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“Por pouco, não aconteceu uma tragédia”, diz caminhoneiro alvo de tiros na BR-471

Foto: Divulgação PRF

Disparo passou próximo da cama da cabine, onde filha de motorista costuma brincar

Era 28 de dezembro quando o caminhoneiro Gustavo*, de 48 anos, chegava à região do Vale do Rio Pardo vindo de Joinville, Santa Catarina, para fazer aquela que era a última entrega de 2021. Ele trabalha em uma empresa transportadora de geladeiras e, pelo menos uma vez por ano, leva a família para fazer uma viagem junto. Além dele, a bordo do caminhão Volvo FH 460 azul estavam a esposa, de 36 anos, a filha de 12 e o filho de 2 anos e 8 meses.

Por apenas 15 centímetros, a viagem, que mais parecia um passeio descontraído com a presença da família, não se transformou em uma tragédia. Essa foi a diferença de altura com que um projétil de pistola calibre 9 milímetros passou sobre a cabeça de Gustavo, enquanto dirigia nas proximidades da entrada da estrada do Passo do Adão, em Rio Pardo, na BR-471.

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Ele já voltava da entrega feita a uma empresa no Distrito Industrial de Santa Cruz do Sul, quando teve o caminhão alvejado por disparos de arma de fogo, efetuados por um agricultor de 44 anos que dirigia uma Toyota Hilux bordô, com placas de Cachoeirinha. “Foram momentos de terror. Foi nítido que ele atirou para me matar. Foi horrível. Um pouco mais para baixo, tinha acertado a mim ou a minha filha. Ela costuma brincar de pé na cama da cabine. Não quero nem imaginar o que teria acontecido se naquele momento ela estivesse de pé ali”, relatou o motorista do Volvo.

Em entrevista à Gazeta do Sul, Gustavo conta que a atitude do condutor da caminhonete pegou ele de surpresa. “Eu estava em uma velocidade de 60 quilômetros por hora. Próximo de uma saída, de quem vem de Cachoeira do Sul, dois carros esperavam para entrar na pista e a Hilux entrou na minha frente. Precisei frear e me virar para não bater na caminhonete, e abri a buzina. Depois passamos por um posto de combustíveis e ele me xingou. Quando voltou para a pista, começou a dar sinal de luz, seguir, e eu me assustei.”

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Ao longo do trajeto, o condutor da Hilux tentou ultrapassar a carreta por três vezes e não conseguiu. “Vi que ele estava alterado e pressenti que aconteceria alguma coisa. A intenção dele era entrar na frente. A sorte foi que eu não parei”, disse o motorista, que faz o trajeto até Santa Cruz seguidamente. Foi a esposa quem viu que o motorista da caminhonete havia colocado uma arma por cima da porta e iniciado os disparos contra o Volvo.

“Quando ela disse que ele tinha atirado, achei que estava brincando, mas vi o furo na cabine, na forração. A intenção era me acertar de frente, mas em uma dessas tentativas de ultrapassagem, ele se perdeu e quase tombou. Foi ali que Deus deu um livramento pra nós e escapamos. Não deu pra entender, pois não foi pra tanto, apenas buzinei pra ele não entrar. Ninguém fez nada pra ele, parecia que estava alucinado.”

Projétil perfurou lataria e atingiu teto | Foto: Divulgação/PRF

Gustavo contou que dirige caminhões desde os 20 anos e nunca havia passado por uma situação como essa. “Já passei por discussões de trânsito, mas nada assim. Tenho certeza de que ele atirou para acertar. Não conseguiu porque a Hilux estava em movimento e ele no volante. Colocou a mão pra fora e atirava por cima da porta. Mesmo assim, como é atirador, quase acertou. Errou por pouco.”

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O caminhoneiro, com medo de represálias por parte do atirador, pediu à Gazeta do Sul que seu nome não fosse revelado. “Até a divisa com Santa Catarina, na volta, eu fiquei apreensivo. Minha esposa queria parar para ir ao banheiro em um posto de combustíveis e eu disse que não dava, pois tinha medo de que esse homem estivesse vindo atrás de nós, pudesse ter mudado de carro e fazer algo contra a gente. Era para ser uma viagem supertranquila. Nunca imaginei passar por isso. Podia ter se transformado em uma tragédia familiar.”

