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Para assistir: “Shin Godzilla” deixa mensagem que permanece extremamente atual e relevante

Em 1954, durante a Guerra Fria, o Japão apresentou ao mundo o seu primeiro monstro cinematográfico. Tratava-se de Godzilla, a icônica criatura criada como resposta ao ataque nuclear dos Estados Unidos contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki nove anos antes, em 1945. Em sua primeira aparição, Godzilla era retratado como uma força devastadora da natureza, criado a partir da intervenção humana no planeta. O enorme dinossauro de 50 metros emergiu do fundo do oceano após ser despertado por testes nucleares, levando-o à destruição de Tóquio.

Com o passar das décadas, e 33 filmes produzidos somente no Japão, o lagartão evoluiu junto com o cinema e a tecnologia, aprimorando seu visual e a destruição que provocava. No entanto, com o sucesso, o personagem transformou-se em um herói que lutava contra monstros gigantes (conhecidos como kaijus) para salvar a humanidade, afastando-se do seu propósito original. Já as produções norte-americanas, com orçamentos muito mais robustos, não entenderam a essência do filme original, mais preocupadas em lucrar com a criatura.

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Eis que, em 2016, o personagem ressurgiu em Shin Godzilla (a palavra Shin representa “Novo” ou “Verdadeiro”), marcando uma nova fase para a criatura pré-histórica, considerada aqui um deus encarnado (algo reforçado pela trilha sonora). Ainda que com um novo visual mais grotesco (mais próximo a um ser diabólico do que um dinossauro), a obra resgata o propósito do filme original, adaptando-o para o contexto da época.

Sob a direção de Hideaki Anno (Neon Genesis Evangelion) e Shinji Higuchi, o filme transformou-se em uma alegoria ao acidente nuclear em Fukushima, no Japão. Na época, o governo japonês foi acusado por negligenciar a tragédia que, segundo a justiça, poderia ter sido evitada com medidas preventivas.
Assim, a narrativa adota um tom documental para mostrar o ponto de vista do governo japonês.

Os políticos tentam responder à ameaça com base na legislação, mesmo que não exista precedentes para o que está acontecendo. Amarrados às leis, não conseguem sequer determinar qual seria o ministério apropriado para lidar com o fato.

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Enquanto a criatura navega pelo mar, realizam reuniões atrás de reuniões para debater e aprovar ações, todas ineficazes. Em um momento memorável, os políticos ignoram o alerta de que o monstro pode sair do mar e realizam uma coletiva de imprensa. Mas não sem antes substituírem os paletós por coletes e uniformes da Defesa Civil.

No fim da entrevista, o primeiro ministro afirma que não há possibilidade de o monstrengo sair do mar. Instantes depois, é interrompido por um assessor que anuncia a chegada de Godzilla à cidade, causando destruição.

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Diante da ineficácia governamental, o Gabinete de Crise decide acionar os militares. Entretanto, mísseis e bombas são incapazes de neutralizar o monstro, que parte para o ataque. Mesmo com o apoio dos Estados Unidos, a criatura continua em pé e lança seu devastador sopro atômico, derrubando prédios e matando o primeiro ministro e grande parte dos seus conselheiros. Assim, uma frente mundial decide bombardear Tóquio com uma ogiva nuclear, para o trauma dos japoneses.

Para impedir isso, um pequeno grupo – formado principalmente por cientistas – luta contra a burocracia política para investigar o aparecimento do ser marinho e encontrar maneiras de impedir um desastre. E encontram a solução na ciência para parar a criatura, injetando litros de coagulante de sangue em sua boca para neutralizá-lo. Curiosamente, o equipamento utilizado no filme foi o mesmo para resfriar os reatores danificados de Fukushima, evidenciando mais uma vez as semelhanças com a história real.

Ele vive

Shin Godzilla pode ter sido fruto de um evento histórico específico que ocorreu há quase 15 anos. Entretanto, sua mensagem permanece extremamente atual e relevante. Há poucos anos, o mundo enfrentou uma pandemia global, que resultou na morte de milhões de pessoas devido à falta de ações preventivas.

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A situação ainda foi agravada por lideranças políticas que manifestaram-se contrárias às medidas para evitar a circulação do vírus e até mesmo atacaram a vacinação. Não bastasse isso, testemunhamos frequentemente desastres ambientais em diversos cantos do planeta. Nem precisamos ir longe, já que em 2023 e 2024 o Vale do Rio Pardo e regiões vizinhas foram severamente castigados pelas enchentes resultantes da mudança climática.

Pasmem, certas cenas vistas na obra japonesa de ficção são assustadoramente similares às que nós testemunhamos aqui. Não só as imagens da devastação, mas dos nossos políticos – de todas as esferas ideológicas – trocando os trajes requintados por uniformes da Defesa Civil, com aquele (já batido) colete laranja. Assim como os habitantes de Tóquio no longa-metragem, fomos vítimas do excesso de burocracia e da carência de ações preventivas. Além disso, até hoje parte dos municípios atingidos ainda não se recuperou completamente da catástrofe.

Shin Godzilla encerra com um alerta para a humanidade: ou aprendemos a conviver com essa força da natureza, ou seremos destruídos. Lembre-se: não é sobre o monstro.

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  • Onde assistir: Shin Godzilla está disponível na Amazon Prime Brasil.

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