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ENTREVISTA

Sirmar Antunes: “Ainda não somos protagonistas de nossas histórias”

Foto: Rafaelly Machado

Sirmar morava na Casa do Artista Riograndense

A presença do negro em mídias, como o cinema e a televisão, vira debate em Santa Cruz do Sul com a exposição Pretos na Tela, da fotógrafa Dulce Helfer. O trabalho, feito com base em três filmes de Tabajara Ruas, foi responsável pela vinda do ator Sirmar Antunes à cidade. Ele apresentou a obra da artista e já integrou elenco de produções como A Casa das Sete Mulheres e Netto Perde sua Alma. Recentemente, no Festival de Cinema de Gramado, ganhou o prêmio Leonardo Machado, em comemoração aos 47 anos de profissão.

Antunes entende que a exposição dá visibilidade ao que é feito pelos negros. “Nos coloca com um poder de fala muito bom, nos torna mais visíveis. A mídia, durante séculos, tenta, através da sociedade, nos inviabilizar. Essa mostra é o contrário”, destaca.

O mesmo, acredita Antunes, deveria ser feito em produções cinematográficas e nas empresas de comunicação que trabalham com dramaturgia. Ele reforça que os negros são 57% da população brasileira, mas não ocupam esse espaço em filmes e novelas, por exemplo. “Só vai ter a cara do Brasil quando tivermos mais negros, os povos representados, os indígenas, os alemães, os italianos, todos os povos que compõem esse País, que é continental e multiétnico, representados no cinema, na televisão.”

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Acrescenta que houve evolução, mas ainda é preciso mudar muito. “Ainda não somos protagonistas das nossas histórias. Está faltando um pouco. O negro precisa ter mais força para fazer suas produções, além de escrever, produzir e contar suas histórias.” Ressalta que o negro tinha espaço, mas sem lugar de fala, apenas aparecendo em novelas de época como escravizado ou subalterno.

Em entrevista à Gazeta do Sul, Antunes fala sobre o negro na mídia, o reconhecimento por sua trajetória nas artes e anuncia presença no Festival de Cinema de Santa Cruz do Sul e a possibilidade de integrar elenco de um filme produzido na cidade. E, para quem quiser conferir a exposição Pretos na Tela, ainda dá tempo. A mostra com fotos de Dulce Helfer se encerra amanhã na Casa das Artes Regina Simonis.

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ENTREVISTA

Com a possibilidade de retorno das atividades, o senhor está participando de algum projeto?

Cheguei a fazer alguns trabalhos, principalmente neste ano. Foram lives, peça de teatro, um curta todo feito online. Retornei, agora, ao set de filmagens, para a segunda temporada da série Chuteira Preta, do Paulo Nascimento, que vai ao ar, ano que vem, no Amazon Prime.

O ator se adapta aos personagens, mas deve ter sido bem diferente ter que se adaptar à produção feita online. Como fez?

É muito estranho. Estamos reaprendendo a fazer. O cinema é algo feito em equipe, cada um tem suas tarefas. Diminuir essa equipe ao máximo, e você fazer a cena – para, fala no Whats com a direção, volta, retorna, faz outro – é um exercício diferente. Mas nos engrandece quando vemos o resultado final. Tem uma coisa muito forte que é o ângulo de câmera. Como fazer isso a distância? É um pouco mais difícil, mas é prazeroso.

Para o senhor, quais os trabalhos de maior destaque?

Os trabalhos são como filhos. Os personagens que a gente faz são muito ciumentos. Cada um deles quer ser o melhor. Mas tem dois que acredito que tenham abrangência um pouco maior. O filme Lua de Outubro, de Henrique de Freitas Lima, em 1997, e, em 2001, Netto Perde sua Alma, do Tabajara Ruas, que me rendeu prêmio nacional. Penso que os dois são ícones dentro da minha trajetória.

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E sobre a exposição da fotógrafa Dulce Helfer: qual a importância em dar protagonismo para o negro nas artes?

Não canso de falar para amigos e para todos que essa iniciativa nos chega como um carinho, respeito muito grande. Nós, povo negro do Sul, que estamos retratados nessa exposição, temos o compromisso com a visibilidade, com a representatividade. Nos coloca com um poder de fala muito bom. Nos torna mais visíveis. A mídia, durante séculos, tenta, através da sociedade, nos inviabilizar. Essa mostra é o contrário. Nos torna visíveis, palpáveis, nos torna realmente um produto artístico ao alcance da mão de quem queira esse produto, que são os artistas negros. Vem em um momento muito oportuno, por conta de onde foram pinçadas essas figuras, que são três filmes do Tabajara Ruas. Ele aproveita esse potencial artístico da negritude e nos coloca em seus filmes em papéis importantes, de destaque, com personagens que digam alguma coisa, que tenham poder de fala.

O senhor percebe o negro mais presente na mídia, atualmente?

A tendência é a mídia em geral, cinema e TVs, aceitar esse apelo que a sociedade faz. Somos 57% da população e não vemos 20% na mídia. Só vai ter a cara do Brasil quando tivermos mais negros, os povos representados, os indígenas, os alemães, os italianos, todos os povos que compõem esse País, que é continental e multiétnico, representados no cinema, na televisão. Ainda não somos protagonistas das nossas histórias. Está faltando um pouco. O negro precisa ter mais força para fazer suas produções, além de escrever, produzir e contar suas histórias. Nós sabemos o que nos deixa felizes. Isso contado por outras pessoas, no momento que estou feliz, não parece tão real, como se fosse eu contando. Mas estamos chegando lá. As emissoras de TV, que trabalham com teledramaturgia, estão vendo esse caminho, de colocar o artista em lugar de fala, não apenas em novelas de época em que o negro é escravizado ou subalterno. Ele pode fazer o escravizado ou o subalterno, mas todos os outros também. Mais uns aninhos e chegaremos lá para curtir essa realidade.

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E como o senhor avalia o apoio ao cinema gaúcho a partir da realização de festivais, como em Santa Cruz do Sul?

Tenho acesso a várias cidades com festivais. Acho muito importante, porque, normalmente, são cidades com universidades com cursos voltados ao cinema. Aqui é bastante conhecido e, provavelmente, estarei no próximo festival, no final de novembro. É uma iniciativa muito grande, porque colabora com o cinema gaúcho e da região, porque o cinema é uma forma de divertir a pessoa, mas também levar a reflexão. Se for de uma forma bem contada, vai ajudar os jovens a entender a sociedade que nos rodeia. Então, o festival de Santa Cruz do Sul é muito importante, ajuda a fomentar a cultura e ampliar o fazer cinematográfico. As cidades que possuem universidade e têm o curso de cinema plantam muito mais fazedores de cinema. Isso é muito bom!

Além de estar no Festival, em Santa Cruz, o senhor pode nos dar algum spoiler sobre projetos?

O trabalho que tenho certo é para o ano que vem, no próximo filme do Tabajara Ruas: Perseguição e Cerco a Juvêncio Gutierrez. Também para o próximo ano, um longa chamado Casa de Campo, que não posso falar além disso. Vai estrear a nova temporada de Chuteira Preta, no Amazon Prime; e fui convidado, antes de vir para cá [Santa Cruz], pelo diretor Felipe Muller, para fazer um curta aqui, que provavelmente será realizado antes do final do ano, início do ano que vem.

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