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LITERATURA

Preto Lauffer quer viabilizar a criação de uma biblioteca em um dos ambientes da Efasol

Preto Lauffer é autor de vários livros e tem no hip-hop a sua via de expressão na poesia e na música

Nos dias 12 e 13 de agosto, na segunda e na terça-feira que se seguiram ao término da 35ª Feira do Livro, o escritor e artista musical catarinense Preto Lauffer visitou Santa Cruz do Sul pelo projeto Arte da Palavra, do Sesc. Seu envolvimento com a região poderia ter se encerrado tão logo concluiu as atividades e retornou para sua terra. Mas não. Lauffer segue empenhado em uma missão: viabilizar a criação de uma biblioteca em um dos ambientes que visitou, a Escola Família Agrícola de Vale do Sol (Efasol).

Tudo porque o contato com os alunos, filhos de agricultores, que estudam naquele estabelecimento comoveu e cativou o artista. Lá ele realizou oficina de criação literária em torno do tema “Poesia que transborda, transforma”, na qual conecta o hip-hop com a literatura. “Ainda que eu tenha uma vivência urbana, e faça do hip-hop uma via de expressão, me identifiquei muito com aqueles jovens, com suas histórias de vida e com suas lutas”, enfatizou, em entrevista por telefone à Gazeta do Sul.

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E constatou que a Efasol não possui biblioteca. “Falei de alguns livros, e ali não tinham acesso a eles. Isso me marcou, e decidi fazer de tudo para criar uma biblioteca lá.” É nesse esforço que agora está envolvido, em Florianópolis, onde reside, sensibilizando pessoas via redes sociais, enquanto, em paralelo, conduz suas atividades. Ele espera que o espaço possa ser inaugurado no dia 7 de novembro. Contribuições: pelo e-mail [email protected].

Hip-hop como via de expressão artística

O escritor Preto Lauffer, nome artístico do catarinense Rodrigo Lauf-fer, nasceu no dia 6 de abril de 1995 em Laguna, cidade na qual fez seus primeiros estudos, para então se transferir a Florianópolis. Como morador da favela Portinho, a maior do estado, encontrou no hip-hop, a partir de 1999, uma forma de expressão para refletir sobre o seu entorno e traduzir os sentimentos da comunidade.

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Na última quarta-feira, 1º, ele esteve em Porto Alegre para visitar o Museu da Cultura Hip Hop justamente com o propósito de viabilizar um espaço semelhante em Florianópolis. Nessa reunião, também confirmou que o museu gaúcho será apoiador de sua ação para constituir uma biblioteca para a Efasol, em Vale do Sol. A capital gaúcha, por sinal, é um ambiente que conhece bem, pois ali residiu por dois anos, desde 2008, quando buscou se afastar da violência então reinante na Portinho.

Livros em especial

Em seu esforço para concretizar uma biblioteca na Efasol, além do acervo em geral, Lauffer está em busca de títulos específicos, que o educandário pretende usar em atividades com os estudantes. Pessoas, empresas ou instituições podem contribuir no sentido de obter esses livros. De cada um, a meta é reunir 30 exemplares. São eles:

  • Canção para ninar menino grande, de Conceição Evaristo;
  • Pequeno manual antirracista, de Djamila Ribeiro;
  • Torto arado, de Itamar Vieira Junior;
  • Um milhão de finais felizes, de Vitor Martins;
  • A terra dos meninos pelados, de Graciliano Ramos;
  • Coração de criança não morre, de Sérgio Vaz

Além de sua carreira no hip- hop, o escritor e artista musical Preto Lauffer passou a encontrar na elaboração de versos uma via de expressão, dentro do lema de sua oficina, “Poesia que transborda, transforma”. Não demorou para que suas criações fossem aproveitadas em livros. Tudo começou com sua participação na antologia Poesia de Esquina, em 2015, que teve lançamento na capital paulista.

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Finalmente, em plena pandemia, em 2020, veio à luz o primeiro livro autoral de Lauffer, Entre a diáspora e a pólvora, pela editora Sambaqui. Também se desdobrou em programa de TV, no qual, na condição de “pedagogo social e traficante de poesias”, como se apresentou, denunciou o racismo estrutural na sociedade brasileira.

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Tanto no livro quanto no audiovisual, produzido por Arnaldo Russo, são descritos o processo de composição e o cotidiano de Lauffer em sua proposta de dar visibilidade às manifestações culturais da comunidade na qual reside.

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No ano seguinte, participou de coletânea do 1º Concurso de Contos Cidades Invisíveis… (Casa de Todos Quintal de Ninguém), composto de 18 narrativas curtas tematizando o protagonismo em espaços de periferias urbanas. Já em 2022 integrou o projeto de uma livroteca com o Ministério Público Federal, em Santa Catarina.

