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FORA DE PAUTA

Recortes de humanidade III

Já escrevi neste espaço que acredito na força do exemplo. Hoje, sobretudo, acredito na força transformadora das nossas trocas e dos nossos afetos. Acredito que estamos, o tempo todo, impactando vidas e pessoas. E é justamente por isso que sempre preferi replicar as coisas boas. Às vésperas da Páscoa, que penso ser mais uma oportunidade para refletirmos acerca do valor da vida e para estarmos perto daqueles que tornam nossos dias melhores, aproveito para compartilhar algumas situações ocorridas recentemente. Espero que faça sentido a você, leitor.

Embora soe como exceção, o que presenciei merece ser aplaudido e contado. Antes de mais nada, defendo que isso deveria ser o básico, a regra, a unanimidade. Mas não é. Recentemente, uma funcionária de um hospital de Porto Alegre me fez lembrar de uma citação bastante conhecida do filósofo Mario Sergio Cortella, que diz “Faça o teu melhor na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores para fazer melhor ainda”. Desde que ouvi essa frase, já há alguns anos, comecei a prestar mais atenção na forma como as pessoas agem e a valorizar tudo aquilo que recebo. Também aprendi a colocar ainda mais cuidado e atenção no que faço e no que ofereço no meu convívio com o outro.

Era início da tarde de uma sexta-feira quando cheguei, já atrasada, no Hospital de Clínicas em Porto Alegre. Meu pai tinha exames agendados lá. Eu e meu irmão fomos com o endereço do setor anotado e com todas as referências conferidas. Quando chegamos, para nossa surpresa, o nome do meu pai não constava na lista de pacientes do dia. Por alguma razão, o médico havia feito o agendamento de maneira diferente da habitual e o nome não fora lançado no sistema. A primeira orientação que recebi foi para me dirigir a dois blocos adiante daquele em que estávamos. Enquanto meu irmão aguardava com meu pai, saí a passos largos tentando desviar do tumulto de pessoas que iam e vinham sem parar.

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Naquela correria, eu só conseguia pensar que o exame precisava ser feito dali a uns poucos minutos e que eu sequer tinha o endereço realmente correto. Peguei novas referências no caminho e cheguei na recepção do setor indicado. Entrei, peguei uma senha e me concentrei em uma parede colorida, estampada com inúmeros triângulos, enquanto esperava uma das atendentes liberar e me chamar para atendimento. Só me restava a paciência, afinal. Ainda haveria a troca de turno dos recepcionistas. Enfim, uma moça de cabelos avermelhados e camiseta roxa me chamou. Passei para o atendimento, expliquei o que havia acontecido e mostrei as conversas de WhatsApp que comprovavam o agendamento do exame para aquele dia. Depois de algumas ligações internas, a moça, enfim, localizou o nome do meu pai e agilizou o que precisava.

Com extremo cuidado e paciência me explicou o que tinha ocorrido, me passou o endereço correto onde o exame seria feito. Era o básico que ela poderia (e deveria) fazer, mas ela foi além. Ela quis fazer mais e melhor. Ela finalizou o atendimento e me disse: “Vou te acompanhar até onde o teu pai e o teu irmão estão e vou levar vocês até o local correto do exame”. E completou dizendo: “Vamos fazer o caminho internamente e assim ganhamos tempo”. Chegamos até a recepção onde meu pai e meu irmão estavam.

E, novamente, ela fez mais e melhor. Por conta própria, saiu em busca de uma cadeira de rodas para conduzir, ainda mais rápido, o meu pai. Nos minutos seguintes, chegamos ao local correto, onde a equipe já tinha recebido, daquela moça, uma ligação de sobreaviso dizendo que estávamos chegando para o atendimento.

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No vaivém de pessoas que circulavam por aqueles corredores lotados, nos rostos que expressavam as dores físicas e emocionais enquanto aguardavam por atendimento, eu só consegui dizer um “muito obrigada, moça”. Chegamos com 15 minutos de atraso no local determinado. Me encaminhei para a nova recepcionista, acenei para a moça e me despedi dela com um sorriso. Ela voltava às pressas para o seu setor de origem para, certamente, atender mais e melhor muitas outras pessoas. Comigo, deixou o impacto da sua generosidade, empatia e humanidade. Silenciosamente, agradeci a Deus pela ajuda recebida, mas senti a necessidade de fazer mais.

Procurei o contato do WhatsApp institucional do hospital para onde eu tinha enviado o comprovante de pagamento, expliquei rapidamente a situação e perguntei o nome da moça que havia me atendido. Ela respondeu dizendo “oi, sou eu, Dienifer”. E eu respondi “só queria te agradecer pela ajuda e dizer que pessoas como tu fazem a diferença no mundo”. E ela? Fez mais e melhor de novo: não só me agradeceu, como ainda desejou melhoras ao meu pai.

Eu torço para seguir encontrando muitas pessoas iguais a Dienifer por aí, pois são elas que nos mostram na prática, como já disse a mentora e palestrante Surama Jurdi, que “ser excelente é fazer o básico bem feito”. Que tal a gente tentar ser excelente também?
Feliz Páscoa!

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