Ainda está bem vivo na memória. Todos vimos, poucos dias atrás, reiteradas vezes e de fontes as mais diversas, pessoas se indignarem com a performance de seus times do coração nas competições em que apostaram todas as suas fichas.
Fiquei intrigado: por que no esporte – ou no clubismo, se preferirem – os mais fanáticos torcedores conseguem inibir a paixão e, diante do iminente fracasso do seu time, se tornam críticos ácidos, até cruéis, com os protagonistas da sua decepção? E por que não reproduzem a mesma postura frente a outras frustrações que a vida apresenta?
Ah, porque torcer por um clube, uma camisa, não tem medida – você pode responder. E vai se dizer convicto de que a dor de uma derrota ou a decepção frente a um fracasso inesperado não afetam uma paixão que está enraizada no DNA de nossa composição afetiva e emocional.
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Por que, diante de outros vieses, igualmente passionais em nossa existência, somos tão intolerantes com a crítica e, em definitivo, sequer consideramos a possibilidade de admitir um fracasso?
Na política, por exemplo. Vejo projetos afundarem, planos fracassarem, promessas escoarem para o ralo. Restam narrativas e cortinas de fumaça. Mas não percebo desconforto, constrangimento e, muito menos, arrependimento. Nem dos atores – os que deveriam ser protagonistas – nem da plateia que, iludida e obcecada, continua batendo palmas mesmo que não entenda por quê.
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Claro, tem os que torcem contra, os que veem maracutaia em tudo e querem mesmo é ver o circo pegar fogo. E são muitos. Talvez até sejam maioria. Mas isso quem vai decidir – se são maioria ou não – é algum juiz togado.
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Semanas atrás, longe de casa, me debrucei sobre uma leitura inquietante. Por recomendação, comecei a ler – e devorei – Pensamento Eficaz, em que Shane Parrish faz uma compilação do melhor que colheu de entrevistas com os mais renomados pensadores de nossa época.
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O que mais impressiona e cativa neste best seller é que não há fórmulas mágicas ou revolucionárias para se dar bem na vida, seja qual for a área ou o foco da atividade.
É pouco, quase nada, mas um parágrafo do livro dá a exata dimensão do que estou refletindo: “A maioria das pessoas passa a vida supondo que estão certas… e que quem não vê as coisas do seu jeito está errado. Nós confundimos nosso ideal de mundo com a efetiva realidade do mundo. Canalizamos uma energia descomunal para provar aos outros – ou a nós mesmos – que estamos certos. Quando isso acontece, estamos menos preocupados com os resultados e mais concentrados em proteger nosso ego”.
Na mosca! Eu só acrescentaria: além do ego, muitas vezes as pessoas estão preocupadas mesmo é em defender seus interesses. As convicções se adaptam às circunstâncias. E ao momento.
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