Em torno de seu livro autoral, e ainda da oficina de criação literária, tem feito palestras em escolas e difundido o hip hop como estratégia para a integração social. Em entrevista concedida à Gazeta do Sul nessa semana, ele falou de suas impressões durante a passagem por Santa Cruz do Sul e Vale do Sol, e da relação com o Rio Grande do Sul no desenvolvimento de sua carreira.

Entrevista – Preto Lauffer, escritor e artista musical catarinense

  • GazetaNa vinda a Santa Cruz, visitaste educandários, entre eles a Escola Família Agrícola de Vale do Sol (Efasol). O que mais te marcou nessa experiência? O que mais me marcou foi perceber que, mesmo em territórios distintos, as vulnerabilidades e as potências se encontram. Aqueles jovens me receberam não apenas com um gesto de acolhimento, mas com um gesto de estudo e de respeito, mergulharam na minha trajetória e me devolveram em poesia. O projeto “Poesia que transborda, transforma” mostrou que a palavra é rio: atravessa, nutre e fortalece.
  • Nas conversas com estudantes, qual a abordagem que costumas fazer e os temas que colocas em debate? Antes de qualquer coisa, é preciso que eles sejam ouvidos. Não vou para ensinar, vou para construir. Eles são protagonistas. Ali abrimos um território de fala e de escuta onde cabem crítica social, denúncia, sussurros de socorro e gritos de resistência. A poesia nasce desse chão, temperada com afeto, regada de autoestima e com a certeza de que o diálogo pode transformar realidades.
  • Que trabalho desenvolves rotineiramente em Florianópolis e em Laguna? Quais são teus propósitos com a tua arte? Hoje, atuo como agente territorial de Cultura do MinC, conselheiro da editora Juriti e integrante do GT SC da Construção Nacional do Hip Hop. Mas, para além dos cargos, minha rotina é trampo e arte. Escrevo, escuto, ARTiculo, mobilizo e sonho. Meu propósito é que a palavra não seja apenas tinta no papel, mas ferramenta de libertação, instrumento de identidade e combustível de resistência coletiva. Quero que minha arte seja faca e flor: capaz de cortar correntes e semear futuros.
  • Que Brasil tens encontrado em tuas andanças no que diz respeito às oportunidades e as condições de vida para a população negra? “O Brasil não conhece o país que nóiz vévi!” Nas minhas andanças, vejo um Brasil que insiste em manter desigualdades estruturais, mas também vejo quilombos vivos, coletivos pulsantes, favelas como fábricas de talentos (ainda que negligenciados), vozes que não se calam. O Brasil que eu encontro é feito de luta diária, de suor, de dor, mas também de invenção, afeto e potência negra que resiste em cada esquina.

Pelo projeto do Sesc, o artista leva sua arte a vários estados

Com a repercussão de sua obra, e com o projeto envolvendo o hip- hop, em 2025 passou a integrar o projeto Arte da Palavra, do Sesc. Nessas atividades, aproveita para divulgar em especial seu livro Entre a diáspora e a pólvora. Nos encontros, deixa a sua mensagem, assimila novas culturas, estabelece parcerias e amplia seus horizontes.

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“O Rio Grande do Sul, e de novo com essa visita a Santa Cruz, me deixou a certeza de que cultura e educação são sementes urgentes, e que a palavra pode ser raiz para o amanhã”, frisa. Além da vinda a Santa Cruz, ao longo do ano esteve em São Paulo (Araraquara, Catanduva, Ribeirão Preto e capital) e Minas Gerais (Uberlândia). No final desse mês, participa da ação Biblioteca Inquieta, promovida pelo Sesc, em Xanxerê (SC). Trata-se de uma residência artística, a partir da qual será elaborado texto a ser incluído em livro cujo lançamento está previsto para 2026.

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Sua obra literária também terá novidades. Ele está com novo livro, Ansiolítico poético, pronto, embora ainda sem previsão de lançamento, bem como deve estrear em 2026 em literatura infantil, com a obra O Pequeno Príncipe Quilombola. “Ansiolítico traz fragmentos de minhas composições de hip-hop e pontua o quanto a literatura foi uma muleta e um amuleto na minha trajetória”, explica.

“Daí o ansiolítico: o quanto a literatura me salvou da depressão e quanto me salvou para contrariar tantas estatísticas. Principalmente porque eu vim de onde vim. A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que para cada 100 mil habitantes o tolerável seriam dez homicídios. Laguna, mesmo sem ter 50 mil habitantes quando saí de lá, batia mais de 20 homicídios por ano, único ranking que lideramos na época na região da Associação de Municípios da Região de Laguna (Amurel). Trago a literatura como esse ansiolítico poético”.

E, em Pequeno Príncipe, parte da perspectiva de que quando era criança nunca teve livros que lhe trouxessem protagonistas como exemplos de superação em trajetórias pretas. “Dentro do que eu lia, era muito difícil esse match, esse encontro. Então, a partir disso, busco contar a história de um Pequeno Príncipe quilombola. É um livro afro-centrado, um livro infantil que busca trazer essa perspectiva.”

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