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BARCELONA, ESPANHA

Pelo mundo: revolução de formas e mentes

Em estado de arte: o traçado único de ruas e avenidas é mais uma inovação de Barcelona | Foto: Acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior

Nas construções sem linhas retas de Gaudi, no criativo traçado urbano e no comportamento, Barcelona desafia os limites em tudo que faz. Através da arte, a cidade criou uma espécie de realidade alternativa, em especial no renascimento cultural que se deu após o final do regime opressivo de Francisco Franco. A cidade lidera a região autônoma da Catalunha, que, além do idioma catalão, possui mentalidade e identidade próprias. De tempos em tempos, aliás, o movimento pela independência segue tirando o sono do governo espanhol e da realeza madrilenha.

Para ter a melhor vista e contemplar o planejamento urbano de largas avenidas e quarteirões octogonais, o Castelo de Montjuic é o ponto mais alto da cidade. Já para entender o espírito catalão, o mercado público (La Boqueria) é um ótimo ponto de partida. Sob uma estrutura metálica modernista, temos uma demonstração da vitalidade, da simpatia e dos sabores de Barcelona.

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Outra caminhada imperdível se inicia no Monumento a Colombo – italiano que os locais acreditam ser catalão –, cravado na antiga região portuária às margens do Mediterrâneo. Dali parte La Rambla, rua de pedestres que termina, um quilômetro adiante, na Praça Catalunha, centro da cidade. A alameda corta a chamada Cidade Velha (Ciutat Vella), em cujo entorno estão as principais atrações, como as construções inconfundíveis de Antonio Gaudi.

O primeiro exemplo do estilo revolucionário do arquiteto foi o Palácio Güell, seguido pelo naturalismo da Casa Milá (La Pedrera), pelas sinuosas curvas da Casa Batló e pela combinação ímpar de formas e cores do Parque Güell. Acima de qualquer outra, porém, uma obra-prima de Gaudi lhe rendeu o título popular de arquiteto de Deus: a basílica La Sagrada Familia.

Pacto de imaginação e engenharia

No coração da cidade, tal qual um castelo de areia que emerge em direção ao céu, um templo católico foge de qualquer padrão. O trabalho mais enigmático de Antonio Gaudi começou a ser construído em 1882 e tem conclusão prevista para 2026, ano do centenário da morte do arquiteto. Quando a última das dezoito torres, a Torre de Cristo, for concluída, seus 173 metros tornarão La Sagrada Familia a igreja mais alta do mundo. As formas que imitam a natureza transmitem leveza ao conjunto, apesar das 200 mil toneladas de concreto e pedra usados na construção. Sem ajuda do Vaticano, a obra foi financiada por paroquianos e, nos últimos anos, por milhões de turistas.

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Em minha primeira visita a Barcelona, em 1992, a basílica ainda não tinha interior ou teto, mas apenas oito torres em duas fachadas: a da Natividade, a única que Gaudi viu materializada como um incrível jardim vertical de concreto, e a da Paixão, de forma esqueletal e austera. Na última visita, há poucas semanas, pude finalmente presenciar o ápice da genialidade de Gaudi e dos arquitetos subsequentes, que seguiram fielmente a condução da magnífica obra repleta de significado religioso e filosófico.

Se o exterior nos deixa fascinados, nada se compara à sensação de passar pelas colossais portas de bronze do templo católico e penetrar na selva colunada de sua nave principal. Sob o portal, duas letras gregas, alfa e ômega, convidam a refletir sobre nossa origem e nosso destino.

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As formas da natureza representam para Gaudi um retorno aos cristãos originais, para os quais a floresta serviu como primeira catedral. Ao contemplar as colunas, entrevemos também ossos e tendões. Não se trata somente de biomimetismo, mas de um santuário que reúne religião, ciência e natureza. Sobre o altar minimalista e moderno, o baldaquino de tecido lembra os usados nas procissões católicas, protegendo um crucifixo que parece flutuar sobre a nave.

Uma escada em espiral conduz à enorme cripta. Em um dos recessos subterrâneos, sob uma imagem carmelita da Virgem Maria, a inscrição “Antonius Gaudi” em uma lápide simples marca a última morada do idealizador da monumental obra. Minha mais recente visita à Sagrada Família foi também a primeira ao túmulo de Gaudi. Aconteceu poucos dias após a morte de minha mãe, que, como Gaudi, era uma fiel devota de Nossa Senhora do Carmo.

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Ali, tirei de minha carteira o escapulário carmelita presenteado por ela ainda em minha adolescência e que está sempre comigo. Senti novamente o saudoso afago da incrível mulher que tanto me ensinou, incentivou e amou. Sob a obra monumental, entendi mais uma vez que nossa breve existência só tem sentido se permanecer viva de alguma forma naqueles que tocamos com sensibilidade e afeto.

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