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Ideias e bate-papo

Volta às raízes

Desde a eclosão do verdadeiro tsunami que seguiu-se às denúncias de fraudes na produção de carne na semana passada, procuro me colocar no lugar do pequeno produtor rural de todo o País.

É uma categoria de trabalhadores que permanentemente enfrentam uma gama enorme de agruras no dia a dia: são as oscilações de mercado (interno e externo), humores do clima (estiagem/enchentes, além do frio/calor extremos), a incompreensão de quem deveria zelar por seus interesses e um sem-número de obstáculos para ter o direito de produzir.

Nasci na colônia. E depois de mudar para a zona urbana passei a frequentar, na companhia da minha mãe, as chamada feiras do produtor. São mostras onipresentes no interior do Rio Grande do Sul, numa vitrine do potencial do setor primário dos municípios.

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É ali, naquele espaço de bate-papo e pechincha, que o consumidor trava contato direto com alimentos produzidos por gente pessoalmente comprometida com a comercialização de sua produção. Por isso, essas pessoas mantêm o compromisso de qualidade, afinal, em caso de alguma falha, elas falam cara a cara com o consumidor.

Esses pequenos produtores são obrigados a cumprir inúmeras exigências para efetivar as suas vendas. Obviamente que a fiscalização deve ser rigorosa, mas não raro esbarra no excesso de legalismos quando o bom-senso indica a necessidade de flexibilização. Muitos agricultores são obrigados até a contrair empréstimos bancários para se adequar à lei a fim de se igualarem às grandes indústrias do setor.

Aí um agricultor tenta vender um queijo, uma geleia, um torresmo ou uma morcilha na cidade e não pode porque não tem o selo do Ministério da Agricultura. Se ele for pego é multado e os produtos vão para o lixo, por serem “impróprios para o consumo humano”. No domingo, recebi essa mensagem de uma amiga conterrânea. Talvez alguns a considerem exagerada, mas diz muito da rotina dos produtores.

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Logo depois do estouro da operação denominada Carne Fraca pela Polícia Federal, soube que em Lajeado a feira do produtor está com os dias contados, resultado das dores de cabeça causadas pelo excesso de formalismos. Ninguém defende a venda indiscriminada e descontrolada de produtos sem as exigências mínimas de higiene e respeito à lei, mas impõe-se equilíbrio, como em tudo na vida.

A proliferação de fraudes envolvendo comestíveis de largo consumo talvez sirva para valorizar ainda mais os produtos rurais de pequena escala. Seria uma espécie de resgate, de volta às raízes, que talvez não atenda à demanda integralmente. Mas será uma garantia de qualidade e respeito à saúde dos consumidores.

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