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REPRESENTATIVIDADE

Samanta: uma miss acima de preconceitos

Foto: Alencar da Rosa

O palco é de um concurso de beleza de nível nacional e beldades de 24 estados concorrem a faixas e coroas. Uma moradora de Santa Cruz do Sul pisa na passarela, com vestido longo, preto e brilhante, com uma generosa fenda. Ela desfila sorridente, balança os cabelos escuros e cacheados e arrasta a capa do traje de gala, encantando por onde passa. Ela é Samanta Heinen, de 28 anos, de manequim tamanho 52 e atual Miss Rio Grande do Sul Plus Size, que conquistou no Rio de Janeiro, no último dia 4, a faixa de Miss Plus Size Turismo Nacional. A modelo deseja compartilhar com o maior número de mulheres sua história de amor próprio, superação e uma mensagem de empoderamento e aceitação de todas as diferentes belezas femininas.

Formada em Ciências Contábeis, Samanta é natural de General Câmara e reside em Santa Cruz do Sul desde 2014. Sua jornada de autoaceitação iniciou alguns anos antes, entre 2012 e 2013, quando esteve doente e ganhou peso. O novo corpo e a pressão estética tiveram um impacto significativo na autoestima dela. “Eu sempre dizia que era linda e maravilhosa, desde pequenininha, mas fiquei mal e comecei a usar roupas muito largas”, relembra. Os looks eram compostos todos os dias por leggings, moletons e saias longas e ela evitava comprar calças jeans para não saber o tamanho do novo manequim. A mudança não foi só no tipo de peças, mas também no visual: ela, que antes usava muitas roupas coloridas, agora só queria vestir cores escuras.

Em 2014, percebendo que não estava contente com a situação, Samanta tentou emagrecer. “Fiz de tudo, fiquei sem comer, fiz a dieta da lua, a dieta da sopa, tudo o que puder imaginar. Tomava até laxantes, e na minha cabeça eu iria emagrecer fazendo isso”. Foi quando percebeu que não estava bem, e que a busca descontrolada pelo emagrecimento não era o caminho a seguir. No momento em que começava a compreender e aceitar o próprio corpo, ela descobriu o movimento Plus Size. Através da modelo Fluvia Lacerda, e depois pelo trabalho da blogueira Ju Romano, ela voltou a se ver nos contextos da moda e da beleza, áreas que sempre admirou.

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A representatividade de ver mulheres gordas estrelando campanhas publicitárias, e trabalhando em segmentos antes ocupados apenas por modelos padrão, a inspirou a iniciar sua carreira. “Meu corpo é esse, eu nunca fui magérrima. Então, não adiantava ficar brigando com isso. Foi depois disso que comecei a me gostar, me entender, e fui atrás de um concurso de miss, porque era algo que sempre quis, desde pequena”, relata. Quando conheceu uma competição de Miss Plus Size no Estado, ela sabia que era a chance de realizar esse sonho, sem ser obrigada a emagrecer ou perder sua essência.

O início dos concursos

Samanta se inscreveu pela internet no concurso Miss Plus Size e aguardou retorno. Já estava morando em Santa Cruz, em 2015, quando foi contatada pela organização avisando que havia sido selecionada. Apesar de nunca ter estado em nenhuma competição do tipo, foi até Bagé, onde o evento seria realizado, com a bagagem cheia de ambição. Com apoio e patrocínio da mãe, Marilene, que é até hoje a maior apoiadora nos concursos, surpreendeu-se com as outras concorrentes.

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A candidata de primeira viagem ficou encantada com a variedade de corpos e histórias que encontrou no concurso. “Foi a melhor experiência da minha vida, porque ali eu entendi que realmente eu poderia ser do jeito que eu era. Eu vi tantas mulheres ali, eram 40 e poucas participando, e foi muito enriquecedor”. Mesmo perdendo o concurso, ela conta que se sentiu vitoriosa por conviver com mulheres de todos os tamanhos e ver que ali era seu lugar, prometendo a si mesma que seguiria competindo. Ela foi nomeada Miss Santa Cruz Plus Size em 2015 e 2016, concorreu ao Miss Rio Grande do Sul, ficando em 4º lugar em 2018, e em 2019 foi a grande vencedora, o que a levou para o Miss Nacional Plus Size neste ano.

