Na sétima arte, o gênero do terror é o mais favorável para pegar filmes bem-sucedidos e transformá-los em franquias. Muitas continuações optam por seguir um caminho mais confortável, sem arriscar, apenas repetindo a fórmula do original. Afinal, se gerou retorno financeiro, por que alterá-lo?

Porém, O Telefone Preto 2 ousou ir na direção contrária, subvertendo as expectativas e proporcionando uma história que expande o universo estabelecido no primeiro título. Contudo, o anúncio de uma sequência deixou todos surpresos: o filme original, de 2021, encerrava com o Sequestrador (Ethan Hawke), um assassino serial que assassinava crianças em seu porão, morto por Finney, sua última vítima. Assim, como seria possível trazer o vilão psicopata de volta?

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No entanto, o diretor e roteirista Scott Derrickson (O Exorcismo de Emily Rose) traz uma resposta plausível dentro do universo estabelecido na obra anterior. Uma vez que os espíritos das crianças mortas pelo Sequestrador ajudaram Finney (Mason Thames) – comunicando-se com o garoto por meio do telefone preto instalado no porão –, o assassino poderia continuar o seu trabalho no mundo sobrenatural.

Por mais absurdo que seja a premissa, quem tem na memória o original não ficará de queixo caído com a escolha. Mas Derrickson vai além e inverte os papéis, deixando Finney como um personagem coadjuvante (mas não menos importante), enquanto sua irmã, Gwen (Madeleine McGraw), assume o protagonismo. 

A garota manifestava visões em seus sonhos, assim como a mãe, e foram fundamentais para salvar o irmão mais velho. Anos após a morte do Sequestrador, ela começa a ter pesadelos com outras crianças mortas, em uma floresta rodeada por neve. Após descobrir que o local dos sonhos é um acampamento cristão, ela e o irmão vão até lá para entender o que está acontecendo. Assim descobrem uma conexão entre o assassino, que quer vingar-se de Finney a todo custo matando sua irmã.

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Por ser uma premissa fortemente relacionada ao anterior, não há como ir ao cinema assistir a O Telefone Preto 2 sem ter visto o primeiro. Para aqueles que conferiram no ano do lançamento, é uma oportunidade para rever o original e lembrar-se de pontos-chave da premissa.

Além da guinada nos rumos do universo, a continuação aperfeiçoa certas questões. Uma delas é o terror. A troca de ambientação, de um porão para um acampamento, torna tudo mais ameaçador e aterrorizante, gerando excelentes cenas de terror para o espectador pular da cadeira.

Há de ressaltar o elenco do filme, sobretudo os rostos já conhecidos. Madeleine consegue assumir muito bem o posto de protagonista como Gwen. Por sua vez, Mason pode deixar alguns frustrados pelo seu distanciamento. Traumatizado pelos horrores do sequestro, o jovem está perdido, com dificuldades de se abrir com aqueles ao seu redor sobre o que viveu naquele porão. 

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O ponto alto, entretanto, é Ethan Hawke. O Sequestrador já era ameaçador como um ser humano assassino. Mas agora, no mundo sobrenatural, ele consegue aterrorizar ainda mais, de modo que sua presença é sentida pelo espectador ao longo de todo o filme. E suas aparições, ainda que breves, são quase como uma recompensa aterradora.

Talvez o único defeito da obra está justamente no roteiro. Em franquias, há uma tentativa de estabelecer uma conexão entre os heróis e vilões, criando uma relação em algum fato do passado. E O Telefone Preto 2 acaba indo para esse caminho, soando muito forçado e tirando um pouco o brilho do anterior. 

Nada disso, entretanto, atrapalha a sessão. Com uma atmosfera aterrorizante e uma guinada ousada, o filme poderia se tornar uma referência de continuação. Sem dúvida, uma experiência assustadora para se ver no cinema.

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