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Mesada não é só dinheiro

O educador financeiro, autor de livros e criador da DSOP – Educação Financeira, Reinaldo Domingos, lançou, recentemente, seu mais novo livro: Mesada não é só dinheiro.  A obra é resultado de uma ampla investigação científica, realizada pelo autor, e que serviu de base para seu mestrado e doutorado, desenvolvidos na Florida Christian University, em Orlando, nos Estados Unidos. Destina-se, nas palavras do autor, “a todos aqueles que estão à procura de orientações sobre um tema pouco discutido e estudado no Brasil: o despertar para uma consciência financeira na vida de crianças e de jovens, com base na estruturação do sistema de mesada”.

Há poucos dias, o calendário de eventos marcou o Dia da Criança. Além dos negócios que motivam o dia especial  que, neste ano, tiveram o pior resultado em cinco anos, a data sugere que se façam outras considerações. É que crianças e dinheiro é uma combinação cada vez mais precoce. Um belo dia, sem que os pais ou responsáveis se darem conta, a criança que mal consegue articular algumas  palavras ou frases, mas que, por natureza, é curiosa e presta atenção em conversas e situações, entende que existe dinheiro, sabe quem o tem e que com ele pode comprar coisas coloridas, divertidas e gostosas. Está chegando a hora, então, de acordo com a maturidade da criança, a começar a educação financeira.

Pessoas de mais idade – jovens há mais tempo, como gosta de dizer o escritor e palestrante  citado  anteriormente  –,  lembram que se acreditava em papai Noel e cegonha por mais tempo, às vezes até  já entrando na adolescência. Hoje, as crianças cada vez mais cedo não acreditam mais nessas estórias; em contrapartida, elas acham  que para ter dinheiro basta chegar num terminal eletrônico, inserir um cartão magnético, digitar alguns números e, pronto!  A máquina joga várias cédulas, às vezes ainda com jeito e  cheirinho de novas.

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Preconceito com o dinheiro – Uma das primeiras questões da mesada diz respeito ao preconceito que ainda existe, em alguns casos, com relação ao dinheiro. Muitos pais ou responsáveis pensam que ao falar sobre dinheiro com os filhos poderiam estar correndo o risco de  sobrevalorizar o dinheiro. É evidente que a prioridade de nossa vida não pode ser o dinheiro. Entretanto, se não lhe dermos a atenção suficiente, cedo ou tarde, as confusões financeiras vão roubar a energia e tempo que deveriam ser usados para ir atrás de objetivos  mais importantes que o dinheiro. Como alguém já disse, “o dinheiro não aceita desaforo”.  Uma das maneiras, então, de introduzir a criança no mundo do dinheiro é através da mesada.

O que é a mesada –  É uma quantia mensal, quinzenal, mas, também, pode ser semanal ou diária, principalmente quando a criança ainda não tem noção do tempo, que os pais ou responsáveis dão a seus filhos ou enteados para atender a determinados gastos, previamente negociados e estabelecidos. A função principal é ensinar à criança ou jovem a preparar e cumprir um orçamento, isto é, a mesada existe para treinar o hábito financeiro de fazer dinheiro, gastar e poupar desde pequeno. Somente entregar o dinheiro para o filho, dizendo que é mesada, ainda não é educá-lo  financeiramente. Antes disso, pode ser uma maneira de livrar-se da chateação de, a toda hora, ter que alcançar algum dinheiro para a criança ou o adolescente. É importante saber que ao decidir pela mesada, os pais ou responsáveis precisam orientar e acompanhar a criança e adolescente em relação ao uso do dinheiro.  Faz parte dessa orientação, a recomendação para que a criança e adolescente poupem uma parte da mesada para realizar algum sonho maior e, também, doem para alguma finalidade social.

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Quando começar – Outra questão diz respeito à idade em que a criança pode  passar a receber a mesada. Não existe uma resposta única entre os especialistas. Tudo depende:  da maturidade, da capacidade financeira da família e, principalmente, da negociação entre pais/responsáveis e filhos. Na verdade, quem determina a hora de começar a falar sobre dinheiro é a própria criança. Perto dos 3 anos, às vezes até um pouco antes, tem crianças que já percebem de que o dinheiro existe,  que com ele é possível ter acesso às coisas e de que os pais ou responsáveis possuem esse dinheiro. Certamente,  a partir dos 5 ou 6 anos toda a criança já está madura para colocar  algumas notas de dinheiro na carteirinha. 

