Outro dia, em meio ao burburinho do trânsito das 18 horas, me peguei atenta à música Novo Tempo, de Ivan Lins, que tocava no carro. É um clássico que, embora tenha sido composto durante a ditadura militar no Brasil – ou seja, em um contexto de censura e repressão –, conforme indicam alguns sites de pesquisa, também nos remete ao “fim de ano e as suas promessas”. Fiquei imersa na melodia, acompanhando os versos que se seguiam e que, resumidamente, reforçam essa esperança em um novo tempo (leia-se, aqui, o “ano que vem”).
Mal sabia eu, até então, que essa canção também se tornou um símbolo de superação e união, motivo pelo qual seguidamente é reinterpretada em diferentes momentos históricos, transmitindo mensagens de otimismo e inspiração. Tanto é que neste sábado, por exemplo, será apresentada durante um show especial de Natal em um programa de TV aberta – a gravação, aliás, foi amplamente divulgada na internet, chamando atenção para o fato de que Lins havia cantado e tocado piano, acompanhado de uma orquestra. O vídeo, realmente, promete emocionar.
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Já na primeira estrofe, a música diz que “No novo tempo/ Apesar dos castigos/ Estamos crescidos/ Estamos atentos/ Estamos mais vivos”. Mas, contextualizações à parte, me valho da mensagem propagada nessa música como pano de fundo para algumas reflexões que fiz. Quando foquei a atenção na letra, a primeira pergunta que me fiz foi “mas que novo tempo é esse?”. Logo depois, enquanto o trânsito seguia o fluxo, ainda turbulento, ainda me perguntei: “por que estamos sempre deixando tudo para depois?”. Por que, frequentemente, postergamos o que precisa ser feito, o que precisa ser dito? Ao que, de fato, nos prendemos para adiarmos as coisas?
Na sequência disso, outras constatações me trouxeram questionamentos, em especial sobre o fim de ano. Não parece que, de modo geral, nos mostramos mais animados pelos festejos que vão vir, mais encantados e nostálgicos com o clima natalino, mais enérgicos e cheios de novas promessas para o ano que virá? Nessa semana mesmo ouvi uma pessoa próxima, ao ser indagada sobre, responder que o Natal lhe aparentava o despertar coletivo da bondade, já que “todo mundo parecia ficar bom e agir com mais gentileza”. De certo modo, também me parece. E, confesso, me incomoda o fato de comportamentos e posturas assim aflorarem, em maiores proporções, somente nessa época.
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Será mesmo que é só no Natal que podemos ser gentis, amorosos, solícitos? Será mesmo que é só no Ano Novo, nesse tal novo tempo, que podemos depositar nossos planos, nossos sonhos, nossas ações – as mesmas que, em determinado momento, já havíamos postergado? A pergunta que fica é: por que não todo dia?
Aproveitando o lugar de fala e a inspiração em outra estrofe da música, que diz “… Apesar dos castigos/ Estamos em cena/ …Quebrando as algemas”, a reflexão que deixo é para que, enquanto aqui estivermos, apesar das limitações e dificuldades, não deixemos de fazer algo novo (e melhor) agora, todos os dias, e não apenas em ocasiões especiais ou datas festivas.
Isso ganha ainda mais clareza quando lembro de uma fala da psicóloga e psicopedagoga Karina Okajima Fukumitsu, autora de diversos livros. Ela aconselha: “Nunca se intimide por ser quem é. Lembre-se: você é uma história”. Assim sendo, que a gente aprenda a honrar nossa história – e o tempo que aqui temos – para multiplicar, diariamente, afetos.
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