Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

CULTURA

Santa Cruz vivencia o circuito da alta literatura

Foto: Lula Helfer/Banco de Imagens

Antonio Skármeta em sessão de autógrafos em Santa Cruz do Sul, em 2012

A figura do patrono é uma das peças-chave de uma Feira do Livro. Sua figura é tão importante quanto a do rei em um jogo de xadrez, uma figura imponente a partir da qual todas as demais peças se movimentam. Isso porque cabe ao escritor escolhido ser o porta-voz e o rosto da feira, sendo fundamental na divulgação do evento dentro e fora do município. E, mais do que isso, torna-se uma ponte entre o mundo da literatura e o leitor, aproximando os autores e as obras da população por meio de atividades diversas, como palestras, lançamentos e sessões de autógrafos.

Para a 35ª Feira do Livro, coube à escritora Martha Medeiros o papel de patrona. Autora de mais de 20 livros, incluindo Doidas e santas, Trem-bala e Feliz por nada, marcou presença no dia 6, quarta-feira, participando de um bate-papo no auditório central da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), que ficou lotado.

LEIA TAMBÉM: Romancista María Elena Morán é atração da 1ª Festa Literária Internacional neste domingo

Publicidade

Já considerada uma das maiores do Estado, a Feira do Livro de Santa Cruz do Sul tem em sua história a tradição e o empenho de convidar grandes escritores. Especialmente a partir de 2005, ano em que a comissão organizadora passou a trazer para a Praça Getúlio Vargas os mais renomados autores da literatura nacional e internacional. A começar por Luis Fernando Verissimo.

Para os leitores, foi a oportunidade única de conhecer e estar perto dos autores de grandes clássicos e compartilhar com eles o que sentiram ao ler suas obras. E os escritores puderam vivenciar o amor e o carinho do público, além de reconhecer o impacto transformador de suas escritas.

Os relatos falam por si só: nas últimas décadas, a Gazeta do Sul, que desde os primórdios assumiu a missão de divulgar o evento aos quatro cantos, guarda os registros de todos os autores homenageados na feira. E todos, sem exceção, foram honestos ao manifestar uma paixão intensa em torno da feira local.
Isso graças à hospitalidade com que a organização do evento e a população receberam os gigantes.

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Poesia japonesa clássica e antologia com crianças e adolescentes estão entre os lançamentos da Feira do Livro

A visita deles não se resumiu a apenas comparecer à feira. Tmbém lhes foi oferecida uma imersão profunda na cidade, mostrando o que ela tem de melhor a oferecer para o mundo.
Dessa dedicação, grandes parcerias resultaram e histórias marcantes e emocionantes marcaram a vida daqueles que aceitaram a missão de serem patronos da Feira do Livro de Santa Cruz do Sul.

Um patrono internacional

Antonio Skármeta já era um autor de renome internacional quando desembarcou em Santa Cruz do Sul, em 2012, para ser o primeiro (e até agora único) estrangeiro a ocupar a condição de patrono da Feira do Livro. Escritor, cineasta, professor e diplomata (fora embaixador do seu país, o Chile, na Alemanha), Skármeta tornou-se nome conhecido e respeitado em especial a partir do romance Ardente paciência, adaptado para as telas como O Carteiro e o Poeta, título pelo qual o livro também passou a ser referido. Natural de Antofagasta, Skármeta faleceu em 15 de outubro de 2024, aos 83 anos.
Com Santa Cruz, estabeleceu relação de forte amizade. Tanto que retornou no ano seguinte, em 2013, para o lançamento da antologia Nem te conto, na qual colaborou com texto de sua autoria. E em Santa Cruz também firmou parceria com o ator e diretor Selton Mello que resultou na película O Filme da Minha Vida, adaptação de sua novela Um pai de cinema.

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Lissi Bender lança livro de recordações neste sábado

O baianucho feliz

João Ubaldo Ribeiro era um dos mais importantes escritores brasileiros quando foi convidado a ser o patrono da Feira do Livro de Santa Cruz, em 2010, sendo o primeiro grande nome da literatura nacional de fora do Estado a receber essa honraria. Assim, o baiano e a esposa Berenice saíram do Leblon, no Rio de Janeiro, onde residiam, para por uma semana desfrutar do carinho dos leitores e da população santa-cruzense.
Circularam pela praça, pelas ruas, e João Ubaldo concedeu autógrafos e entrevistas, além de participar do projeto Conversas com o Professor, conduzido pelo jornalista Ruy Carlos Ostermann.
Natural da Ilha de Itaparica, foi autor de romances que se tornaram best-sellers, como Sargento Getúlio e A casa dos budas ditosos. Quando de sua vinda, havia concluído O albatroz azul. Faleceu em 2014, aos 73 anos. Na véspera da vinda a Santa Cruz, concedeu entrevista exclusiva à Gazeta do Sul em seu apartamento no Leblon.

