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CASOS DO ARQUIVO

Quatro anos depois, 14 dos 20 réus da Operação Cúpula estão nas ruas

A manhã de 18 de janeiro de 2019 começou diferente do normal em Santa Cruz do Sul. Da Zona Norte à Zona Sul, mais de 70 policiais civis, incluindo agentes do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), ocuparam os bairros para cumprir dezenas de ordens judiciais. A movimentação cedo gerou curiosidade nos moradores. Mas logo às 7h30, quando duas dezenas de presos foram enfileirados em frente à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) e as primeiras notícias começaram a ser publicadas no Portal Gaz, a população passou a ter ideia do tamanho da ação policial daquele dia.

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Considerada a maior operação da história contra o tráfico de drogas na região, a Cúpula, deflagrada pela Delegacia de Polícia de Vera Cruz, mirou três dos homens apontados pelas forças de segurança como líderes da facção Os Manos na região: Chapolin, Toquinho e Cássio Alves. Este último foi preso naquele dia em um tríplex de luxo avaliado em R$ 1 milhão, no Bairro Avenida. Os dois primeiros já cumpriam pena por condenações em casas prisionais. A operação repercutiu no Estado. “O êxito dessa investigação é não atacar o pequeno traficante, e sim os líderes”, disse na época o subchefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, delegado Fábio Motta Lopes, que acompanhou os trabalhos em Santa Cruz, junto ao então chefe do Denarc, delegado Vladimir Urach. Além do trio de chefes, seus subordinados foram alvos.

Ao todo, 20 pessoas foram indiciadas pelo delegado Paulo César Schirrmann. Passados quatro anos, a Gazeta do Sul relembra a histórica operação na sétima reportagem da série Casos do Arquivo, e conta os bastidores da investigação e como está o processo que tem como réus os acusados de envolvimento com o tráfico. Destes, atualmente 14 estão nas ruas do Vale do Rio Pardo.

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A investigação

A Delegacia de Polícia de Vera Cruz apurava uma ocorrência de tentativa de homicídio em 10 de maio de 2018, quando descobriu como funcionava todo o esquema da facção Os Manos na região, na época. A vítima do atentado era um homem, conhecido no submundo do crime pelo apelido de Baiano. Ele atuava no comércio de drogas em Vera Cruz e foi alvejado por disparos de arma calibre 45 no tórax, na perna e um em cada mão. Posteriormente, foi preso em Santa Cruz do Sul.

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“Começamos a investigar essa tentativa de homicídio. Sabíamos que tinha relação com o tráfico e apuramos que o mandante era o Toquinho e o provável executor era um de seus gerentes. Em cima disso, começamos a ouvir escutas telefônicas interceptadas. Nos diálogos do Toquinho, chegamos a todos os outros envolvidos da facção. Por isso, foi instaurado um inquérito paralelo, além do da tentativa de homicídio, para apurar o tráfico e associação ao tráfico”, comentou um dos agentes que participaram da investigação na época.

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“Era muito diálogo. Naquelas escutas, foi exposta toda a organização criminosa”, complementou. Durante a investigação, o gerente de Toquinho foi flagrado por policiais deixando quantias de dinheiro em uma distribuidora de bebidas na esquina das ruas São José e Gaspar Bartholomay, no caminho entre o Centro e o Bairro Bom Jesus, em Santa Cruz.

O estabelecimento pertencia a Cássio Alves dos Santos, conhecido das forças de segurança por ter assumido a chefia do tráfico no Vale do Rio Pardo após a transferência de Chapolin para uma prisão federal. Esse era o fio da meada que relacionou o trio de chefias. Acompanhando a movimentação de dinheiro na loja de bebidas, a investigação conseguiu provar o envolvimento de Cássio no esquema criminoso. Ele agia como um gerente financeiro da facção, intermediando a troca de droga por dinheiro entre Toquinho e Chapolin.

Toquinho negociava os entorpecentes e mandava entregar para o gerente, que distribuía entre alguns vendedores – parte deles, presa na operação de 18 de janeiro de 2019. Os narcóticos, sobretudo cocaína e crack, eram vendidos principalmente em pontos de Santa Cruz, Vera Cruz e Cachoeira do Sul. O lucro era entregue a Toquinho, que repassava para Cássio, responsável por fazer o dinheiro retornar para Chapolin, segundo a investigação.

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Na época da operação, de acordo com a Polícia Civil, o rendimento da venda de drogas em Santa Cruz era avaliado em cerca de R$ 200 mil por semana somente no Bairro Bom Jesus. Naquele período, os agentes apontaram que ocorreram pelo menos 40 assassinatos vinculados à disputa por espaços de venda de entorpecentes, que hoje são dominados pela facção Os Manos, organização criminosa armada voltada ao narcotráfico e homicídios.

Chapolim absolvido; Toquinho condenado

O processo da Operação Cúpula tem 20 volumes e mais de 2,5 mil páginas. Uma primeira audiência foi realizada em 1º de novembro de 2019, no Fórum de Vera Cruz. Foram ouvidos o delegado Paulo César Schirmann, quatro policiais civis de Vera Cruz e Santa Cruz que atuaram nas investigações e nas prisões e três testemunhas.

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A condução do processo ficou a cargo da juíza Fernanda Rezende Spenner. Conforme o Ministério Público, houve a cisão do processo. Antônio Marco Braga Campos, o Chapolin, de 40 anos, que cumpre pena de 86 anos na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, foi absolvido de todas as acusações no caso da Cúpula, não sendo possível comprovar sua participação, nessa investigação, como líder do grupo criminoso.

