Com 36 anos, Maria* vive há quatro anos e meio atrás das grades do Presídio Regional de Santa Cruz. O período é mais da metade do tempo de vida do seu filho caçula. Ela divide a ala destinada às mulheres com outras 27 presas. Assim como a maioria delas, chegou lá após ser presa por tráfico de drogas. Mas na tarde dessa sexta-feira tudo isso ficou temporariamente para trás. Junto com outras 11 mães, deixou a penitenciária para um momento especial. Na sede da Polícia Federal, encontrou-se com aqueles que fazem com que ela queira voltar logo ao convívio da família: um menino, de 8 anos, e uma garota, de 16.
A tarde de atividades foi aguardada com ansiedade durante semanas. Desde que foram informadas sobre o Projeto Inspira, que propiciou às apenadas este momento em alusão ao Dia das Mães, começaram a contar dos dias. Um dos requisitos para poder participar da ação é o bom comportamento. A medida, conta Maria, serviu como forma de tornar o convívio mais tranquilo. “Todas às vezes que alguém começava a discutir a gente lembrava do projeto. Ajudou nisso também. Todo mundo queria participar”.
Além de melhorar o comportamento das detentas, para a organização do projeto, a ação tem um significado ainda maior. Reestabelecer o contato entre mães e filhos, que muitas vezes permanecem distantes no período do cumprimento da pena, é uma forma de incentivá-las a se reintragrem ao convívio da sociedade e não voltarem a cometer crimes. “O que mais faz falta para nós é o contato com os filhos. É bem importante estar com eles num outro ambiente”, confirma Maria.
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A tarde de atividades foi aguardada com ansiedade durante semanas. Foto: Bruno Pedry
Além das atividades lúdicas e educativas, como brinquedos e espaço para pintar, as 22 crianças, com idade até 14 anos, também tiveram a oportunidade de conhecer o trabalho da Polícia Federal, inclusive com demonstrações com cães, e acesso a serviços odontológicos. Também foi servido um lanche especial para as mães e os pequenos. O objetivo da organização do projeto é que novas ações sejam realizadas em outras datas comemorativas, como o Dia da Criança e o Natal.
“Nossa ideia é não ficar só nessa tarde. É ampliar. Queremos espalhar essa ideia de que pode ser diferente. Para que as crianças não vejam a polícia como inimiga. E assim possam seguir um outro caminho, longe do crime. E as mães possam refletir e pensar antes de cometer um novo erro ”, explica a delegada da Polícia Civil Raquel Schneider, uma das idealizadoras do projeto em Santa Cruz.
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O Projeto
A ideia colocada em prática em Santa Cruz surgiu a partir de um projeto realizado em Santa Maria, pela Polícia Federal. A delegada Raquel Schneider foi uma das incentivadoras da ação em Santa Cruz. Assim que conheceu o projeto de Santa Maria, passou a fazer contatos para que o município também pudesse ter um atividade desse tipo. O projeto realizado pela Polícia Federal conta com a parceria da Polícia Civil, da Susepe, da Defensoria Pública, do Conselho da Comunidade, da Brigada Militar, da Prefeitura e do Poder Judiciário.
*O nome usado nesta reportagem é fictício para preservar a entrevistada e sua família.
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