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LIVERPOOL

Pelo Mundo: um passeio mágico e misterioso

Albert Dock: as docas de Liverpool trouxeram diversidade cultural à cidade | Foto: Arquivo pessoal de Aidir Parizzi Júnior

A música, como toda manifestação artística, é determinada pelo ambiente e, frequentemente, leva traços da infância e adolescência do compositor. Em uma atmosfera portuária permeada pela influência musical trazida de todos os cantos do mundo e onde rock e blues soavam livres nos bairros negros da cidade, um grupo de talentosos músicos absorveu essa mescla cultural e soube expressá-la primorosamente.

Para entender como a combinação formidável e revolucionária representada pelos Beatles pôde acontecer em um mesmo local de uma ilha ao norte da Europa, é preciso conhecer Liverpool, sua história, seu perfil socioeconômico e, claro, a trajetória pessoal dos quatro famosos “scousers”, nome derivado de um ensopado popular entre operários e marinheiros, que virou sinônimo dos nativos e do sotaque dali.

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Porto de entrada britânico para o intenso comércio das décadas de 50 e 60, Liverpool recebia, além de mercadorias, a diversidade da música popular, em especial dos Estados Unidos. A cidade, ainda que pobre, repleta de desempregados e ferida pela segunda guerra mundial, tornou-se repleta e fecunda, musical e culturalmente.

Eu visito Liverpool frequentemente e, em cada oportunidade, procuro usufruir de um encontro mais íntimo com o quarteto fabuloso, transitando pelo tempo em que viviam longe dos holofotes e das multidões em estádios lotados dos dois lados do Atlântico, culminando no maior fenômeno da música popular de todos os tempos. O ambiente que gerou os Beatles permanece vivo na região das docas do porto, nos arredores sujos e belos da estação Lime Street e na gente simples e solitária dos subúrbios e das calçadas da Penny Lane, alameda ao sul da cidade.

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As letras dos Beatles foram definidas em pessoas como Daisy Haw-kins, senhora que contava inspiradoras histórias ao jovem Paul McCartney e inspirou Eleanor Rigby. As melodias que conquistaram o planeta traduzem lugares como Woolton, subúrbio de Liverpool, onde John Lennon, abandonado pelos pais, vivia com uma tia ao lado do orfanato feminino Strawberry Field. A canção Strawberry Fields Forever não é inspirada em plantações de morangos, e sim na relação de John com a cidade e na identificação com órfãs que observava além dos muros da instituição. O orfanato, fechado em 2005, está decrépito e abandonado, mas é parada obrigatória para os fãs da banda.

Filhos da guerra, John e Paul perderam suas mães Julia e Mary na adolescência, e talvez isso também tenha, de alguma forma, aproximado personalidades tão diferentes. Ainda sobre a influência materna, Louise Harrison, praticante de ioga e meditação, enchia a casa com música indiana, o que ajuda a explicar a fascinação de George pelos sons do subcontinente asiático e pela cítara de Ravi Shankar. Com variados estilos musicais, Liverpool parece ter ensinado os Beatles a desenvolver, com naturalidade, desde baladas simples até canções mais complexas e psicodélicas.

A estreita Matthew Street, que até o fim dos anos 50 era um mercado de frutas e verduras, se transformou na Meca dos beatlemaníacos, hoje tomada por bares e música ao vivo. Ali, em um clube de jazz subterrâneo, os adolescentes Beatles fizeram a primeira apresentação pública, em 1961 (Ringo Starr substituiu Pete Best em 1962), escalados para o final da noite e instruídos para tocar somente jazz. Diante da pouca atenção que estavam recebendo, John anunciou: “Já que ninguém está nos escutando, tocaremos o que quisermos”.

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A próxima canção foi “Don’t Be Cruel”, de Elvis Presley, seguida de mais rock’n’roll até serem expulsos pelo furioso proprietário Alan Sytner. Felizmente, ao retornarem do período em que se apresentaram em Hamburgo, Alemanha, o Cavern Club tinha novo dono e estilo musical mais heterogêneo. A banda voltou a se apresentar no local centenas de vezes, cativando o público do melhor clube musical da cidade, que funciona até hoje.

No documentário Get Back, lançado em 2021, Paul aparece no estúdio, em 1969, compondo a canção que dá nome ao filme. Fiquei com a impressão de que ele, ao fechar os olhos, caminhava por sua cidade natal. Nenhuma outra banda chegou próximo ao sucesso e à realização dos Beatles. Muitos debatem sobre a influência de produtores, empresários e músicos, como Brian Epstein, George Martin e Billy Preston, certamente vitais para o sucesso do “Fab Four”. O quinto Beatle, contudo, sempre me pareceu ser a mágica e misteriosa cidade de Liverpool.

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