Um naturalista se dedica ao conhecimento da fauna, flora, habitats, ecossistemas, ciclos e processos naturais. Acrescentamos que um naturalista verdadeiro é o que se relaciona com a natureza, como alguém que se entende integrante da mesma e com ela mantém respeitosas interações conviventes distanciadas das intervenções degradadoras. Por certo, a conceituação do que é ser um autêntico naturalista merece maior aprofundamento e aperfeiçoada definição, com o que, em sentido contributivo naturalista, seguem algumas sugestões coexistenciais às quais outras mais podem e precisam ser acrescentadas:
- Dialogar com a natureza junto a rios, arroios, planícies, montanhas, unidades de conservação, geoparques, propriedades exemplares e outras feições biodiversas;
- Caminhar com o olhar multilateral, a começar por nossos pátios, ruas e praças, pelo Túnel Verde das Tipuanas e trilhas do Cinturão Verde, e pela rua Irmão Emílio nos bairros Várzea e Navegantes;
- Ler livros e textos, a exemplo de obras como Walden (H. Thoreau, 1854), A fisionomia do Rio Grande do Sul (B. Rambo, 1942), Primavera silenciosa (R. Carson, 1962), Teia da vida (Capra, 1996), Rumo ao abismo (Morin, 2007), Laudato Si (Papa Francisco, 2015), Futuro ancestral (A. Krenak, 2022), Ouvir as árvores (E. Giovenardi, 2023), Mudanças climáticas (J. P. Schmidt, 2024) e “Cuidem bem das Tipuanas”, 21-01-2025 (R. R. Beling);
- Manusear mapas e traçar as trajetórias dos viajantes naturalistas, como Humboldt e Bridi;
- Evitar ocorrências nefastas como a mortandade de peixes no rio dos Sinos em 2006, o mar em chamas no Golfo do México em 2010, os desastres de Mariana em 2015 e Brumadinho em 2019 e a tragédia de 2024/25 em nosso Estado;
- Atentar para os objetivos (ODS), programas e agendas (Cisvale), conferências e seminários de cunho preservacionista;
- Contribuir para a normatização protetiva e uso socioambiental aceitável dos recursos públicos e privados;
- Conhecer os movimentos alertadores, os mártires a exemplo de Chico Mendes e Irmã Dorothy, as estruturas institucionais de controle e orientação, como a Sema/Fepam e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade;
- Ativar-se em favor dos refugiados e vulnerabilizados, contra as guerras e prepotências imperialistas e se afastar dos negacionismos. Fazer-se proativo e solidário junto aos que mais sofrem com as catástrofes climáticas;
- Postar-se contra as concessões excluidoras de patentes e concessões, contra a devastação e queimadas, e a favor da recuperação e preservação da biodiversidade em seus diferentes biomas e nichos, bem como combater a pirataria da fauna e flora;
- Participar de conselhos, grupos de trabalho, palestras, oficinas, movimentos socioambientais, a exemplo do “Cinturão Verde”, “Lixo Zero”, dos catadores pela reciclagem popular, como apoiar a Coomcat na coleta seletiva solidária, e de oportunidades como a proposta pelo Sicredi sobre a área do antigo Kaempf;
- Consumir menos e melhor, praticar a rastreabilidade: antes da aquisição de algum produto, verificar, de fato e a fundo, a origem e trajetória do produto ofertado, seja um terreno, uma roupa e a própria alimentação;
- Manter-se fiel à causa ambiental, apesar das incompreensões e dos eventuais erros e desacertos;
- Predispor-se ao aprendizado contínuo, ao inusitado, aos insights, à sinergia, às novidades revigorantes, ao voluntariado e ao rompimento das “bolhas” engessantes;
- Agir com alegria, determinação e coragem, empatia e solidariedade, pois a natureza não é triste nem se acomoda ou se intimida;
- Madrugar e respirar profundamente o oxigênio purificante;
- Sonhar, estudar, pesquisar e trabalhar por um mundo em que o bem-estar integral das pessoas e demais criaturas, das árvores e plânctons, das águas dos rios e mares, dos ares e das terras de todos os lugares tenham imensamente mais valor do que dinheiro, cercas e muros.
Qual o seu jeito de ser naturalista?
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