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Mulheres conquistam espaço e protagonismo em cavalgadas no Rio Grande do Sul

Cavalgadas do Mar e da Serra – em fevereiro e abril, respectivamente – são próximas metas de Cristina

No lombo do cavalo, elas alcançam novos horizontes. Na estrada, compartilham vivências que, antes, pertenciam somente aos homens. E assim, desbravando novos horizontes, mergulhadas nas belezas do pampa gaúcho, mulheres reverenciam o tradicionalismo gaúcho. Amparadas pela coragem, pela força e pelo protagonismo, escrevem novos capítulos de uma história que não se cansa de recomeçar. 

Nas cavalgadas femininas, grupos inspiram gerações por onde passam, deixando o exemplo como principal legado. São brincos-de-princesa que perambulam por planícies e serras, transmitindo a beleza e o amor vividos no Rio Grande do Sul. Seja entre amigas ou em família, as prendas se entregam para viver com afinco as tradições. De bota, bombacha e chapéu elas dominam as rédeas sob as bênçãos do Patrão do Céu.

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Em boa companhia

Acostumados a acompanhar as aventuras da mãe em trilhas, rapel e rafting, o mestre cervejeiro Rhafael Dutra e a escritora e acadêmica de Administração Isadora Kannenberg esperavam que, com o tempo, ela fosse sossegar. Ledo engano. O passar dos anos apenas trouxe outra paixão, ainda mais intensa, para Cristina Dutra: as cavalgadas. Já são 13 anos envolvida na atividade. E o melhor: sem prazo para acabar.

Cristina Dutra e o cavalo Baio, companheiro de jornada

Nascida em Paraguaçu Paulista, no Estado de São Paulo, aos 49 anos a empreendedora coleciona histórias. 

Apesar da torcida inicial por dias mais tranquilos, os filhos seguem apoiando a jornada, assim como os amigos. Exemplo disso foi o presente de aniversário que recebeu da filha há dois anos: o Baio (Senhor da Bela Estância), um cavalo crioulo, pelagem baia, de 4 anos e meio. “Foi um gesto de amor que nunca vou esquecer”, conta.

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A surpresa, aliás, veio após a estreia de Cristina, quando se aventurou com um animal emprestado, em 2023. Após ver uma publicação de Samara Dorfey, organizadora da Cavalgada das Anitas, fez a inscrição sem nem ter cavalo. “Tentei alugar, mas foi difícil até que um amigo me emprestou um. Cada vez que me ligavam perguntando sobre documentação ou encilhas, meu coração disparava. Mas estava decidida a ir, mesmo que perdesse o dinheiro. Só de tentar, já valeria a pena”.

A tentativa, aliás, deu certo. “No dia da cavalgada, a emoção foi enorme. Ver tantas mulheres reunidas, a oração antes de partir… Me tocou profundamente. Convidei a filha de um amigo para ir comigo. Ela topou, e nos ajudaram a encilhar. A partir dali, nunca mais parei.” Com sol na saída, chuva na chegada e queda de cima do cavalo, a experiência tornou-se inesquecível. “Subi novamente e fui até o fim. Concluí a cavalgada com orgulho.”

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Entre o amor e a coragem

Até o momento, Cristina Dutra já participou de 15 cavalgadas. Apenas neste ano foram oito, com outras quatro programadas até dezembro. E para que tudo corra bem, há estratégias. “O Baio sempre passa uma semana comigo antes, para se ambientar, escutar minhas conversas ao pé da orelha e se sentir seguro.” A parceria já rendeu passagens pela Cavalgada das Prendas, em Minas do Leão; a do Grupo de Cavaleiras de Trança e Espora, de Encruzilhada do Sul, e a da Costa Doce, “a mais longa e intensa até hoje”, revela a cavaleira. “Foram dez dias passando por dunas, lagoas e paisagens incríveis. Encarei até a travessia da Lagoa dos Patos. E eu tenho medo de água!”.

Apesar de reconhecer que nem sempre é fácil “ser mulher em um ambiente tão masculino”, e de afirmar que cavalgadas mistas exigem ainda mais coragem, Cristina reforça o sentimento único das cavalgadas femininas, como a das Anitas e a das Prendas, de Minas do Leão. “Nelas encontramos uma parceria única, liberdade e histórias incríveis de superação. São momentos de acolhimento, conexão e força entre mulheres que se entendem.”

