O Brasil sempre se enxergou jovem. O futuro parecia um território promissor, habitado por corpos cheios de energia e pela crença no “país do amanhã”. Mas o tempo, discreto e impiedoso, alterou a paisagem. O país que floresceu nos anos 1950 agora envelhece – e não sabe muito bem o que fazer com isso.
O envelhecimento da população brasileira é silencioso, mas profundo. Em poucas décadas, o número de idosos dobrará, e o país carregará o peso de uma transição demográfica inédita. As ruas e os planos de governo, porém, ainda falam como se vivêssemos nos anos 1990. Falta consciência do tempo, e o tempo cobra caro.
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Há uma contradição amarga: somos uma sociedade que idolatra a juventude e descarta a velhice. A publicidade, o mercado e até a política associam valor à energia e ao desempenho, como se a experiência fosse um incômodo a ser varrido para os cantos da casa. A passagem do tempo, inerente a quem já vê quase todos os seus cabelos brancos, incomoda porque lembra o que evitamos pensar – o fim, o limite, a finitude.
Mas o envelhecimento também revela outra desigualdade: a de quem pode envelhecer. Viver muito no Brasil é um privilégio estatístico. Entre as classes mais pobres, a expectativa de vida continua quase uma década menor do que entre as mais ricas.
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Envelhecer com dignidade exige recursos, saúde e tempo – bens distribuídos de forma acentuadamente desigual. Aliás, saúde e recurso podem ser recuperados com cuidados, esforço e descanso; o tempo não espera, não para e não manda avisos.
Enquanto o corpo social envelhece, a mentalidade pública continua jovem, quase adolescente. O país fala em inovação, mas ignora o óbvio: sem políticas de cuidado, previdência sólida e valorização da experiência, a velhice se tornará um problema coletivo. Não é o envelhecimento que ameaça o futuro – é a falta de projeto para ele. Em breve entraremos num ano de eleições federais, assunto que, inevitavelmente, vai monopolizar pelo menos o quarto final de 2026.
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Quanto aos candidatos para a cadeira de presidente da República, será a terceira eleição seguida temperada por extravagâncias jurídicas, para dizer o menos. A (nova) democracia do Brasil se mostra caduca com menos de 40 anos de idade.
No âmbito social, a juventude passou a ser um espelho que já não reflete o País. Talvez seja hora de aprender a ver beleza nas rugas e sabedoria na prudente experiência dos mais antigos. O Brasil precisa descobrir que envelhecer não é perder o futuro, mas ganhar memória.
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