Com a aproximação da estação mais fria do ano, cresce a procura por iguarias típicas do período. Um dos preferidos pelos consumidores é o pinhão. Porém, com a perda na qualidade da produção por conta de fatores como estiagem e desmatamento, o preço deve pesar para o consumidor.
De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios dos Vales do Rio Pardo e Taquari (Sindigêneros), Celso Müller, nesta temporada o pinhão vem do Paraná e de regiões do Rio Grande do Sul. “O empresário que se antecipou e já colocou o produto nas gôndolas trouxe de fora do Estado. No Paraná, encontramos um produto de melhor qualidade e, por consequência, com um preço mais elevado”, explicou.
Müller relatou que a tendência é que haja uma queda no valor da semente nos próximos dias. “Com a chegada do frio, cresce a procura pelo pinhão. Boa parte dos supermercados da cidade fez encomendas para produtores e entidades do Rio Grande do Sul. O produto do Estado não tem uma qualidade tão apreciada, logo o preço deve cair também”, projetou.
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Pesquisa
Na tarde do último sábado, 2, a Gazeta do Sul visitou oito supermercados de Santa Cruz do Sul para conferir o preço do pinhão na gôndola. Em dois estabelecimentos visitados o produto não foi encontrado, mas em um deles, segundo atendentes, deveria ser reposto nesta semana. O menor preço encontrado pela reportagem foi de R$ 12,90 e o maior, de R$ 18,90. Na média dos demais estabelecimentos, o valor esteve entre R$ 13,90 e R$ 14,90.
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Vilões são a pressão sobre as florestas e o clima difícil
Conforme o engenheiro agrônomo e extensionista da Emater/ RS-Ascar de Passa Sete, Anderson Mateus da Silva, o clima não contribuiu nos últimos três anos no período de floração das araucárias, árvore que produz a semente (pinhão). “A planta tem por instinto a perpetuação da espécie, e faz isso por meio das sementes. Com a floração irregular, a produção de semente do pinhão vermelho e branco tem sido inferior”, explicou.
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Segundo o engenheiro agrônomo, neste ano a produção do pinhão vermelho é baixa, mas razoável dentro do esperado, tendo em vista o clima ruim no período da floração. Já no caso do pinhão branco, a tendência é que seja abaixo do esperado. Há expectativa de que a semente não tenha boa qualidade.
Anderson Mateus da Silva reforçou que no período de floração houve dias nublados e com garoa, o que propicia a criação de microclimas nas copas das árvores. “A estiagem que castiga há quase seis meses influenciou diretamente na produção. A semente hoje não tem vigor, são chochas. Além de pouco aproveitáveis para o consumo, se forem plantadas não têm potencial para desenvolverem uma árvore de qualidade”, avaliou o extensionista.
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Outro fator que tem contribuído para a queda da produção é a redução da população de gralhas azuis no Rio Grande do Sul. “Essa ave tem por hábito enterrar as sementes para consumir em períodos de escassez de alimentos. Quando ela fazia isso, a semente tinha condições de germinar e brotar, formando um novo pé”, explicou Anderson da Silva. A pouca presença da gralha azul restringiu muito o aparecimento de novas florestas e matas nativas com a araucária. “Além disto, mesmo sendo imune ao corte, é uma espécie que sofre muita exploração. As florestas estão reduzindo.”
O engenheiro agrônomo também afirmou que onde há monocultura, como soja ou arroz, a queda da produção de pinhão pode chegar a 40%. “Na nossa região a população tem uma consciência diferente. Eles entendem que é preciso conservar esta árvore. Meu neto vai comer pinhão: assim como eu estou desfrutando de um benefício dos meus familiares, meus netos também vão comer. Eu busco preservar.”
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