Falta de representatividade

O espaço dos concursos foi acolhedor, fez Samanta se sentir bem, e a surpreendeu ver mulheres como ela ocupando um espaço que ela pensava ser dominado por mulheres extremamente magras. “Chegar a um lugar que tem um monte de pessoas iguais a você faz você se sentir bem, se encontrar. Até então, eu nunca tinha visto mulheres que fossem como eu em lugar nenhum. Não se vê em uma novela, em um filme, em uma revista, é pouquíssimo”. Além de não ter referências, existem outras limitações, que vão desde a dificuldade de encontrar roupas até situações de preconceito.

Mesmo que a situação esteja melhorando, com mais representatividade na mídia, Samanta alerta que ainda há um padrão, mesmo dentro do plus size. “É preciso ter cintura fina, não pode ter barriga. Então, por mais que a gente tenha evoluído, vemos que a indústria quer um corpo perfeito porque vende mais”.

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Para Samanta, aceitar a própria imagem é um processo. “Não acordei um dia me amando, tem dias em que é difícil e há situações que nos abalam. Foram seis ou sete anos vivendo meu processo de não ficar brava comigo e com o espelho”, disse. A moradora de Santa Cruz conta que sua saúde é uma preocupação constante e por isso realiza exames a cada seis meses e se exercita, realizando caminhadas e andando de bicicleta, mas que não tenta emagrecer apenas por uma questão estética.

No entanto, situações de gordofobia – discriminação baseada no peso – já ocorreram através de comentários nas redes sociais e até em consultórios. “Uma médica disse para mim que eu tenho uma saúde de magra e tentou me elogiar com aquilo. A gordofobia é cultural, a frase mais escutada é ‘você tem um rosto tão bonito, por que não emagrece?’ ou ‘você está tão bonita, emagreceu?”. Samanta já enfrentou críticas de estar romantizando a obesidade, mas salienta que se preocupa em ser saudável e não apoia a perda de peso a qualquer custo, já que a saúde não está necessariamente atrelada ao peso.

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Uma faixa na Cidade Maravilhosa

O Concurso de Miss Plus Size Nacional acabou sendo adiado diversas vezes por conta da pandemia. Realizado no início do mês de dezembro no Rio de Janeiro, atingiu as expectativas de Samanta Heinen. A gaúcha avalia que o evento foi de alta competitividade, com candidatas bem preparadas e que carregam histórias diversas, mas parecidas. “Todas já sofreram preconceito, passam por situações de gordofobia, problemas com parceiros porque as mulheres ganharam peso, problemas com as famílias”, explica.

A miss conta que, independentemente de ganhar, a participação nos concursos é de muito aprendizado e, ao conviver com as outras candidatas, as histórias delas são transformadoras. “Foi uma experiência incrível e uma troca com as meninas de outros estados. Fiquei feliz porque tive muito apoio, voltei de lá com um olhar diferente”. Samanta relata que outras misses passaram por situações difíceis, de não receber apoio para a competição e até de não conseguir trabalho, em função do peso, além de se afastar de relacionamentos e de oportunidades, como viagens.

As candidatas desfilaram com três looks: um traje de gala, um traje típico e um maiô. No caso de Samanta, o traje típico foi um vestido de prenda, que lhe rendeu a faixa de Miss Turismo. Apesar de não ter saído com o prêmio principal, ela comemora o título em reconhecimento à sua beleza, presença de palco, desenvoltura e carisma. “Representa a nossa identidade, me senti muito à vontade representando nosso Estado. Foi o momento em que eu estava mais plena e, para mim, é uma forma de reconhecimento às mulheres do Rio Grande do Sul”, salienta. Para a influenciadora, a faixa é uma oportunidade de conversar com mais mulheres, usar a visibilidade do concurso para ajudar e incentivar outras pessoas.

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Além da mãe, Marilene, a modelo recebe apoio do marido, Lucas, que também incentiva a participação nos concursos. Samanta já realiza, desde o ano passado, trabalhos de publicidade para lojas e pretende investir nisso em 2022, com divulgações nas redes sociais, fotografando para campanhas e catálogos, além de seguir compartilhando a rotina pelo Instagram @samantaheinen.

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