Cláudio Mendes Pacheco, o Toquinho, de 44 anos, atualmente preso na Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), em Charqueadas, e alvo inicial das investigações, teve sua participação comprovada nos crimes. Ele terminou condenado a dez anos, quatro meses e sete dias por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Durante a instrução, a defesa do réu Cássio Alves dos Santos contestou e pediu a nulidade das interceptações telefônicas.

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A alegação, segundo a promotora Maria Fernanda Cassol Moreira, seria de que houve problemas técnicos nas escutas. A defesa apresentou perícia de um perito particular. Com base nisso, a juíza solicitou a realização de uma análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP). O material retornou e ainda faltam as partes se manifestarem para sequência da instrução.

“Trabalho diferenciado na nossa região”

A demora na resolução dos processos é algo que chama a atenção em Vera Cruz. O assunto, inclusive, é pauta na subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Santa Cruz do Sul, que responde também pelo município vizinho. A presidente Manuela Braga confirmou à Gazeta que um pedido por uma nova vara judicial já foi encaminhado para a corregedoria do Tribunal de Justiça.

Com mais uma vara judicial, mais servidores e mais um juiz, o andamento dos trabalhos deve ser melhorado e agilizado. Atualmente, são 12 mil processos em andamento no Fórum de Vera Cruz, tendo apenas a juíza Fernanda Rezende Spenner para julgar os casos criminais, civis, previdenciários, empresariais e outros. Além de Vera Cruz, a comarca responde ainda pelos processos de Vale do Sol.

Delegado Schirrmann comandou a histórica operação

O delegado Paulo César Schirrmann, que deflagrou a histórica operação em 2019, quando era responsável pela Delegacia de Polícia (DP) de Vera Cruz, reconhece a morosidade do processo envolvendo os réus da Cúpula, mas salienta outros fatores, além da vara única, que podem afetar o andamento jurídico. “O processo penal tem uma duração longa, envolve atos, formalidades, atuação das defesas dos denunciados com manobras jurídicas. Teve a pandemia também no meio disso para atrapalhar, o que torna difícil dar andamento no processo em virtude dessa falta de melhor estrutura do Poder Judiciário local”, salientou Schirrmann.

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Atualmente respondendo pela DP de Venâncio Aires, o delegado disse ter certeza de que haverá mais condenações na Cúpula. Ele ainda relembrou os detalhes do indiciamento dos grandes líderes da facção. “Foi uma operação importante, apontou a autoria de crimes graves para pessoas com penetração muito grande na escala do crime. Foi um trabalho diferenciado na nossa região, feito por uma delegacia pequena, que angariou provas grandes e conduziu pessoas bastante perigosas ao Poder Judiciário para responder pelos crimes cometidos.”

Três na tornozeleira e 11 em liberdade total

Além de Chapolin, Cássio e Toquinho presos, dos outros 17 indiciados na Cúpula, três (dois homens e uma mulher) estão detidos por outros processos envolvendo crimes como tráfico de drogas e homicídio. Catorze estão em liberdade (oito homens e seis mulheres). Destes, três, incluindo o gerente de Toquinho, investigado por ter tentado matar Baiano em 2018 no fato que deu início à investigação, são monitorados por tornozeleira eletrônica, enquanto os outros 11 estão em liberdade total.

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Cássio Alves foi capturado em um tríplex no Bairro Avenida avaliado em R$ 1 milhão

Conforme as investigações, Cássio Alves, de 34 anos, lidava com o dinheiro da facção ligada ao tráfico e seria o operador financeiro da organização criminosa. Ele, inclusive, fazia a lavagem de dinheiro e era de extrema importância para o grupo. Segundo o delegado regional Luciano Menezes, Alves passou anos preso em decorrência de crimes contra o patrimônio. Foi aí que teria feito amizade com Chapolin.

Em setembro de 2018, foi alvo de uma investigação do Denarc, ocasião em que um carro blindado que seria dele foi apreendido. Cássio dizia ser empresário de jogadores de futebol e proprietário da distribuidora de bebidas, local onde aconteceriam as negociações do tráfico e que foi alvo de mandado de busca e apreensão na época. Após a prisão na Cúpula, Cássio cumpriu prisão preventiva na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).

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Em 10 de junho de 2021, ele recebeu liberdade provisória pela Vara Judicial de Vera Cruz, mas não foi imediatamente liberado pois cumpria prisão preventiva por outro processo que tramitava em Santa Cruz. Porém, em 17 de dezembro de 2021, recebeu o benefício da tornozeleira eletrônica e fixou residência em Capão da Canoa, no litoral gaúcho, onde se estabeleceu como corretor de imóveis.

Chegou a criar um perfil em uma rede social para divulgar o serviço. Entretanto, no dia 24 de agosto, ele rompeu a tornozeleira eletrônica em Porto Alegre, 107 quilômetros distante da área restrita estipulada pelo Poder Judiciário. O perfil nas redes sociais também foi desativado. Pouco mais de quatro meses depois, em 15 de dezembro do ano passado, ele foi recapturado em uma operação secreta.

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O trabalho foi deflagrado pelo Grupo de Diligências Especiais (GDE) da 6ª Subdivisão Policial de Foz do Iguaçu, em um hotel de luxo onde ele estava escondido, na cidade que fica no Paraná, na divisa entre Brasil, Argentina e Paraguai. Sua prisão foi destaque na mídia nacional, que o citou como “um dos maiores traficantes do Rio Grande do Sul”.

Atualmente, ele permanece na Cadeia Pública Laudemir Neves (CPLN) de Foz do Iguaçu, aguardando transferência para o sistema carcerário gaúcho. Como esse processo de Cássio está no aguardo do Judiciário, automaticamente o dos outros 17 réus considerados de menor relevância dentro da facção também está à espera de sequência.

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