Talvez eu seja injusto. Mas preciso expor algumas questões que incomodam não só a mim, mas a muitas pessoas que, resignadas, se calam. Até porque não têm um meio para se expressar ou porque acham que não devem, não têm direito ou liberdade para tanto.
Quem me lê neste espaço sabe o quanto prezo, valorizo e me orgulho da nossa Catedral. Um legado inimaginável que herdamos, sabe-se lá a que custo, renúncia, sacrifício.
Um templo, um monumento como este, não tem similar. Não é um empreendimento, muito menos um negócio ou uma aposta. Juro, toda vez que frequento esta igreja me sinto arrebatado por um sentimento de gratidão. Porque vejo em cada detalhe a expressão dos valores que carregamos conosco, aquilo em que acreditamos, que vai aquietar nossas angústias, nos acolher nos momentos mais marcantes, até para nos encaminhar à eternidade.
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Mas aqui é momento de virar a página e abrir um novo capítulo.
Final da tarde de domingo, 18 horas, uma pequena multidão sai de casa e se encaminha para a Catedral. Muitos jovens casais, alguns com filhos pequenos, pais aflitos buscando alento para a semana que está por começar. Eles não vão lá para contemplar a arquitetura impressionante, nem os pilares e vitrais majestosos.
Movidos por uma fé resiliente, eles vão orar. E esperam conectar e renovar a fé a partir de uma mensagem inspiradora, uma palavra que motive e encoraje.
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Quando olho em volta, não raras vezes me perco em meio a divagações. Até porque é muito difícil ouvir e, mais desafiador, entender o que falam aos microfones da Catedral. Já desconcentrado, me questiono: será mesmo que não há recurso tecnológico que resolva o problema da acústica na nossa igreja? Ou será despreparo, descuido na forma de transmitir as mensagens?
Dias atrás, foi inevitável não reparar em duas mulheres acomodadas dois bancos à frente – deviam ser mãe e filha, talvez tia e sobrinha – gesticulando uma para a outra, mão no ouvido, como a tentar entender: o que estão falando? A pessoa ao lado ergueu e baixou os dois ombros. “Não sei” – foi o que deduzi.
Me fez lembrar de um show dos Titãs no Ginásio Poliesportivo, num final de tarde, meio da semana. Não sei como, mas enforquei algumas horas do expediente de trabalho e fui ver a banda. Só vi a distância, das arquibancadas, e não entendia nada do que saía do palco. Até o manjado É preciso saber viver só fui identificar quando a banda já estava repetindo o refrão final. De verdade!
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Vamos sair do ginásio e voltar à igreja. O promotor do show lá no Poliesportivo provavelmente não esteve preocupado comigo e pouco se importou se gostei ou não do espetáculo. Mas a igreja e as pessoas que dão vida a ela deviam se preocupar, sim.
Deviam compreender o tamanho do desafio de dar uma resposta às famílias, aos jovens casais, aos namorados, às crianças que se preparam para a Primeira Eucaristia que, contra todos os apelos midiáticos, se desconectam da ilusão das telas por alguns instantes para dar oportunidade à fé e a sua força transformadora.
Mais do que cumprir ritos e protocolos, essas pessoas querem voltar para casa com o coração aliviado, com energia renovada e não angustiadas pela incerteza: o que foi mesmo que disseram?
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