Ando pela Feira do Livro e sempre encontro algo que eu já procurava ou, no mínimo, sei que iria buscar em algum momento. Nos últimos dias, deparei com Diário de um ano ruim, romance do sul-africano J. M. Coetzee (autor que tenho lido bastante); Enclausurado, do britânico Ian McEwan; e Homem invisível – o clássico de Ralph Elisson, não de H. G. Wells. Na história de Ellison, o protagonista é um negro que se sente “invisível” por circunstâncias além de seu controle.
Ontem saí da praça com A estrada, do ucraniano Vassili Grossman (1905-1964), livro que reúne seus textos como correspondente na Segunda Guerra Mundial. Agora que a guerra novamente é o cotidiano em vários lugares do mundo, inclusive na Ucrânia de Grossman, não deixa de ser leitura pertinente. Agora: na quarta-feira, 6 de agosto, completaram-se 80 anos desde o lançamento da bomba atômica em Hiroshima.
No filme japonês Black Rain (“Chuva Negra”), de Shohei Imamura, um personagem que sobreviveu à bomba escuta, no início dos anos 1950, notícias sobre o possível uso de armas nucleares na Guerra da Coreia. “O ser humano é incorrigível”, diz para si mesmo. E ele poderia afirmar isso hoje, com o mesmo desânimo, diante da frequente “chantagem atômica” entre Estados Unidos e Rússia. Nada de essencial mudou.
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Ando pela Feira do Livro e gosto da atmosfera. Em nenhuma outra ocasião do ano, a Praça Getúlio Vargas parece tão cheia de vida. Pessoas circulam, conversam, reencontram-se. E ninguém está em guerra com ninguém (pelo menos em tese). Há quem considere a literatura inútil. Mas a guerra é útil? Para quem?
“A importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós”, escreveu certa vez o poeta Manoel de Barros. Réguas e fitas métricas não dão conta de medir grandezas assim. E, embora seja difícil falar de encantamento e beleza hoje em dia, chega uma hora em que todos precisamos disso. Sempre há o momento em que buscamos algo além de “correr atrás da máquina”, de comprar, vender, convencer, sobreviver.
Como diz ainda Manoel, na sua Biografia do orvalho: “Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu preciso ser Outros.”
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No que ele está correto. O mundo já está cheio, farto de homens ocupadíssimos no seu trabalho de separar e exterminar Outros.
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