O inverno teve início na última quarta-feira, 21, mas as temperaturas começaram a cair antes disso. Já no outono, quem sofre com problemas como rinite e sinusite começou a sentir os efeitos da mudança do tempo. É um período em que as farmácias enchem as prateleiras mais expostas aos clientes com antigripais, analgésicos e suplementos vitamínicos. Desses últimos, um dos mais comuns e que mais facilmente pode ser achado é a vitamina C, em cápsulas ou comprimidos efervescentes “sabor laranja”. Mas, afinal, a vitamina C ajuda mesmo no combate a resfriados e na prevenção de gripes?

Segundo o médico pneumologista e professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Rui Gustavo Dorneles, desde que o ácido ascórbico – ou vitamina C – foi isolado, na década de 1930, ele tem sido matéria de grande interesse em pesquisas científicas, inclusive para prevenção e tratamento de infecções respiratórias. “Dezenas de estudos clínicos foram feitos e os resultados sempre foram conflitantes: alguns mostrando benefício, outros não”, afirma o profissional da saúde.
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Para tentar esclarecer essa dúvida, em 2013 foi publicada uma revisão sistemática da literatura, que é uma compilação de dados de estudos anteriores. “Uma das análises, que incluiu quase 11 mil pacientes, mostrou não haver benefício da vitamina C para prevenção de gripes e resfriados na população geral; outra análise, com mais de 7 mil pacientes, mostrou discreta redução do tempo da duração dos sintomas das infecções naqueles que já tomavam vitamina C regularmente”, explica Dorneles. Ou seja, o estudo mostrou que, se há algum benefício da substância no organismo humano a fim de evitar e prevenir gripes e resfriados, essa ajuda é muito pequena.
Ele acrescenta que, para a população geral, os reais benefícios da vitamina C em matéria de prevenção e tratamento de gripes e resfriados são muito discretos, quando existentes. Contudo, há exceções. “Quando estudamos populações expostas a situações extremas, como ultramaratonistas, esquiadores profissionais e militares durante operações, uma importante redução dos episódios de infecções respiratórias foi observada, na casa dos 50%.”
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Algumas frutas cítricas desta época, como laranja e bergamota, são ricas em vitamina C e também são associadas à prevenção de resfriados e gripes. A ingestão desses alimentos, claro, é positiva, mas contar somente com elas para aumentar a imunidade não adianta. Conforme Dorneles, é preciso ter um cuidado amplo com a saúde durante todo o ano e não apenas nas estações mais frias. “A melhor maneira para evitar gripes e resfriados é manter-se o mais saudável possível, e isso todos sabemos como fazer. Tratar comorbidades, alimentação balanceada, manter bom padrão de sono e a prática regular de atividades físicas, por exemplo, são fundamentais.”

Mas como surgiu a história?
O pneumologista e professor da Unisc conta que, provavelmente, o mito de que suplementação com vitamina C previne ou cura gripes e resfriados surgiu na década de 1970. Nessa época, Linus Pauling, famoso químico americano, publicou um livro sobre o assunto no qual defendia os benefícios do uso da vitamina C na prevenção e tratamento das infecções respiratórias.
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A pesquisa de Pauling foi além, e ele chegou a afirmar que a vitamina C poderia prevenir o câncer. Defendeu que a ingestão de mil miligramas da vitamina diariamente reduzia a incidência de resfriados em 45% para a maioria das pessoas. Na reedição do livro, em 1976, ele sugeriu doses ainda maiores. Porém, não foram apresentadas evidências científicas para isso.
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