A gratidão expressa pelo sax

Luis Fernando Verissimo, com seu jeito tímido e reservado, assumiu o posto de patrono em 2005, durante a 18a Feira do Livro. Ao receber a homenagem, manifestou os desafios de se expressar diante de uma multidão. No entanto, aproveitou o momento para falar da importância do evento santa-cruzense em fomentar o gosto pela leitura, especialmente entre os jovens. “Não tenho jeito para falar em público, mas sempre aceito quando me convidam para feiras do livro. Acho importante esse contato do escritor com o leitor. É uma maneira de a gente participar da luta pela leitura”, disse.
Já no palco do Teatro Mauá, o público pôde testemunhar outro talento de Verissimo. Empunhando seu saxofone, expressou sua gratidão à cidade em uma marcante apresentação da sua banda, a Jazz 6. Ao longo dos anos, em várias ocasiões Verissimo veio à cidade, tendo sido inclusive convidado como paraninfo de formatura de Jornalismo.

Publicidade

Um imortal da ABL na praça

Moacyr Scliar era um daqueles escritores gaúchos apaixonados por Santa Cruz do Sul. O autor dos clássicos O centauro no jardim, A mulher que escreveu a Bíblia e Max e os felinos nutriu carinho todo especial pelo município. Por isso, ao ser convidado para ser patrono da 20a Feira do Livro, em 2007, sentiu-se honrado por isso vir de uma cidade que, segundo ele, tem forte tradição cultural, reconhecida em todo o Rio Grande do Sul. “Se neste paraíso eu sou o patrono, então não tenho mais o que pedir”, comentou.
Além de receber uma homenagem na praça, Scliar lotou o teatro do Colégio São Luís para grande espetáculo artístico. Respondeu às questões dos leitores e sugeriu aos que escrevem que não escondam seus textos. Por muitas vezes agradeceu a oportunidade de fazer parte do evento. ”Melhor que isso, só o Prêmio Nobel”, afirmou. Scliar faleceu em 2011, aos 73 anos, e foi imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL).

LEIA TAMBÉM: A casa da gente

O poeta da Amazônia

Thiago de Mello recebeu ao longo de sua vida várias homenagens e reconhecimentos nacionais e internacionais. Nessa trajetória, o amazonense, autor de Faz escuro, mas eu canto e Mormaço na floresta, tornou-se patrono da 24a Feira do Livro, em 2011. Durante sua estadia, afirmou ter vivenciado momentos muito agradáveis na cidade, especialmente com leitores e público em geral na Praça Getúlio Vargas.
Admitiu ter ficado “fascinado” com o ambiente urbano, sobretudo a área central, onde participou de sessão de autógrafos e passeou junto às bancas de livreiros, em torno do chafariz. Mencionou o Túnel Verde de tipuanas da Rua Marechal Floriano, que disse lembrarem-lhe das árvores de sua Amazônia natal. Sua presença foi marcada ainda por um inesquecível bate-papo, com o auditório da Unisc completamente lotado, na presença do jornalista Ruy Carlos Ostermann. Thiago faleceu em 2022, aos 95 anos.

Publicidade

Sorrisos de Afonso (e Marina)

Affonso Romano de Sant’Anna foi patrono da 26a edição da feira, em 2013. Acompanhado da esposa, a também escritora, italiana-brasileira, Marina Colasanti, visitou Santa Cruz e impressionou-se com a gastronomia local. Sua presença na feira começou com homenagem na Praça Getúlio Vargas. No mesmo dia, lotou o auditório central da Unisc para bate-papo mediado pela professora Fabiana Piccinin.
Affonso e Marina chamaram a atenção pelo tratamento carinhoso que deram às crianças que acompanharam a visita nos dois dias na feira. Maravilhado com o município, ele disse que queria arrumar um momento de folga na agenda apertada para desbravar Santa Cruz. Ressaltou que fora erro não ter visitado o município antes. “Não sei por quê, nunca tinha vindo a Santa Cruz. Com certeza foi um erro.” Affonso faleceu no dia 4 de março deste ano, aos 87 anos, um mês depois da morte de Marina, em 28 de janeiro, também aos 87 anos.

