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CONVERSA SENTADA

Uma amizade de décadas (2)

Conforme prometido, vou contar o que aconteceu com meu amigo nos idos de 1964.

Rui Sulzbacher morava na casa da Uesc na Rua Tomás Flores, no Bairro Bom Fim, em Porto Alegre. No dia 1º de junho de 1964, dirigiu-se à Faculdade de Direito da Ufrgs por volta das 19 horas. Ao entrar no portão, foi abordado por dois agentes do Dops que lhe deram voz de prisão. Levaram-no até a casa da Uesc e procederam a uma revista no seu quarto. Encontraram o que na época se chamava de “farto material subversivo”, a saber, livros da literatura russa e o pior: um livro intitulado de Memórias póstumas de Brás Cubas. Teria Machado de Assis alguma ligação com Cuba?

Foi levado à sede do Dops e de inhapa levaram junto seu companheiro de quarto e diretor da casa.

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Vou me ater ao que aconteceu com Rui, contado por ele mesmo.

Rui e o diretor da casa foram presos em torno das 20 horas e torturados a noite toda, liberados na sexta-feira seguinte, dia 5, graças à intervenção do falecido deputado conterrâneo Siegfried Heuser, patrono da casa do estudante santa-cruzense (Cesc).

Essas prisões foram manchetes nos jornais de Porto Alegre.

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Evidentemente, o nome de Rui foi para todos os órgãos policiais e o SNI.

A partir daí, tudo começou a ficar difícil para ele.

No concurso do Ministério Público Estadual, a sua inscrição foi liminarmente negada. No concurso de juiz adjunto, tendo passado nos exames escrito e oral, após o veto da Secretaria de Segurança, foi “reprovado” no exame psicotécnico. No concurso do ano seguinte, ele foi logo “reprovado” no exame oral.

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Acabou se inscrevendo no concurso para procurador da República. Nessa foi bem em todas as provas, mas encontrou, de novo, o entrave pela “ficha de subversivo”. Graças à família Degrazia, de Itaqui, que tinha excelentes ligações com as altas esferas do poder, lhe foi concedido tomar posse.

Eu mesmo, que acompanhava o drama de Rui, pedi ao meu amigo general Heraldo Tavares Alves que intercedesse para que Rui assumisse.

Passado o período de exceção e com a volta da democracia, Rui foi atrás e conseguiu localizar os documentos que comprovaram o que agora refiro.

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Atualmente Rui está aposentado e mora num sítio em Florianópolis.

Comigo, por aquela época, aconteceu um fato hilário.

Eu estava no quarto ano do Direito, na Ufrgs, e no recreio, conversando com colegas, disse que estava mais que na hora de termos uma democracia. Alguém deve ter ouvido e mais tarde isso me trouxe problemas antes de assumir um cargo público, qual seja o cargo de juiz de direito.

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Mas isso é assunto para outra crônica.

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