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CONVERSA SENTADA

Quando o trabalho deixa de ser humano

O mundo sempre mudou, mas raramente com tanta pressa. As transformações tecnológicas que atravessam a economia global não pedem licença: apenas acontecem. Máquinas que aprendem, sistemas que decidem, algoritmos que selecionam vidas e excluem outras – tudo isso se tornou parte de um cotidiano silencioso. E, enquanto a tecnologia avança, o trabalho parece perder o chão sob os pés.

A promessa inicial era sedutora: inovação traria eficiência, e eficiência traria prosperidade. Mas a equação revelou uma assimetria cruel. A automação aumenta lucros, mas não necessariamente empregos; amplia produtividade, mas não garante dignidade. O futuro do trabalho se tornou um território onde muitos chegam, mas poucos permanecem. O que está em jogo não é apenas renda, mas pertencimento.

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A economia digital criou novas hierarquias. No topo, profissionais hiperqualificados disputam vagas em empresas globais, onde a fronteira entre trabalho e vida se dissolve. Na base, milhões enfrentam plataformas que distribuem tarefas como quem distribui migalhas. O “gig worker” tornou-se símbolo de um mercado que valoriza flexibilidade, mas ignora fragilidades. Liberdade, ali, costuma significar ausência de direitos.

Há também um paradoxo inquietante: a tecnologia que aproxima desfaz vínculos. O trabalho remoto libertou trajetos, mas esvaziou encontros. A inteligência artificial acelera decisões, mas reduz espaços de deliberação humana. A produtividade aumenta, enquanto o sentido do trabalho se esgarça. O que se ganha em velocidade perde-se em pertencimento – e nenhum progresso é neutro.

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O impacto, porém, não é igual para todos. Países ricos usam tecnologia para reinventar economias inteiras; países pobres lutam para não ficar para trás. A desigualdade deixa de ser apenas renda e passa a ser acesso: acesso à educação, à conectividade, às competências que definem quem será incluído e quem será descartado. O futuro do trabalho, afinal, não é apenas uma questão técnica – é política.

A grande pergunta permanece: o trabalho continuará sendo o eixo da vida humana? Talvez a resposta não venha das máquinas, mas das escolhas coletivas. Cabe às sociedades decidir se a tecnologia será ferramenta de emancipação ou instrumento de exclusão. Não se trata de temer o futuro, mas de impedir que ele seja escrito apenas em código.

O mundo muda rápido. O desafio é não deixar que a mudança nos desumanize.

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