O biógrafo de sucesso

Lira Neto, biógrafo responsável pela trilogia de livros sobre o ex-presidente Getúlio Vargas, foi o patrono da 28a Feira do Livro. Entre as atividades em Santa Cruz, participou de um bate-papo mediado pelos então professores Demétrio de Azeredo Soster e Olgário Vogt, da Unisc. Reconheceu o nível das discussões com a plateia, considerando as perguntas instigantes e pertinentes, sobretudo relacionadas ao ofício do escritor e o papel do jornalismo. “Foi enriquecedor.”
Após dois dias em Santa Cruz, o escritor disse ter ficado satisfeito com sua presença nas atividades e nos encontros com leitores proporcionados pela feira. Manifestou ainda que esperava ter contribuído com a história do evento literário. “Saio daqui com a certeza de que vou retornar para conhecer mais a cidade, andar mais pelas ruas e sentir esse calor humano”, enfatizou. Cearense de Fortaleza, Lira é também autor do recente Oswald de Andrade: mau selvagem.

LEIA TAMBÉM: VÍDEO: entre centenas de títulos, clássico conquista leitores na Feira do Livro

Tabajara, entusiasta da cuca

Tabajara Ruas, autor de Perseguição e cerco a Juvêncio Gutierrez, O amor de Pedro por João e A cabeça de Gumercindo Saraiva, entre outros, foi patrono da 30a edição, em 2017. Durante dois dias, o renomado artista gaúcho, também cineasta, participou de atividades nas quais interagiu com leitores e fãs de cinema. Ao longo dos anos, retornou várias vezes à cidade. Quando patrono, entre as atividades constou a exibição do seu filme Os Senhores da Guerra, em sessão especial da Associação Amigos do Cinema, com direito a bate-papo. Já no dia seguinte, esteve na Praça Getúlio Vargas para ser homenageado no palco principal, além de passear pela feira e conversar com o público.
Além de enaltecer a comunidade santa-cruzense, a qual chamou de “culta e progressista”, Tabajara elogiou a tradição da feira. E fez brincadeira com a culinária local. “Tenho ótimas lembranças daqui, sempre me dão aquele bolo: a cuca.”

As lágrimas de Letícia

Letícia Wierzchowski, autora de A casa das sete mulheres, Uma ponte para Terebin e Um farol no pampa, foi patrona da 33a Feira do Livro, em 2022. A porto-alegrense esteve na noite de abertura do evento e salientou a importância da literatura na vida das pessoas, especialmente frente ao contexto da pandemia, então em p´lena ocorrência. “Nesse período em que todos nós estivemos afastados das pessoas de que gostamos e também da nossa rotina, nunca foi tão claro para todos o quanto as histórias podem salvar”, disse.
Na visita, apresentou o romance Deriva, que havia sido lançado um mês antes. Homenageada por alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Duque de Caxias, ficou emocionada com a apresentação e deixou cair lágrimas após a fala dos estudantes. Mais recentemente, Letícia publicou ainda Por onde o tempo passa, livro de crônicas sobre a passagem do tempo.

De Cuba, com amor

TERESA CÁRDENAS foi uma das escritoras a integrar a programação da 1a Festa Literária Internacional, em paralelo à 35a Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, neste ano. A autora cubana, responsável por obras como Cachorro velho e Cartas para a minha mãe, passeou na tarde de quinta-feira pelos principais cartões-postais do Centro e ficou maravilhada com o que viu. O fascínio foi tamanho que chegou a perguntar sobre o valor do aluguel de imóveis.
Ao chegar na Praça Getúlio Vargas, admirou o chafariz no coração do espaço e registrou-se diante da Catedral São João Batista. O ponto alto foi o bate-papo com o público, que marcou presença, apesar do clima frio e da chuva. Teresa, atualmente radicada no Rio de Janeiro, falou de coração aberto sobre os temas que perpassam sua obra, do racismo às heranças malditas da escravidão. E agradeceu pelo amor e carinho que recebeu na feira. “Levarei isso comigo.”

LEIA MAIS DE CULTURA E LAZER

quer receber notícias de Santa Cruz do Sul e região no seu celular? Entre no nosso NOVO CANAL DO WhatsApp CLICANDO AQUI 📲. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça agora!

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.