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PRF localizou atirador

Após o momento de tensão na rodovia, o motorista do Volvo FH 460 foi até a unidade operacional da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Pantano Grande para informar o que havia acontecido. Dois policiais foram ao local do fato a fim de iniciar imediatamente as buscas ao suspeito, tendo em vista as marcas de perfurações à bala no veículo e o estado psicológico da família.

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“Não entramos com a viatura na estrada de chão. Tentamos uma busca estratégica e apostamos que ele fosse voltar pela BR-471. Ficamos pela rodovia, posicionando a viatura em pontos estratégicos e deu certo, pois ele retornou pelas 19 horas. Nós o paramos na entrada de Rio Pardo, próximo a um posto”, afirmou o agente Evandro Augusto Machado, que participou da abordagem.

Quando os policiais lhe perguntaram se carregava arma de fogo no interior do veículo, o agricultor e atirador desportivo afirmou que trazia no banco de trás uma pistola Taurus, calibre 9 milímetros. Do interior de uma mochila, o agente retirou a arma municiada e carregada, outro carregador sobressalente e diversas munições. Também foi encontrado um cartucho deflagrado sobre a carroceria da caminhonete. Ao ser questionado sobre ter feito disparos naquela tarde, o suspeito demonstrou nervosismo e hesitou para responder.

Em seguida, confirmou que havia feito de quatro a cinco disparos, mas não soube dizer onde. Mais tarde, afirmou que teria sido numa propriedade rural. Disse que não sabia se estava autorizado a carregar arma fora da rota do estande de tiro. Confrontado com o fato apresentado pela PRF, sobre ser autor de tiros contra o caminhoneiro a partir de um fútil desentendimento de trânsito e que ele poderia ter ceifado a vida de quatro pessoas, inclusive duas crianças, o suspeito não esboçou reação. Na sequência, ele foi conduzido até a Delegacia de Polícia (DP) de Rio Pardo. O seu nome não foi revelado.

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Depois de ser localizado pelos agentes da PRF, suspeito de 44 anos foi levado até a DP | Foto: Divulgação/PRF

Caso é investigado

A equipe da PRF prestou os esclarecimentos demandados pela Polícia Civil, fornecendo dados da vítima, fotografias com marcas de perfuração dos projéteis na lataria e estofados internos e pedaços do próprio projétil. O caso foi registrado como disparo de arma de fogo, e o atirador foi liberado após prestar esclarecimentos. De férias, o delegado Anderson Faturi, responsável pela DP de Rio Pardo, explicou à Gazeta do Sul que o caso vem sendo investigado.

“Até semana passada, tinha sido instaurado um inquérito policial por disparo (de arma de fogo), para apurar. O prazo é de 30 dias, podendo ser prorrogado por mais 30”, disse Faturi. O caminhoneiro relatou que não foi procurado pela Polícia Civil para prestar depoimento, mas entrou em contato com a DP de Rio Pardo, prontificando-se a relatar sua versão dos fatos. Os esclarecimentos devem ser feitos a agentes de Joinville e depois repassados aos investigadores da Cidade Histórica para dar sequência à investigação.

“Nós apresentamos a ocorrência à Polícia Civil com a expectativa de uma prisão em flagrante continuado por tentativa de homicídio. Isso porque a PRF iniciou a busca imediatamente após a denúncia feita pela vítima e não a interrompeu até encontrar o suspeito. Havia vários indícios que apontavam ser aquele o autor dos disparos contra a família: marcas no caminhão, projétil, cartucho deflagrado, características do veículo e do autor dos disparos. Mas o delegado entendeu de outra forma, infelizmente”, afirmou o policial rodoviário federal Evandro.

“No meu modo de ver, se ele tivesse atirado pra cima, não teria pegado nenhum tiro na carreta. Ele não atirou pra assustar, mas sim na minha direção, uma tentativa de homicídio. Se um dos disparos fosse 15 centímetros pra baixo, eu estaria morto hoje”, complementou o caminhoneiro.

“A gente sabe que é um caso isolado, mas é sempre bom revisar quando acontece isso e não esperar uma tragédia. Precisamos pensar em qual o recado que a gente passa para a sociedade. Neste caso, em que um cidadão sem nenhum antecedente, agricultor, atirador desportivo, perde a cabeça e efetua disparos contra uma família por motivo fútil, acredito que a sensação inicial seja de impunidade, o que pode até encorajar condutas parecidas”, finalizou o agente Evandro Augusto Machado.

*Nome fictício, para preservar a identidade do caminhoneiro.

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