O valor da mesada – Definir o valor pode ser complicado. Uma dica seria trocar ideias a respeito com outros pais para que o valor esteja na média das outras crianças e adolescentes. Outra dica é dar o suficiente para que possam arcar com as despesas e fins combinados, de forma que tenham que fazer algum esforço de controlar gastos e poupar para comprar alguma coisa de valor maior.  A  educadora financeira Cássia de Aquino sugere  que dos  6 aos 10 anos se dê  R$ 1 por idade, por semana; dos 10 aos 13 anos, a quantia já seria entregue mensalmente e deve ser suficiente para os gastos com lanches na escola, cinema, jogos, brinquedos; a partir dos 13 anos, a mesada deve cobrir todos os gastos que  os filhos ou enteados tem fora de casa, inclusive viagens com amigos e as baladas. Tudo vai depender, evidentemente, das condições financeiras da família. É importante, também, a mesada ser entregue no dia combinado.

O que deve cobrir a mesada? Esta é uma questão que, provavelmente, está gerando mais polêmica entre pais e especialistas. A maioria dos especialistas entende que a mesada deve cobrir despesas que a criança ou o adolescente tem, como lanches na escola, ônibus, cinema, guloseimas,  festas com amigos e colegas, etc., cujo valor pode ser apurado, anotando-se durante 30 dias todos os desembolsos realizados para pagar despesas do filho ou enteado. Claro que aqui não entram as despesas de vestuário, alimentação, saúde, cursos, etc. do filho ou enteado, mas, tão somente, aqueles gastos próprios de uma criança ou adolescente. Claro que não se deve, também, ser tão rígido, dando liberdade para que a criança administre sua mesada e aprenda com eventuais erros.  A maioria dos especialistas também insiste que a mesada  não deve ser condicionada à obtenção de  boas notas na escola ou execução de  tarefas domésticas. Para o bem estar de uma família as tarefas essenciais à organização de um lar, quando executadas por algum de seus membros, não devem jamais ser remuneradas, sob pena de formarem-se pessoas mesquinhas ou consumistas demais. Na contramão dessa ideia, um pai adotou  em sua casa um método, muito criticado por especialistas em educação financeira, mas que fez muito sucesso nas redes sociais. Esse pai criou uma tabela em que estabeleceu descontos por cada “mau comportamento” dos filhos, durante o mês. Para cada tipo de falta, foi estabelecido um valor a ser descontado da mesada: esquecer as luzes acesas custa R$ 0,50; desobedecer ao pai ou à mãe  é falta grave e custa R$ 3. O pai, que é juiz de direito, acha que é importante que os filhos entendam desde cedo que, por exemplo, quando entrarem no mercado de trabalho,  faltar ao expediente sem justificativa,  será descontado, quando não implicar em demissão.

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Nessa linha que alguns acham maluquice, um livro americano – SMART MONEY SMART KIDS -, best seller do New York Times, e escrito por um pai – Dave Ramsey – com sua filha –  Rachel Cruze -, recomenda que, em vez de dar mesada, os pais paguem aos filhos pela realização de algumas tarefas domésticas. Isso significa que se a criança ou adolescente trabalha, ele recebe; se não trabalha, não recebe.  É claro que se deve  levar em consideração as possibilidades, limitações e idade dos filhos. Os autores do livro acham que a mesada é basicamente entregar dinheiro aos filhos sem que eles façam nada para merecê-lo. Já com a remuneração por tarefas realizadas, os pais estão ensinando às crianças que o dinheiro vem do trabalho e não da carteira do pai ou da mãe.

Se a mesada não chega?  Uma das virtudes da mesada, quando bem dosada,  é  fazer com que os filhos experimentem o susto e a angústia quando quebram, isto é, quando  o dinheiro acaba antes do previsto. Além do mais, pode alertar aos pais que  o valor estipulado para determinadas despesas é pouco ou pode significar que a criança ou o adolescente está gastando seu dinheiro com outras coisas. O que não pode é complementar a falta de dinheiro com muita frequência  ou adiantar um valor para descontar da mesada seguinte, provocada pela má administração da mesada,  pois estaria  criando pessoas com tendências ao endividamento ou de achar que pode gastar sem limites pois sempre tem alguém para resolver seu problema financeiro. Houve o caso, entretanto, em que o pai percebeu que o filho estava fazendo “milagres” com a mesada, pois conseguia comprar coisas que o valor da mesada não permitiria. Indo um pouco mais a fundo, o pai descobriu que o filho estava usando a mesada para alavancar negócios com a venda de drogas.

