O que você faria com um prêmio de R$ 32 mil? O valor pode não ser suficiente para resolver as ambições materiais de uma vida, mas sem dúvidas é útil para adquirir um carro, comprar móveis, viajar… ou montar uma biblioteca. Esta última foi a opção da bibliotecária Rosária Garcia Costa. Responsável pela Biblioteca Pública Municipal Caá Yari, ela foi recompensada com uma premiação neste valor e decidiu montar um espaço apropriado para ler. Um lugar que levasse um pouco das ideias e do jeito de ser dela e dos membros do grupo de leitura do Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS II), os grandes beneficiados com a iniciativa.

A premiação foi recebida no último mês de dezembro. O dinheiro veio do Ministério da Cultura, através de edital que premiava as boas práticas de leitura, promovidas por grupos ou pessoas físicas dentro de bibliotecas públicas em todo o Brasil. Rosária decidiu inscrever o projeto de seu grupo de leitura com pacientes do CAPS II, que iniciou em 2006. O trabalho foi classificado como o 3º melhor do Estado e o 11º do país, o que a habilitou a receber o prêmio, que seria distribuído, igualitariamente, aos 30 mais bem colocados em nível nacional. O edital previa apenas que os premiados recebessem o valor, como recompensa pelo que já haviam realizado, sem necessidade de prestar contas ou investir em novas iniciativas. Mas a bibliotecária quis ir além.

“Eu queria fazer um espaço de leitura como sempre imaginei”, conta ela, servidora pública do Município há 11 anos. A ideia de montar uma biblioteca particular, na própria casa, chegou a lhe passar pela cabeça, mas os vínculos afetivos construídos pela convivência com seus companheiros e aprendizes prevaleceram. E a ideia de um espaço individual se transformou num local coletivo, onde os membros do grupo pudessem ler e retirar livros. “A hora que passamos juntos, em nossa sessão semanal de leitura, é tão tranquila e leve que pensei ser justo deixar um legado a essas pessoas”, analisa. “Em algum tempo posso me aposentar, sair da cidade, morar na praia, mas este espaço continuará”, filosofa a bibliotecária, numa alusão a Rio Grande, sua cidade natal.

Com o dinheiro em mãos, Rosária organizou a montagem do espaço, em uma sala no próprio prédio do CAPS II, na rua Visconde do Rio Branco, centro da cidade. O dinheiro foi usado para equipar o ambiente, a partir da temática “Mar de Histórias – Espaço de Leitura do CAPS II”, escolhida pelos usuários. As pinturas em grafites das paredes e cadeiras de praia que compõem o ambiente foram feitas e adquiridas norteadas por este pensamento. Os cerca de 300 livros comprados também tiveram a influência de quem utiliza o local. A Bíblia, o romance “O Pequeno Príncipe” e o livro de terror “O Iluminado” são dos títulos que compõem o acervo a partir de pedidos dos leitores que agora frequentam o espaço.

Depois de mais de meio ano de trabalho, chegou a vez da inauguração, ocorrida não por acaso num dia sintomático: o 20 de julho, sempre lembrado pela passagem do Dia do Amigo. Numa sessão especial, ela leu o conto “As Estrelas do Mar”, interpretou, agradeceu e deu as boas-vindas aos seus colegas do novo espaço. A forma solidária como investiu o valor de seu prêmio fez Rosária repetir a dose: a gratidão e o bem-estar que o novo espaço de leitura vai proporcionar aos usuários do CAPS II não cairão no esquecimento de quem é seu aluno e também amigo. Um sentimento cujo valor está além do que o dinheiro é capaz de pagar.
 
SAIBA MAIS

O grupo de leitura se reúne todas as quartas-feiras, durante uma hora e está entre as ferramentas de assistência aos usuários do CAPS II. O órgão voltado à saúde mental, conta hoje com 1,7 mil usuários ativos em Venâncio Aires. Desde abril deste ano, o projeto de sessões literárias foi estendido ao Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD), que abrange atendimento a pessoas em recuperação pelo uso de substâncias químicas. As sessões também são semanais e com uma hora de duração, acontecendo todas as sextas-feiras.