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FORA DE PAUTA

O mundo tem salvação?

Foto: Heloisa Poll

As catástrofes climáticas, como as enchentes que arrasaram o Rio Grande do Sul no ano passado, e os alagamentos localizados, como os de Santa Cruz do Sul no início de 2001 – em grande parte devido ao volume de lixo nas redes de escoamento –, parecem ter sido meros spoilers ignorados. Afinal, pelo jeito, a mãe natureza é a única a reprovar a lição de casa.

Basta uma chuvinha mais forte no começo desta semana para constatar que o senso de conscientização está em falta nas prateleiras do civismo. É só dar uma espiada nas bocas de lobo da cidade: um verdadeiro banquete de entulhos e resíduos, cortesia do descarte descuidado nas ruas. Ou, se preferir uma amostra mais delicada de nossa falta de esforço, observem o número de bitucas de cigarro acumuladas nos canteiros, pacientemente esperando o caminhão do karma na Rua Marechal Floriano, no centro de Santa Cruz do Sul. Estamos falando de materiais que exigem um esforço microscópico para serem colocados no lixo ou guardados no bolso até a próxima lixeira. Mas quem se importa, certo?

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Recentemente, Belém, no Pará, sediou a 30ª Conferência das Partes (COP) da ONU sobre Mudança do Clima. O evento mobilizou líderes, cientistas e a sociedade civil para debater – e negociar, claro – ações climáticas globais, com ampla divulgação na mídia. Choveram comentários e, como diz o ditado, cada um deu seu pitaco sobre o futuro do planeta. O problema é que, enquanto discutimos o destino da Amazônia ou a emissão de carbono da China, o que, de fato, cada um de nós faz no nosso metro quadrado para aliviar a pressão no meio ambiente?

A resposta, fria e molhada, está nas ruas após cada aguaceiro. Quando observamos o festival de lixo que a chuva lava para as bocas de lobo entupidas, ou as bitucas que enfeitam os pés das tipuanas como se fossem presentes, a pergunta “o mundo tem salvação?” não é mais retórica, é um diagnóstico. Se atitudes tão banais para a melhoria do ambiente se mostram complexas para uma parcela da população, o que nos resta, além de um guarda-chuva e um estoque de paciência?

A ironia atinge o ápice quando os entulhos que obstruíram a rede de escoamento transformam a rua em um rio e invadem casas e estabelecimentos. Aí sim, chovem reclamações! É o momento mágico em que a culpa é subitamente transferida para a municipalidade, a meteorologia ou qualquer outra entidade que não seja o próprio cidadão com a embalagem de salgadinho na mão. Parece que, para alguns, a responsabilidade só existe quando a água suja bate na porta de casa.

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É preciso inverter a lógica. Os cuidados com um planeta melhor começam no nosso quintal. A separação do lixo seco do orgânico, por exemplo, não requer um doutorado em sustentabilidade, apenas duas lixeiras. É um ato de civilidade que reduz o custo de destinação dos resíduos e impulsiona a reciclagem. Da mesma forma, descartar o lixo no local correto, seja na rua, no carro ou em qualquer lugar, é o teste mais básico de Q.I. (Quociente de Integridade).

Se somos capazes de organizar a vida para ir ao trabalho, pagar contas e comentar a COP na internet, por que não conseguimos exercer a simples cidadania do descarte? Talvez a salvação do mundo não dependa de grandes tratados globais, mas sim da salvação do nosso senso de responsabilidade local. Enquanto isso, o planeta segue de olho, e as bitucas nos canteiros só aumentam a conta.

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