Uma das obras de maior vendagem na 35ª Feira do Livro e na 1ª Festa Literária Internacional, realizadas entre 1º e 10 de agosto, na Praça Getúlio Vargas, teve o grande mérito de reposicionar a poesia clássica japonesa na ordem do dia na rotina de muitos leitores. O volume Inventário das estações: poesia japonesa, de 1500 a 1775 resultou de parceria entre os escritores Roberto Schmitt-Prym e Marli Silveira, membros da Academia Rio-grandense de Letras.

A iniciativa foi da editora Bestiário, da qual Prym é o proprietário e editor, sendo que ele próprio assina a tradução da seleta de poemas, conjunto que organizou em parceria com Marli. Esta, a atual presidente da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, ainda contribuiu com anotações poéticas, fazendo verberar, sob um olhar contemporâneo, imagens, sonoridades e elementos desses quase três séculos abrangidos pelos versos.

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Essa antologia contempla haicais, clássica forma de poemas muito apreciada no Japão, caracterizada pela máxima concisão e pelo fulgor das imagens que oferece ao leitor. O haicai é constituído de três versos breves, representando ao autor um desafio enorme diante da necessidade de síntese, sem jamais abrir mão da originalidade e amplitude de sentidos, sentimentos ou percepções. O haicai, relativamente difundido no Brasil, a partir ainda das inúmeras colônias japonesas estabelecidas em diferentes regiões nacionais, é uma derivação do tanka, outra forma clássica de poesia japonesa, nesse caso de 31 sílabas divididas em cinco versos (na extensão 5-7-5-7-7).

Prym possui longo histórico de envolvimento com a poesia japonesa. Em 2023, já traduzira versos para o volume Poemas japoneses de morte. Antes disso, já vertera ao português Todos os haicais, de Ryôkan Taigu (1758-1831), além de difundir a obra mundialmente celebrada do mestre Matsuo Bashô (1644-1694). Agora, com Inventário das estações, proporciona um panorama oportuno da produção de alguns dos maiores ícones da poesia em todos os tempos, muitos lamentavelmente desconhecidos dos brasileiros.

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Se a elaboração de um haicai já oferece ao autor um domínio absoluto de linguagem, de sonoridade e de imagética, pode-se compreender facilmente a complexidade de transmitir essa mesma carga de significados em uma outra língua. Só por esse esforço, Roberto Schmitt-Prym e Marli (pela “releitura”) merecem todos os aplausos.

Contribuições para o cenário cultural

Natural de Panambi e radicado em Porto Alegre, Roberto Schmitt-Prym é um dos mais prolíficos entusiastas do mercado editorial gaúcho na atualidade. Pela Bestiário, tem lançado dezenas de autores, nacionais ou estrangeiros, a cada ano, muitos deles com sessões de autógrafos sempre concorridas em feiras, como a da capital. Vários desses escritores e seu catálogo são de Santa Cruz do Sul ou do Vale do Rio Pardo.

Seu esforço cultural foi reconhecido, entre outros meios, no convite para a Academia Rio-grandense de Letras, além de inúmeras premiações, como autor, editor e tradutor. A versão para o português que fez do Giacomo Joyce, de James Joyce, permanece como uma referência. Também publicou Contos vertiginosos, em 2012; Sombra silêncio, em 2018; Lugar algum, em 2020; e No meio do nada, em 2023, entre outros títulos. Como editor, obteve o Prêmio Jabuti em 2023, o mais importante do mercado editorial brasileiro.

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