Os primeiros europeus a se aventurarem pela costa norte do Pacífico e se estabelecerem no atual estado americano da Califórnia foram missionários franciscanos, em 1770. Incumbidos de catequizar tribos indígenas que ali viviam, os espanhóis formaram missões que se tornariam cidades californianas de grande porte. Os nomes em castelhano permanecem: San Diego, Los Angeles, Santa Bárbara, Monterrey, Santa Cruz e, é claro, a Baía de San Francisco, em homenagem ao santo italiano.
A descoberta do vasto e deslumbrante porto natural deve ter maravilhado os espanhóis, que dominaram a região por quase meio século. Em 1810, tiveram início as guerras que culminaram na Independência do México, tornando a Califórnia território mexicano e afastando franciscanos e indígenas da costa. No vácuo dos nativos, migrantes dos recém-fundados Estados Unidos da América chegaram à região.
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No verão de 1846, a chamada Revolta da Bandeira do Urso criou a República da Califórnia. A nação independente durou pouco. Em 1848, os Estados Unidos declararam guerra ao México e a Califórnia teve que decidir entre lutar com mais um país ou unir-se aos americanos contra os mexicanos. A decisão não foi difícil e, em 1850, a Califórnia se tornou o 31º estado dos EEUU.



Pouco antes, porém, em 1849, um acontecimento mudaria o destino da região, quando o carpinteiro James Marshall descobriu ouro, próximo à San Francisco. A notícia se espalhou rapidamente e mais de 300 mil pessoas (os chamados Forty-Niners) aportaram no território, na maior migração em massa da história. A fúria da corrida do ouro foi efêmera, porém atraiu povos de nações distantes, como a China, o que explica o fato de o bairro chinês de San Francisco ser um dos maiores e mais antigos do mundo.
Como o restante da costa da Califórnia, San Francisco está situada sobre a longa falha geológica de San Andreas. Em abril de 1906, um terremoto destruiu 28 mil casas e matou mais de 3 mil habitantes. O povo não se abateu e, em poucas décadas, o estado se tornou o mais povoado e desenvolvido dos Estados Unidos. Se fosse um país independente, a Califórnia seria a quinta economia mundial, maior que a da Índia e com quase o dobro do PIB brasileiro.
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Nenhuma cidade americana me cativou tanto como San Francisco. A beleza natural e o espírito da cidade são fascinantes, e vários dias são necessários para conhecer os principais pontos de interesse. Partindo das folclóricas docas do Cais do Pescador (Fisherman’s Wharf), barcos fazem a curta viagem até a Ilha de Alcatraz, no centro da baía. A antiga prisão federal (quase) inescapável abrigou criminosos ilustres, como Machine Gun Kelly, o assassino e ornitólogo Robert Stroud – tema do filme O Prisioneiro de Alcatraz – e o contrabandista Alphonse “Al” Capone. Após o fechamento da prisão, em outro fato inusitado, “A Rocha” foi invadida e ocupada por 80 indígenas americanos, entre 1969 e 1971, com base em um acordo quebrado pelos americanos no século 19.
De volta à cidade, a visita à magistral ponte Golden Gate é de tirar o fôlego. Inaugurada em 1937, a admirável obra de engenharia tem quase três quilômetros de extensão e torres de 227 metros de altura separando a Baía de San Francisco do Oceano Pacífico. É também o local mais popular do mundo para suicídios (mais de 2 mil até hoje). Atravessando a ponte, o Parque Natural Muir Woods homenageia o grande ambientalista escocês John Muir (1838-1914). As altíssimas sequoias de mais de 800 anos fazem com que nos sintamos na terra dos gigantes.
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A cidade é também um dos maiores centros financeiros e tecnológicos do planeta, com a maior concentração mundial de empresas de alta tecnologia, incluindo as sedes das megacorporações Apple, Google, Meta, Intel, Nvidia e outras. A Baía de San Francisco abriga o Vale do Silício, referindo-se ao elemento extraído da areia, matéria-prima dos chips eletrônicos.
Avaliando o atual momento político americano, causa certa perplexidade constatar que, em um estado progressista, CEOs e fundadores de grandes empresas decidiram ignorar o fato de suas tecnologias serem resultado de pesado investimento estatal em pesquisa e assumiram posições ultraconservadoras. Zuckerberg, Musk, Bezos e outros militam hoje, de dentro do governo, pelo estado mínimo, defendendo o fim de benefícios para os pagadores de impostos que os financiaram. Se a corrida do ouro de 1849 foi frustrante para centenas de milhares, a recente fúria empreendedora do silício resultou em ganância crescente por poder e fortuna para um punhado de oligarcas.
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