O Brasil registrou em 2024 o maior número de feminicídios da série histórica iniciada em 2020. Foram 1.459 casos, segundo o Mapa da Segurança Pública divulgado nesta quarta-feira, 11, pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. O número representa uma média de quatro mulheres assassinadas por dia no país, em contextos de violência doméstica, familiar ou por menosprezo e discriminação de gênero.
Em comparação com 2023, o aumento foi de 0,69%, mantendo a mesma taxa do ano anterior: 1,34 feminicídios a cada 100 mil mulheres. Desde 2020, o número absoluto de casos tem crescido de forma gradual.
Um dos casos que marcaram o período ocorreu no final do ano passado, próximo à rua 25 de Março, em São Paulo. A empresária e influenciadora da área de beleza Gianeriny Santos Nascimento, conhecida como Jane Dom Doca, de 42 anos, foi morta a tiros pelo ex-marido em plena luz do dia, diante de dezenas de pessoas. O suspeito, Denilson Bento, foi preso, e o caso foi registrado na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher como feminicídio.
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Estados e regiões com maiores taxas
Os estados que apresentaram os maiores aumentos nos índices de feminicídio em 2024 foram:
- Piauí: 42,86%
- Maranhão: 38%
- Paraná: 34,57%
- Amazonas: 30,43%
A Região Centro-Oeste segue com a maior taxa do país, com 1,87 feminicídios por 100 mil mulheres, superando a média nacional. Já o Sudeste teve a menor taxa proporcional, com 1,16 casos a cada 100 mil mulheres. Ainda assim, concentrou o maior número absoluto de vítimas: 532.
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Entre os municípios, Rio de Janeiro e São Paulo lideram com 51 casos cada. O Ministério da Justiça ressalta que a análise deve considerar o crescimento populacional. A população feminina brasileira passou de 107.023.935 em 2020 para 108.921.464 em 2024.
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Estupros também crescem e atingem maior número em cinco anos
Os casos de estupro chegaram ao maior patamar dos últimos cinco anos: foram 83.114 registros em 2024, o que corresponde a uma média de 227 pessoas estupradas por dia — 86% das vítimas são do sexo feminino. Desde 2019, o aumento foi de 25,8%.
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Em números absolutos, a Região Sudeste concentrou o maior número de ocorrências, com 29.007 registros. No entanto, a Região Norte apresentou a maior taxa proporcional do país: 62,44 por 100 mil habitantes, seguida pelo Centro-Oeste (57,73).
O estado de São Paulo lidera em número absoluto de casos, com 15.989. Já em termos proporcionais, os maiores índices foram registrados em:
- Rondônia: 87,73
- Roraima: 84,68
- Amapá: 81,96
Em 2023, foram contabilizadas 82.204 vítimas de estupro, o que representa um aumento de 1,06% em relação a 2022 (79.741 casos).
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Para a advogada Maíra Recchia, presidente da Comissão das Mulheres Advogadas da OAB-SP, o avanço desses crimes está ligado a fatores estruturais. “Existe um movimento na sociedade brasileira que nega os direitos fundamentais das mulheres e que está relacionado ao machismo estrutural”, afirma. Ela também destaca a falta de políticas públicas eficazes, reflexo da baixa presença de mulheres na política. “É um contrassenso termos leis como a Maria da Penha e a do feminicídio, mas sem representatividade suficiente para garantir sua plena aplicação”, aponta.
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Mapa também aponta queda em homicídios e outros crimes
O Mapa da Segurança Pública de 2025 também mostra que outros tipos de assassinatos caíram, como o número de homicídios dolosos, por exemplo. Esse tipo de crime caiu 6%, passando de 37.754 vítimas em 2023 para 35.365 em 2024. O indicador vem caindo desde 2020. Foram 97 vítimas por dia, a maioria absoluta (91,95%) é formada por homens.
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Os municípios com mais vítimas são Rio de Janeiro (1053), Salvador (864) e Fortaleza (801). A taxa nacional de homicídios dolosos em 2024 foi de 16,64 por 100 mil habitantes, índice que tem diminuído de forma progressiva desde 2020, quando era de 20,10.
Os estados com maiores reduções de vítimas foram Tocantins (35%), Amapá (28%) e Roraima (24). A análise regional aponta o Sul com o maior índice de queda (12%).
Outros tipos de assassinato também registraram diminuição:
- Latrocínios (roubos seguidos de morte): 972 vítimas em 2023 e 956 em 2024
- Mortes decorrentes de ações policiais: queda de 4%
- Os crimes patrimoniais também tiveram redução:
- Roubo de carga: redução de 13,6%
- Furto de veículo: redução de 2,6%
- Roubo de veículo: redução de 6%
- Roubo a instituição financeira: redução de 22,5%