Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

LUÍS FERNANDO FERREIRA

Nada de admirável nisso

O progresso é uma construção, uma ideia que corresponde à realidade observável em alguns aspectos. Não em outros. Hoje é possível eliminar ou ao menos controlar doenças que, há alguns séculos, significavam morte certa. Não se pode, então, negar o progresso científico na medicina.

Mas não existe nada de fantástico nisso. É apenas um processo, como já observou Franz Kafka. “É como pretender elogiar alguém porque, à medida que os anos passam, ele fica mais velho”, escreveu ele no conto Investigações de um cão. A evolução científica não corresponde por tabela a um progresso humano, moral.

LEIA TAMBÉM: Dupla representação

Publicidade

A pessoa mais velha não é necessariamente “melhor” do que sua versão jovem; por vezes, é até o contrário que se percebe. Pois nada impede que, com o tempo, ela perca seu viço e energia sem ter compensações para equilibrar a balança. Em termos coletivos, isso lembra um pouco o filósofo Jean-Jacques Rousseau no seu Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens.

Em dado momento, Rousseau compara animais em diferentes ambientes: doméstico e selvagem. Acredita que o cavalo, o cão e o touro têm constituição mais robusta e vigorosa nas florestas e campos do que entre as cercas de uma propriedade. Eles “perdem a metade dessas vantagens ao se tornarem domésticos, como se todos os nossos cuidados em tratar bem e alimentar esses animais só tivessem por resultado abastardá-los”.

Vai além e estende esse paralelo aos seres humanos. O homem, ao se tornar sociável, ganha em segurança e conforto, mas se torna servil e fraco. Em resumo: ganha-se aqui, perde-se ali.

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Machado de Assis revela o Brasil

A civilização é uma construção. E com alicerces frágeis: respira melhor em discursos e textos do que na realidade. Faz parte da ideia de “progresso civilizatório”, por exemplo, uma ordem internacional baseada no direito e não na força, na resolução diplomática de conflitos. Duas guerras mundiais haviam sinalizado que esse, agora, seria um caminho inevitável. Mas…

Agosto de 2025: após invadir um país vizinho e militarmente mais fraco, potência nuclear exige um acordo de paz para lhe ceder oficialmente territórios que conquistou à força. Tudo apresentado com grandes palavras: segurança, liberdade, paz, ecoadas em redes digitais de informação que desinformam.

Publicidade

Os tempos são de progresso midiático acelerado, mas não há a “aldeia global” de Marshall McLuhan. Há muitas aldeias paroquiais, feudos ou guetos digitais que prestam atenção a pouca coisa além de seus muros.

Anda-se para trás com calçados novos.

LEIA MAIS TEXTOS DE LUÍS FERREIRA

Publicidade

QUER RECEBER NOTÍCIAS DE SANTA CRUZ DO SUL E REGIÃO NO SEU CELULAR? ENTRE NO NOSSO NOVO CANAL DO WHATSAPP CLICANDO AQUI 📲. AINDA NÃO É ASSINANTE GAZETA? CLIQUE AQUI E FAÇA AGORA!

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.