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JOSÉ ALBERTO WENZEL

Terras raras e ganâncias comuns

Mendeleev, um professor de química russo, sentiu a necessidade de organizar numa tabela os 63 elementos químicos então conhecidos. Antes dele, Döbereiner (1780-1849) havia disposto os elementos em tríades, enquanto Chancourtois (1819-1886) optara por um formato espiralado. A seguir veio Newlands (1837-1898), que se inspirou nas notas musicais para sequenciar os elementos químicos. Outros cientistas, a exemplo de Meyer (1830-1895), fizeram suas tentativas assim como as contribuições de Marie Curie (1867-1934) foram decisivas para a melhor compreensão dos elementos. 

Poderíamos, em alongada listagem, retroceder a Demócrito (460-370 a.C), o filósofo que acreditava no átomo e no vácuo e que, por certo, nem sequer imaginaria que um dia seriam conhecidos 118 elementos químicos, distribuídos como os dispomos hoje. Mas, depois de Mendeleev (1834-1907), Moseley (1887-1915) organizou a tabela de acordo com o número de prótons, ou seja, o número atômico dos diferentes elementos, ao invés da massa atômica utilizada pelo meritório Dmitry. Todavia, há algo incomum na proposta de Dmitri Ivanovitch Mendeleev. 

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Certo dia, após trabalhar sem descanso, ele adormeceu e sonhou com a solução. Ao acordar teria chegado à organização, em colunas e linhas, de sua tabela periódica. Mais do que elencar organizadamente os elementos, o químico russo deixou espaços vazios em sua tabela. Não apenas isso. Dmitri previu que seriam descobertos elementos que se encaixariam nesses espaços deixados. Imaginemos os desafios, paciência, labor, razão e intuição daqueles que fazem ciência…

Entre os desafios na organização dos elementos, segundo suas propriedades, encontram-se as “terras raras” (Escândio, Ytrio e Lantanoides), situadas no grupo 3 da atual Tabela Periódica. Hoje, os 17 elementos que compõem as “terras raras” assumem condição estratégica, sendo fundamentais em celulares, painéis solares, carros elétricos, turbinas, ímãs e, infelizmente, também em aparatos bélicos. O termo “raros” tem muito a ver com a dificuldade de exploração.

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 Ainda hoje, a tabela, para não ficar alargada demais, situa os Lantanoides e também os Actinoides em dois “locus” separados, que se abrem estendidos logo abaixo da tabela em si, como se fossem um apêndice. 

Mas o que se alargou mesmo foi a volúpia dos humanos por metais como o ouro e tantos outros. O ouro segue reluzindo nas mentes aficionadas pelos metais, mas já não brilha tanto. As terras raras, a exemplo do Praseodímio e Neodímio, puxam a frente dos interesses atuais. Todavia, o que mobiliza os poderosos de plantão não é a organização científica dos elementos, mas seu valor comercial. Para isso cavam buracos travestidos de retaliações, conflitos internacionais e pouco ligam para o bem- estar da coletividade planetária. Se foi longo o caminho para definir a tabela periódica, mais estendido se faz o percurso para a solidária coexistencialidade planetária. Em 1871, Mendeleev publicou a versão revisada de sua tabela criada em 1869. 

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Quando respiraremos nossa versão aprimorada da vida, ou seguiremos sendo percebidos, por alguns, como apêndices de tabelas comerciais? Qual o sonho que acalentaria Mendeleev hoje? Como Demócrito conceituaria o vácuo à luz do atual conhecimento? Talvez relacionasse com o vazio existencial que mobiliza egoísmos, arrogâncias, guerras e tarifaços.

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