Para ela, que afirma não ter tido uma inspiração, mas apenas determinação, coragem e a oportunidade certa, as cavalgadas vão muito além de montar. “É sobre conexão, escolha, amizade, aprendizado e, acima de tudo, amor. Cada desafio que enfrentamos no campo fortalece quem somos fora dele”, afirma.

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E para os que têm curiosidade, especialmente as mulheres, ela deixa um conselho. 

“Se você sente vontade, vá. Comece com curiosidade, continue com coragem e termine com orgulho de si mesma. Porque toda mulher pode – e merece – viver a força que é estar em cima de um cavalo, olhando o horizonte, sendo dona do seu caminho.”

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Entre doses de coragem e liberdade

Elas têm personalidades distintas, mas um propósito em comum. Pelos pagos, distribuem inspiração, solidariedade e amor pela tradição. Desde 2020, as integrantes da Cavalgada das Anitas colecionam boas histórias por onde andam. Criado em julho de 2020, hoje o grupo conta com 36 mulheres.

A grande inspiração é Anita Garibaldi, “uma mulher guerreira e à frente do seu tempo, que fez história participando da Revolução Farroupilha, lutando bravamente ao lado de seu marido Giuseppe Garilbaldi”, conta Samara Dorfey. Com o grupo, segundo ela, não é diferente. “Os maridos e companheiros seguem ao nosso lado, nos apoiando em cada edição.”

Samara: “Queremos mostrar a importância e a força da mulher gaúcha”

Por ano, as Anitas realizam duas cavalgadas: uma em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, em março, e a Cavalgada da Família, em agosto. “Juntas queremos mostrar a importância e a força da mulher gaúcha. O cavalo e a tradição nos unem, mas não nos definem. Desde a primeira edição, nosso propósito era inspirar mulheres a deixar nossa marca”, afirma Samara.

Além das atividades campeiras, as cavaleiras prezam pela solidariedade. Como exemplo estão o projeto social em parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), o Anitas de mãos dadas com a inclusão, e a atuação, em 2024, como voluntárias, auxiliando os atingidos pelas enchentes na região. 

“O que define uma Anita não é a bota, o cavalo, a bombacha ou o lenço. É muito mais que isso! Nós inspiramos mulheres e crianças. Nós as encorajamos a ter a experiência de montar e cavalgar conosco, de ter o gosto da liberdade em cima do lombo de um cavalo”, conclui Samara.

Neste ano, em março, a Cavalgada das Anitas reuniu cem mulheres de vários lugares do Estado. Grupo também faz uma atividade em agosto

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Em família

Na morada da agricultora Juliana Bullerjahn Kaufmann Mazuim, de 45 anos, no Bairro Bom Jesus, em Vera Cruz, nasceu a ideia da Cavalgada das Anitas. Num domingo à tarde, a partir de uma conversa entre ela e Samara Dorfey, teve início a formação do grupo, em 2020.

Para participar das atividades, Juliana conta com a companhia das filhas Rafaela Mazuim, 14, e Eliana Mazuim, 10. Até hoje elas marcaram presença em todas as edições promovidas. 

Juliana Mazuim com as filhas Rafaela Mazuim e Eliana Mazuim

Além disso, já percorreram demais trechos pelo Estado. “Nós participamos porque é algo que gostamos de viver e sentir. E, mais do que isso, representa a união e a força feminina”, conta Juliana. 

Apesar da participação nas cavalgadas ter iniciado há cinco anos, as pequenas sempre tiveram apreço pelo meio, conta a mãe. Uma delas, a “Rafa”, pratica o laço comprido. 

Na família, as vivências campeiras são compartilhadas em rodeios e até no ofício do pai, que é guasqueiro. Um exemplo de perto que mostra o amor à tradição.

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Protagonismo reconhecido

Apesar da forte atuação feminina no meio tradicionalista, a presença da prenda só foi aceita oficialmente nesse espaço em 1949, a partir do surgimento do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Em 2019 foram comemorados os 70 anos da inclusão das mulheres no movimento.

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