O que deveria ser um atendimento zeloso e prestativo para uma pessoa com problemas de saúde se transformou em um verdadeiro pesadelo. Na manhã dessa quinta-feira, 22, uma mulher, de 45 anos, moradora de Santa Cruz do Sul, procurou a Gazeta para denunciar um caso de atendimento médico inadequado realizado por um profissional durante uma perícia médica realizada no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de Lajeado, no Vale do Taquari. Por segurança, a identidade da vítima foi preservada.
Em entrevista ao Portal Gaz, ela relatou que trabalhava em uma empresa multinacional de Santa Cruz do Sul quando descobriu que possuía fibromialgia, doença crônica caracterizada por dor muscular generalizada, artrose severa nos ossos e músculos, hipertensão arterial, neuropatia nos braços e suspeita de lesão no cérebro e coluna. Os sintomas apareceram em 2019, mas a investigação teve início em 2024. A partir dos diagnósticos ela se afastou do trabalho profissional em janeiro deste ano.
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Devido aos problemas de saúde, ela obteve um benefício preliminar de 90 dias do INSS que se encerrou no dia 3 de março. A mulher foi encaminhada novamente ao INSS de Santa Cruz do Sul para solicitar, de forma presencial, a prorrogação do benefício ou uma aposentadoria devido aos problemas, sendo necessária a realização de uma perícia médica para que o benefício fosse novamente concedido.
Como não havia vaga disponível para perícia no INSS de Santa Cruz do Sul, ela foi encaminhada para realizar o procedimento no INSS de Lajeado. Mesmo com dificuldades de locomoção e dor, a mulher se deslocou até a cidade do Vale do Taquari na manhã da última segunda-feira, 19, para realizar a perícia. Ao chegar, contou que o perito, com uma suposta rispidez, pediu para ela fechar a porta.
Após apresentar os documentos que comprovavam os seus problemas, ainda demonstrando descortesia, ele questionou sobre o local onde a mulher trabalhava. “Relatei que estava desempregada e que a empresa onde estava era uma multinacional, que me fez parar porque eu não poderia trabalhar doente com muleta e dores. Expliquei toda a minha situação, mas quando eu disse que estava desempregada, ele já esboçou um sorriso irônico”, salientou.
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A mulher relatou que o perito solicitou ver os documentos e que passou a escolher o que ele queria olhar e a fazer algumas anotações. Após, o perito pediu que ela sentasse em uma maca. Como possui dificuldades de locomoção, ela pediu ajuda ao médico, no entanto, acabou sendo ignorada. Durante o atendimento, o médico começou a apertar os punhos e braços da mulher. Em função da dor, ela pediu para que o perito não apertasse seu corpo com muita força, pois poderia sentir náuseas. Novamente, foi ignorada, momento em que acabou sendo agredida com um tapa na mão esquerda. “Ele apertou o meu polegar e perguntou se estava doendo. Respondi que sim e pedi para ele parar. Ele falou, ‘Ah é?’ e me deu um tapa na mão esquerda. Questionei: ‘doutor, o que é isso?’ Isso que o senhor fez, doeu. Ele só pediu que eu deitasse”, contou a mulher sobre o momento da agressão física.
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A avaliação seguiu com o perito ignorando os pedidos da mulher para que cessasse com os “apertos” em razão das dores pelo corpo. Em outro momento, o perito torceu a sua perna. “Eu gritei e pedi para ele parar porque estava doendo. Eu via que ele estava fazendo aquilo de crueldade. Aquilo não era examinar”, desabafou.
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Ainda, ela ressaltou que o perito manteve a rispidez ao encerrar o atendimento, destacando que poderia pegar as coisas e ir embora. Em estado de choque em relação ao ocorrido a mulher decidiu buscar ajuda e denunciar o caso. A vítima fez um registro na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) e, além disso, possui orientação jurídica de uma advogada trabalhista. “Isso é mais comum do que a gente pensa, mas as pessoas não têm coragem de contar. A gente contribui com a previdência uma vida toda e no momento em que precisa desta miséria deles, tem que passar por tudo isso. Eu estou aqui querendo justiça para que não aconteça mais com outra pessoa amanhã ou depois”, frisou a mulher que, atualmente, está vivendo com auxílio de familiares e pessoas próximas.
Polícia Federal investiga o caso
Em contato com a reportagem da Gazeta do Sul, a delegada Raquel Schneider, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), confirmou que recebeu o registro. Como a denúncia envolve um órgão federal o caso será investigado pela Polícia Federal. A reportagem entrou em contato com a Polícia Federal no fim da tarde desta quinta-feira. O delegado Gustavo Schneider confirmou que o caso já está em investigação e preferiu não fornecer detalhes. A Gazeta também tentou contato com o INSS de Lajeado e não obteve retorno. O espaço segue aberto para a manifestação do órgão federal sobre o caso.
* Colaborou Guilherme Andriolo
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