, nas férias em Santa Cruz. Houve um verão intensíssimo, em que vim logo depois das aulas, com a tia Bertha Frölich. Meus pais viriam depois, no mês seguinte. Vivíamos muito longe, eu no Norte e Mara no Sul do Estado. Mas, em Santa Cruz, éramos gêmeas, uma loira, outra morena. 

Eu não bebia leite desde os tempos da mamadeira, pois me fazia mal. Porém, como, naquela época, as crianças não tinham querer, meu avô exigiu que eu tomasse leite, para não ficar com os ossos fracos. Dito e feito, passei a beber café-com-leite. Foi quando Mara teve uma ideia genial: se eu queria ser loira – e sempre quis! – e ela desejava ser morena como eu, Mara passaria a beber só café e eu, com o leite, me tornaria mais clara. Talvez ela tivesse de subornar a cozinheira…

Antes que passasse uma semana, fiquei doente. Tão mal, que meus avós chamaram o médico em casa. Ao final de um demorado exame, o doutor disse que o leite estava me fazendo mal, e explicou aos avós que algumas crianças não suportavam essa bebida tão saudável para a maioria.

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Mara e eu passamos muitos anos sem nos encontrar. Um dia, cedo da manhã, soube da morte do vô Fritz. Logo comprei passagem para Santa Cruz e, quando embarquei no ônibus, quem estava ali? A Mara, que também iria para o funeral. Conversamos o tempo inteiro da viagem, resumimos nossas vidas de adolescentes e adultas. Ela me contou que tinha um gato de quase vinte anos e prometeu me dar uma blusa da marca uruguaia BURMA, que ficara pequena para ela. Mara já conhecia Montevidéu. 

Prometemos visitar-nos pois a prima também já morava em Porto Alegre. Algumas vezes nos encontramos. Um dia, soube que ela havia sido atropelada e estava muito mal. Fui até o hospital, mas não pude vê-la ainda viva. Sua irmã QUICA ficou com o Gato.

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Voltando ao funeral do avô, meus pais vieram de carona com um grande amigo, meio parente, e que tinha sido pagem de casamento deles. Na volta, me ofereceram carona, e eu aceitei. Quase chegando a Porto Alegre, o “tio”, largando o volante, olhou para meu pai, ao seu lado, e comentou:

– Sabes, Tilly, faz tempo que tenho problemas de visão. Há anos tento de tudo. Agora, estou praticamente cego… (pano rápido!)

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Com Mara, aquela prima tão imaginativa, comecei a acreditar que as pessoas, a vida e o mundo podiam ser diferentes, talvez melhores. Que a magia era possível. Por nosso avô, nos unimos mais uma vez.

Fiquem bem!

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