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Já para os autores americanos, Dave Ramsey e Rachel Cruze, citados anteriormente, se os filhos gastarem demais terão que se virar, fazendo algum trabalho para amigos ou vizinhos, para cobrir as despesas. Recomendam, ainda, que os pais abandonem longas conversas sobre disciplina financeira. Que pratiquem um comportamento adequado a  todos os momentos e  em todas as compras que realizam para a casa, explicando o que compraram, por que compraram e como se avalia o verdadeiro valor do que se comprou, pois aprende-se mais com os exemplos do que com conversas.

Não poder conceder ou ter que cortar a mesada -– A mesada não pode ser encarada como obrigação. Ela é um instrumento para a prendizagem financeira e quando a família resolve instituí-la é importante ter consciência desse objetivo. Entretanto, pode acontecer que a situação financeira da família entre ou passe por uma crise – a perda do negócio ou do emprego de um dos pais -, quando poderá ser necessário tomar medidas desagradáveis ou até drásticas, como o corte de gastos que pode incluir a mesada. É claro que os pais ou responsáveis devem resolver os problemas sozinhos, pois discussões e incerteza só deixam os filhos angustiados, mas sem deixar de explicar a situação.

Outras formas de aprender educação financeira –  Uma delas é ajudar na hora de fazer as compras do supermercado, começando ainda em casa com a elaboração da lista de itens que precisam ser repostos, ou, então, encarregar a criança do acompanhamento da vriação de preço de determinado produto. Outra, no planejamento de uma viagem, os  filhos podem, por exemplo, realizar as pesquisas do preço de passagens, hotéis, participando, inclusive, da negociação de eventual corte de algum passeio  para manter o custo total dentro de um limite possível. Tem, ainda, a questão dos impostos, presentes  em qualquer produto, inclusive  brinquedos, e que não são brincadeira. Num console de videogame, por exemplo, o preço final embute 84,25% de impostos; nos iPods, os impostos representam 52,25% do valor do preço; até uma simples bola de futebol carrega uma alíquota de impostos de 47,25%.

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Erros comuns na concessão da mesada –  Reinaldo Domingos comenta, em seu livro Mesada não é só dinheiro, sete pecados capitais da mesada  que podem prejudicar  o objetivo  de educar financeiramente os filhos: 1º) desequilíbrio – acriança não deve guardar todo  o dinheiro para realizar algum sonho maior; 2º) violação – jamais pegar emprestado o dinheiro que a criança está guardando; 3º) ruptura – não ficar com pena do esforço que a criança está fazendo para juntar dinheiro e comprar  o objeto que ela está querendo; 4º) permissão – dizer não quando a criança pedir mais dinheiro porque gastou  a mesada antes de receber a próxima: 5º) desmedida – a mesada não pode ser usada como prêmio, nem como castigo: 6º) remuneração – a mesada não é salário por tarefas realizadas; 7º) sonegação – ensinar as crianças que tudo que compramos deve vir com nota ou cupom fiscal.

Uma boa educação começa em casa, inclusive quando o assunto é finanças. É importante entender que a mesada, independente da periodicidade – mensal, quinzenal, semanal ou diária -, é apenas um instrumento, uma ferramenta para a criança ou adolescente começar a mexer com o dinheiro. A primeira e, talvez, a principal é ser um bom exemplo. De nada adianta ficar dizendo que não tem dinheiro para comprar isso ou aquilo que a criança quis e, depois, voltar com sacolas de compras que para a criança não fazem sentido.  A geração dos atuais adultos, com poucas exceções, não teve oportunidade de aprender educação financeira porque, simplesmente, não existia nas famílias e nas escolas tal disciplina. Muitas pessoas conseguiram suprir essa carência por iniciativa própria. O certo é que, igual a tantas disciplinas, a Educação Financeira também se aprende.  E um lugar apropriado é a escola. Hoje, existem inúmeras iniciativas nessa área, a maioria delas, entretanto, restritas às finanças pessoais, isto é, mostrar como montar uma planilha de orçamento, não gastar mais do que ganha, a poupar, dicas de investimentos, etc. Todas voltadas a recomendações técnicas. Já a  DSOP – Educação Financeira, presente em mais de 1.500 escolas públicas e privadas do país, vai muito além. Além de reconhecer a importância das finanças pessoais que trata de números, cálculos e matemática, a metodologia DSOP foca o comportamento que as pessoas devem ter com o dinheiro. O mentor da DSOP, Reinaldo Domingos, acredita que, com a implantação da metodologia nas escolas, prefeituras, associações  e empresas, além da adoção individual ou familiar do programa, está contribuindo para uma mudança de comportamento das pessoas em relação ao uso e à administração de seus recursos financeiros e para a formação de uma sociedade mais consciente e sustentável.

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